CRIMINALIDADE

Roubo de celular cresce no DF

Quadrilhas agem em grandes eventos, mas também atraem vítimas por meio de golpes. Especialistas dão dicas de como proteger aplicativos e o próprio aparelho. Em 2022, esse tipo de crime aumentou 61,7%

Ana Isabel Mansur
postado em 04/06/2022 06:00 / atualizado em 04/06/2022 14:35
 (crédito: cidades-celular-capa)
(crédito: cidades-celular-capa)

As ocorrências por furtos de celulares no Distrito Federal cresceram nos primeiros quatro meses deste ano. De janeiro a abril, 4,4 mil aparelhos foram furtados. No mesmo período de 2021, foram 2,7 mil casos — crescimento de 61,7% — e, em todo o ano passado, foram contabilizadas 10.090 ocorrências.  No ano anterior, 8.315 aparelhos foram subtraídos e, em 2019, o número foi de 13.036. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF).

Alex Rabelo, professor de proteção de dados do Ibmec Brasília, acredita que o salto pode estar ligado ao fim das restrições sanitárias contra a covid-19. "A volta dos grandes eventos certamente influencia, visto que as pessoas estavam — e estão — ansiosas com esse retorno. Logo, estarão descuidadas e à mercê de eventuais furtos ou roubos. O crescimento é alarmante. Os usuários devem redobrar a atenção no que tange a proteção de patrimônios", aconselha. Ele recomenda a adoção de procedimentos para limpar o cache do dispositivo, além do uso de antivírus, para evitar a invasão de aplicativos.

Secretária-geral da Comissão de Direito Digital, Tecnologias Disruptivas e Startups da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Distrito Federal (OAB-DF), Natália Piasentin aponta que o crescimento não se limitou à capital federal. "Com a volta dos grandes eventos e da 'vida social', várias pessoas foram vitimadas em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais", observa a especialista, citando o exemplo dos carnavais de rua.

Desatenção

Os grupos agem de maneira semelhante, de acordo com a advogada. "Há organizações criminosas especializadas neste tipo de crime. Feliz ou infelizmente, eles seguem o mesmo modus operandi: os suspeitos empurram as vítimas e, com a reação do susto, um outro integrante aproveita para furtar o aparelho", descreve Natália. Ela detalha que a atuação dos criminosos se dá por meio de divisão de tarefas, com estruturas bem delimitadas.

Carolina Santana, 20 anos, foi uma das vítimas do DF contabilizadas no primeiro quadrimestre de 2022. O celular da moradora do Cruzeiro Novo foi furtado, em março, em um evento noturno, com grande público e fluxo contínuo de pessoas. "Não percebi (a ação criminosa), o celular estava na minha bolsa. Para se circular no local, era preciso transitar entre várias pessoas", relata a estudante. "Na fila do banheiro do evento, quis checar as notificações. Foi quando me dei conta do que tinha acontecido", continua. Carolina registrou boletim de ocorrência e pediu à operadora o bloqueio do aparelho. "A pessoa que furtou não conseguiu acesso aos meus aplicativos", relembra aliviada a estudante.

Bruno Oliveira, 32, também foi vítima em um grande evento. Em um show, em abril, o autônomo teve o celular furtado. O dispositivo, que estava no bolso do morador de Vicente Pires, foi recolhido sem que Bruno percebesse. "Nesses ambientes, a gente acaba prestando menos atenção a objetos pessoais e fica mais vulnerável", reflete. Ele registrou a ocorrência e, felizmente, por meio do localizador do aparelho, conseguiu recuperar o objeto. Desde então, Bruno redobra o cuidado com os pertences quando está em ambientes tumultuados.

No entanto, para Welliton Caixeta Maciel, professor de antropologia do direito da Universidade de Brasília (UnB), é preciso ter cuidado ao atribuir à pandemia o aumento das ocorrências, uma vez que as causas são multifatoriais e incluem até mesmo a crise econômica gerada pela covid-19. "É simplista explicar (o aumento apenas) pelo fim das restrições sanitárias. Podemos dizer que a volta dos grandes eventos potencializa (os crimes), mas eles são vetores para que esse tipo de criminalidade seja permanente e constante", pondera o pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Violência e Segurança da UnB, citando que, em festas e shows, as pessoas costumam beber e ficar mais distraídas quanto aos próprios pertences. Contudo, locais do cotidiano, como rodoviárias, vias públicas, ônibus, metrô, shoppings, estádios e clubes, também podem ser palco para as ações de criminosos.

Celulares roubados foram recuperados pela PCDF
Celulares roubados foram recuperados pela PCDF (foto: PCDF/Divulgação)

Dia a dia

Fernanda Monteiro, 29, confirma a observação do professor. A atendente foi furtada dentro do transporte público. "Meu celular estava no bolso de trás da calça. Uma pessoa esbarrou em mim, mas não estranhei, porque o ônibus estava cheio", descreve a moradora de Planaltina. Ela não conseguiu agir a tempo de impedir mais prejuízos, e o autor do crime teve tempo de acessar o aplicativo do banco de Fernanda e roubar R$ 300. Felizmente, ela recuperou, junto à instituição, a quantia. "Mas foi uma dor de cabeça", desabafa.

O professor Welliton, integrante do Grupo Candango de Criminologia da UnB, explica que, além do valor, a facilidade de repasse dos celulares incentiva a subtração dos itens. "É um objeto de troca, inclusive por drogas ou outras mercadorias ilegais. Existe um público que espera por esse tipo de produto (furtado). Se não houvesse consumidores e um público-alvo para os criminosos, haveria desabastecimento desse mercado. Ele existe porque há expectativa de obtenção e repasse", conecta Welliton Maciel.

Violência

Os criminosos não se limitam a furtar os itens sem a percepção do proprietário e elaboram armadilhas para atrair possíveis vítimas — inclusive com uso de violência. Foi o caso de Alysson Santos, 25, proprietário de uma loja virtual de celulares. "A pessoa faz o pedido e eu entrego pessoalmente. Em fevereiro, uma moça fingiu interesse em comprar um iPhone. Porém, era um esquema para me roubar", conta o morador do Entorno do DF. Quando Alysson chegou ao local, foi recebido por um homem, também integrante da armação. "Estava com uma arma apontada para mim. Minha reação foi correr e ele fez três disparos. Felizmente, nenhum me atingiu e eu não fui roubado", relata a vítima, que registrou boletim de ocorrência. "Foi um susto tremendo", relembra.

 

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