Urbanismo

Má iluminação leva sensação de insegurança a moradores da Asa Norte

O bairro é um dos que mais sofrem com furtos de cabos de energia, segundo a CEB. Residentes e trabalhadores relatam sensação de insegurança e admitem que evitam sair à noite por medo de crimes

Rafaela Martins
postado em 12/05/2022 05:45
Mark Cunha, morador da 112/113 Norte tem de se exercitar no escuro, devido à iluminação precária -  (crédito:  Carlos Vieira/CB/D.A Press)
Mark Cunha, morador da 112/113 Norte tem de se exercitar no escuro, devido à iluminação precária - (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

"A iluminação aqui está muito defasada e muitas vezes nem tem. Na rua que nós moramos, sentimos que somos vítimas", relata uma microempresária, de 33 anos, que pediu para não ter o nome revelado. A moradora da 711 Norte tem um comércio na região, o estabelecimento foi assaltado recentemente, e ela teme represálias. Passados 62 anos da inauguração de Brasília, a sensação de insegurança, ao anoitecer, de quem vive ou trabalha na Asa Norte é um problema vivido há décadas.

Por volta das 19h, a microempresária não sai mais de casa para passear com a filha, de 1 ano e quatro meses e nem para jogar o lixo fora. "Como eu tenho uma bebezinha e preciso passar pela rua escura, eu me sinto refém. A falta de luminosidade ajuda quem quer fazer maldade a se esconder, e falta policiamento, pois vários comércios já foram roubados aqui. Vemos carro de polícia até as 22h, depois disso não tem", pondera. Ela ressalta que furtos e sequestros têm acontecido na Asa Norte e avalia que a iluminação precária contribui para o cenário violento.

Apesar de ter um movimento intenso de moradores e veículos, a 112/113 Norte sofre com postes de luz apagados. O funcionário público Mark Cunha, 52, costuma aproveitar o anoitecer para praticar atividades físicas na área, mas reclama da falta de iluminação. "Moro, nesta quadra, há cinco anos e nunca colocaram um poste de luz nesse circuito de malhação. Tarde da noite, eu não ando aqui, porque, de certa forma, é perigoso, o posto de gasolina que tem na rua e traz um pouco de luz, fecha cedo. Se tivesse alguns refletores, quem caminha, corre, passeia com os cachorros, certamente, se sentiria mais seguro. Mesmo com alguns postes de luz na quadra, elas não alcançam aqui", detalha.

Vendedor de cachorro quente na 109 Norte, Mateus Chaves, 22, conta que é comum histórias de crimes na região. "Eu vejo um monte de cliente que chega aqui dizendo que o carro foi roubado, que o vidro foi quebrado, inclusive esses dias, levaram as rodas de um veículo, aqui, na quadra onde trabalho. A maioria fala que precisava de uma iluminação melhor, e isso afeta diretamente minhas vendas. Tem moradores que não descem, e os que descem sentem medo", lamenta o comerciante.

Os furtos de cabos de energia são recorrentes na Asa Norte, segundo a CEB Iluminação Pública e Serviços (CEB Ipes), e colabora para a sensação de insegurança na região. "As quadras mais atingidas pelos furtos de cabos de iluminação pública são aquelas mais próximas dos eixinhos. Em especial, na altura da 4 até  a 10 Norte, além da Ponte do Braguetto. Ao perceber uma movimentação próxima aos equipamentos da CEB de pessoas não uniformizadas ou com veículos sem identificação, a população deve denunciar por meio dos telefones 190 e 155", informou a CEB, por meio de nota.

De acordo com o especialista em segurança pública e privada Leonardo Sant'Anna, quanto menos luz em um local, mais oportunidades surgem para a ocorrência de um crime. "Uma iluminação precária ou inexistente cria cinco fatores de sucesso para quem tem o objetivo de cometer um delito: um ponto de esconderijo para os bandidos, um local de emboscada para os marginais, uma área dificultadora de visibilidade para um possível socorro, dificulta a identificação de quem realizou o crime e exige maior investimento em segurança eletrônica", enumera.

Sant'Anna defende que, para resolver a sensação de insegurança de moradores e trabalhadores de áreas mal iluminadas, é necessário que a comunidade trabalhe junto ao poder público. "Acredito que o Governo do Distrito Federal e instituições privadas devem promover situações e trazer tecnológicas sociais que aumentem a participação social e, junto com isso, fazer investimentos em relação a iluminação e outras modernizações da arquitetura dessas regiões, que podem ir de simples podas de árvores a inovações para estacionamentos", argumenta o especialista.

Medidas

A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) informou que viaturas do 3º Batalhão são divididas todos os dias em duas equipes, de 12 horas, uma diurna e outra noturna para resguardar a população da Asa Norte. A corporação destaca que há outras equipes em horários diversos para analisar locais e situações específicas, como paradas de ônibus e manifestações. A PM lançou o programa Rede de vizinhos Protegidos — em que, por meio de um grupo no WhatsApp, os moradores podem entrar em contato diretamente com o policiamento da área. O objetivo é implementar o programa em todas as quadras da Asa Norte.

Entre 2019 e 2021, investimentos de modernização para fins de iluminação pública foram realizados no DF como um todo. No Plano Piloto, em dois anos foram substituídas 6.162 luminárias convencionais por modelos de LED, com investimento de R$ 5,5 milhões. E, entre 2019 e 2021, houve a instalação de são 6.709 postes de luz.

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Raio-x da violência


A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) divulgou os dados comparativos entre o primeiro trimestre deste ano e o do ano passado, na Asa Norte.

Roubos a transeunte

2021 > 100 casos registrados
2022 > 94 casos registrados

Roubos em comércio

2021 > 4 ocorrências registradas
2022 > 6 ocorrências registradas

Roubos de veículos

2021 > 8 ocorrências registradas

2022 > 2 ocorrências registradas

Furtos de veículos

2021 > 50 ocorrências registradas
2022 > 58 ocorrências registradas


*Diferente dos roubos, nos casos de furto não há emprego de violência, e a vítima não percebe, no ato, a subtração do bem.

Dados da SSP-DF

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