"Ainda há medo das pessoas em voltar ao hospital", diz oncologista

Ao CB.Saúde, o oncologista Gustavo Fernandes destacou a linha cronológica na forma de se tratar o câncer, apontando os desafios trazidos pela pandemia e novas formas de lidar com este tipo de enfermidade.

Paulo Martins*

postado em 05/05/2022 15:49 / atualizado em 05/05/2022 15:50

O oncologista Gustavo Fernandes foi o entrevistado do CB.Saúde - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A situação geral da saúde da população mudou com a pandemia, incluindo pessoas portadoras de câncer. Para tratar do assunto, o diretor de oncologia do Grupo Dasa, Gustavo Fernandes, foi o entrevistado da edição desta quinta-feira (5/5) do programa CB.Saúde — parceria do Correio com a TV Brasília.

À jornalista Carmen Souza, Gustavo destacou os impactos diretos da pandemia nesse tipo específico de tratamento. “Dois anos de retardado nos cuidados da saúde são muito significativos. Se pensarmos na expectativa de vida, muitas pessoas não cuidaram da saúde, perderam a rotina de atividade física, ganharam peso e naturalmente perderam os check-ups. Ainda há um certo medo das pessoas em voltar ao hospital. É um trauma, com a covid, mas é preciso tratar isso”, afirma.

Com a pandemia, o oncologista percebeu um agravamento nos casos de câncer. “Tem acontecido em duas maneiras: na redução de exames, como os de mamografia e colonoscopia de check-up, que traz um grande impacto na detecção precoce. E ao atrasar os exames, o que traz pacientes com tumores maiores”, alerta.

Para a melhora no tratamento dessa especificidade de doenças, a medicina personalizada é uma alternativa. “É uma busca da medicina. Há duas formas de individualizar o tratamento: olhando na biologia da doença e olhando para o paciente, no consultório. Este é um exercício diário e que incentiva decisões mais compartilhadas. Eu diria que informação se tornou algo comum, conhecimento nem tanto. De alguma forma, temos que entregar ao paciente o que ele entende ser melhor para ele”, pontua Gustavo.

Na prática, essa ideia se materializa na interação entre paciente e médico durante o tratamento. “A maneira precisa de tratar os tumores com estratégias mais inteligentes é o que vem evoluindo nos últimos 20 anos. Nos últimos 10 anos, vem sendo liderado pela imunoterapia, incentivando o sistema imunológico contra o tumor. Para isso, é necessário estimular nessa direção, o que vem sendo aprimorado metodologicamente e vem trazendo resultados lindos, o que abre os sorrisos dos médicos e dos pacientes”, explica o oncologista.

Uma outra solução para alguns tipos de câncer é a imunização via vacinação, como explica Gustavo. “Vacinas como a da hepatite B e do HPV reduzem o câncer de fígado e o risco de tumores de colo de útero, pênis e canal anal, respectivamente. É uma promoção à saúde”, declara. Como desafio para a medicina, o oncologista cita a riqueza biológica dentro do organismo humano. “A cada dez células do nosso corpo, nove são estranhas, e apenas uma delas é nossa. É um fenômeno em compreensão na medicina”, afirma.

*Estagiário sob a supervisão de Nahima Maciel