Celebração

Dia do livreiro: conheça histórias de profissionais que juntam obras e leitores

Nesta segunda-feira (14/3) é comemorado o dia desses profissionais que ajudam leitores a encontrarem as obras do gosto de cada um. Apesar dos avanços das mídias digitais, milhares de brasilienses preferem sentir o contato com o papel proporcionado apenas pelos livros

Bernardo Guerra*
Paulo Martins*
Arthur Ribeiro*
postado em 14/03/2022 06:00
Agostinho Marcelino considera os livros como seus amigos. Ele começou a trabalhar como livreiro em uma loja na Universidade de Brasília -  (crédito: Divulgação Correio)
Agostinho Marcelino considera os livros como seus amigos. Ele começou a trabalhar como livreiro em uma loja na Universidade de Brasília - (crédito: Divulgação Correio)

A sensação de prazer ao terminar uma história, virar as páginas a cada novo capítulo e de apreciar a beleza das capas é inigualável. Apesar de perder espaço para mídias digitais, os livros mantém seu valor e acumula milhares de apaixonados. Nesta segunda-feira, 14 de março, se celebra o dia livreiro, o profissional que faz ligação entre as obras e os leitores.

Desde os 19 anos atuando na área, Agostinho Marcelino, hoje com 64, é fundador da Só Livros. A trajetória começou em uma livraria dentro da Universidade de Brasília, uma das mais tradicionais da capital do país, A Nossa Livraria de Brasília. Íntimo dos livros, Agostinho fala com carinho daqueles que considera seus companheiros. "Eu gosto muito de conversar sobre livro, porque, além de ser cultura, é um amigo. Eu acho que todo mundo deveria ter o livro como amigo. Eles têm muito a nos ensinar. Tudo que eu aprendi foi com um livro. Muita gente fala como se fosse só uma mercadoria. Eu falo como se fosse um amigo. Então é uma paixão mesmo", admite.

Para lidar com a concorrência e as mudanças nas tecnologias, o livreiro precisou se adaptar. Ele criou a Só Livros em 1998. Depois, se mudou para uma loja maior, a atual, localizada na 407 Norte. Entretanto, em 2009, com a popularização de outras livrarias, Marcelino começou a trabalhar com livros usados. Com isso, foi possível desenvolver um diferencial para o estabelecimento, que hoje conta com 90% de usados no acervo.

Ofício para a vida

Desde aquela época, ele usa a plataforma Estante Virtual para vender livros. O modelo, segundo Marcelino, é responsável por dar mais visibilidade à loja. "Não é que vende muito, ela ajuda, porque acaba divulgando o ponto. Quem entra lá (na Estante Virtual) vai buscar perto, aí, muitas vezes, aparece a livraria. De qualquer maneira, nós estamos sendo divulgados. A gente paga caro, é uma taxa fixa e mais uma comissão de 12%. E, ainda, tem mais a taxa do cartão e o imposto. Então acaba ficando muito pesado, mas, de qualquer maneira, vende, por isso a gente se mantém lá", explica.

Paula Alencar, 48, é dona da Cope Livros, com marido, e se diz muito grata pela função de livreira. A paixão vem de família, ela é nora de Petrúcio Carvalho, engenheiro que fundou, há 25 anos, a livraria na qual ela trabalha. Dessa forma, Paula pretende seguir a tradição e passar este amor para seu filho, Wendell, 26.

O jovem explica sobre a herança da matriarca e a reinvenção da livraria com a modernidade. "Minha mãe é uma influência direta, claro. O meio virtual toma muito espaço no mercado e tende a tomar ainda mais. Com isso, fica mais difícil para a gente. É necessário se adaptar, e estamos fazendo isso, mas não será uma tarefa fácil", detalha Wendell Alencar.

Tecnologia

Paula avalia que o acesso fácil aos livros virtuais ofusca os exemplares físicos. Reflexo disso é a queda na procura das obras durante a pandemia. Ela teme que o abandono dos livros físicos e a falta de incentivo possa levar sebos e livrarias a fecharem as portas, como aconteceu nos momentos mais críticos da crise sanitária da covid-19.

Do outro lado da bancada, Luca Lourenço, 19, tem uma relação de afinidade com sua livreira de confiança, Paula. "Sou muito amigo dela e passo por lá sempre que posso. Ela me recomenda livros que sabe que eu posso gostar, afinal, ela conhece meu gosto. Não só eu, como outros leitores passam por lá e são amigos, mais do que só clientes da Cope, justamente por essa relação de amor aos livros", ressalta o rapaz.

Para Luca, os livros são um refúgio sem igual, sempre os carrega para onde vai, e eles o fazem se sentir melhor. Até por isso, o jovem aconselha as gerações futuras a seguirem com o apego pelas obras físicas. "Particularmente, gosto do contato físico que o livro proporciona, o tato direto, o passar das páginas, tudo isso. Mas não vejo essa evolução de todo ruim, porque é de uma praticidade e uma portabilidade considerável, sem falar que as obras são mais baratas", conclui o jovem.

* Estagiários sob a supervisão de Guilherme Marinho

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