Projeto social

Campanha doa enxovais a grávidas em situação de vulnerabilidade social

Grupo da Campanha Pequeninos de Jesus e Maria, da Paróquia Sagrados Corações de Jesus e Maria, do Jardim Botânico, costura roupas de bebê recicladas com pedaços de pano rasgados para doar os enxovais às mães

Pedro Marra
postado em 18/06/2022 06:00
 (crédito:  Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

O sentido da frase bíblica "o amor de Cristo nos uniu", comum em missas da Igreja Católica, cabe perfeitamente na Campanha Pequeninos de Jesus e Maria, pastoral da Paróquia Sagrados Corações de Jesus e Maria, situada no Jardim Botânico. O projeto tem a missão de levar apoio e conforto a grávidas em situação de vulnerabilidade social de mais de 10 regiões carentes do Distrito Federal. O grupo, com 20 colaboradoras, costura roupas de bebês recicladas com pedaços de pano rasgados para doar enxovais às mães.

As grávidas mais atendidas pelo projeto, no ano passado, estão na faixa etária de 20 a 30 anos. Foram beneficiadas 92 mulheres. É o caso da moradora do Itapoã Eliana Pereira, 30, que se diz emocionada pelo sentimento de ressignificação ao receber os donativos, como agasalhos, cobertores e itens de higiene. "Eu e minha família ficamos muito felizes, porque realmente foi uma providência de Deus para a gente", diz a técnica de enfermagem.

Em seguida, vêm as 62 mães de 30 a 42 anos beneficiadas em 2021. As mais jovens são minoria, a exemplo das 22 mulheres de 18 a 20 anos e 17 grávidas de 14 a 17 anos de idade. Em 2021, a campanha atendeu 90 grávidas que são católicas, 51 evangélicas e outras 71 mães que não quiseram informar a crença. Em relação ao sexo dos bebês, nasceram 113 meninos e 93 meninas. Em nove casos, a família não sabia o sexo da criança.

No caso de Eliana, ela tem uma filha de 4 anos e está com 30 semanas de gestação do segundo filho, que deve nascer em julho, e já tem nome: Miguel. Ela conta que o kit para o bebê chegou em um momento que ela estava preocupada, triste, desanimada porque a família estava sem condições de comprar o necessário para a criança.

Entregas como a que Eliana recebeu são organizadas pela coordenadora do projeto, a aposentada Maria Aparecida Para da Rocha, 62. Moradora do Jardim Botânico, ela recebe ajuda das colaboradoras para distribuir roupas de bebês, agasalhos, cobertores e kit de higiene a famílias carentes do DF. "Identificamos a necessidade de ajudar as grávidas mais vulneráveis, que, conforme ouvimos de muitas pastorais, não tinham condições de comprar alimentos, imagine enxoval de bebês", conta.

  • O enxoval Fotos: Ed Alves/CB
  • Glória Regina (E), Marília Salgado, Maria Aparecida e Maria de Lourdes: missão de acolhimento aos necessitados Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

No ano passado, o grupo doou 292 enxovais para 212 grávidas, sendo que houve três casos de gêmeos e de uma mãe surda e muda. Uma das mãos amigas do projeto é a Associação Santos Inocentes, com sede em Samambaia Norte. O grupo recebe 10 enxovais por mês para auxiliar no atendimento a gestantes em vulnerabilidade financeira e mães solo a partir do sexto mês de gravidez até seis meses depois do bebê nascido. "A gente tem essa assistência muito fiel, e somos muito agradecidos pelo trabalho da Cida, que ajuda no que ela pode", comenta a assistente social da instituição Leila Nunes, 51.

Cida conta com 20 itens no enxoval, destinado a mães, em que 40% são evangélicas, e o restante, católicas. "Nosso trabalho é missionário, de levar o amor de Jesus e de Maria a essas mães que necessitam, não importando a religião delas", pondera. A última doação do projeto foi para a moradora da região Rosilene da Silva, 40, que daria à luz as gêmeas, Maria Cecília e Maria Júlia, mas acabou tendo mais um filho, Rafael, o que rendeu mais um enxoval dos Pequeninos de Jesus e Maria. "Vieram trazer o enxoval do Rafael, que até então a gente não sabia da vinda dele ao mundo", comenta.

Rosilene descreve a alegria de receber o carinho em forma de enxoval para os filhos. Ela, que já tinha um casal de gêmeos, um menino e uma menina, ressalta a importância das doações. "(O enxoval) É muito necessário para eu poder cuidar da Maria Júlia, Maria Cecília e do Rafael, pois é uma preocupação a menos nesse momento, aqui em casa é só o meu esposo que trabalha e temos sete crianças", ressalta.

Ela recebe apoio da Associação Santos Inocentes, que cuida de crianças de 6 meses a 4 anos em uma creche. "Iniciamos com 40 crianças e vivemos inteiramente de doações", informa a assistente social Leila Nunes.

Reciclagem

Uma das voluntárias que faz as entregas é Marília Salgado Pinto, 55, integrante da paróquia. Ela, que recicla camisas masculinas usadas para fazer conjuntos de babadores, se diz apaixonada pelo artesanato. "Faço isso para relaxar e rezar enquanto penso nas crianças que vão receber uma roupa, porque faço com muito amor, e sei que vai chegar nas mãos de quem precisa", relata.

Outra costureira do projeto, a engenheira civil Ângela Carla Denófrio, 61, tem uma relação de afeto ao fazer o bordado das roupas. Após se aposentar, em setembro de 2018, ela decidiu seguir uma tradição da avó Simília: costurar roupas de bebês para doação. Ela e o marido se mudaram para uma fazenda no município de São Miguel do Passa Quatro, a cerca de 90km de Goiânia, onde tiveram mais tempo livre. "Percebi que estava na hora de cumprir a promessa que havia feito à minha avó", emociona-se.

Assim como Ângela, a catequista da paróquia Glória Regina Alves Silva Menezes, 59, teve como referência a avó, de quem herdou o gosto pela máquina de costura quando ouvia o barulho da máquina da avó na juventude. "Eram 12 filhos na época em que ela costumava costurar para as irmãs dominicanas e francesas, momento em que eu ficava sempre do lado dela admirando", relembra a colaboradora, que faz mantinhas e cueiros de flanela.

Integrante das pastorais de eventos e do dízimo da paróquia, Maria de Lourdes Moreira, 69, que mora no Jardim Botânico antes da fundação de Brasília, em 1960, resgata na memória quando a missa na região era celebrada embaixo de uma lona. "Alguém tinha que arranjar um tecido e procurar uma pessoa para costurar, o que hoje ainda é um trabalho de missão, de levar um conforto físico e espiritual a essas mães", comenta.

Ao recordar as lembranças da infância, Maria diz que ter uma máquina de costura era um privilégio, tanto que a mãe dela tinha forte apego com a máquina dela. "Lembro-me que eu não sabia costurar as roupas, mas usava como elástico da máquina uma câmara de ar de bicicleta, e acabava 'cegando' a tesoura da minha mãe", relata aos risos. Ela foi chamada pela amiga Glória para participar da confecção das roupas. "Vi que estava na hora de começar com o meu trabalho, e então passei a reciclar lençóis e fronhas", rememora.

Na Estrutural, a monitora da Associação Benéfica Cristã Promotora do Desenvolvimento Integral (ABC Prodein), Maria da Conceição Corrêa Cordeiro, 49, recebe uma média de oito enxovais por mês da Campanha Pequeninos de Jesus e Maria. O espaço ainda conta com alguns projetos, como o ABC Cordeirinho, em que está sendo construído o Centro de Apoio à Mulher e Casa Berçário. "Esse local virá justamente para acolher essas mães solo, em que os maridos não aceitam as meninas novas que engravidam", explica.

A associação ainda possui uma creche, onde recebe crianças de 6 anos a 17 anos e 11 meses. O primeiro turno ocorre das 7h às 11h30, e o segundo, das 12h30 até as 17h30, quando vão para casa. "Estamos recebendo mães, que geralmente têm três ou quatro filhos, e não têm condições de comprar um enxoval ou um alimento, e assistimos com cesta básica e enxoval", detalha. A instituição ainda oferece comida no restaurante comunitário, onde distribui diariamente 300 marmitas a partir das 10h30.

Outra campanha no DF é do Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes, instituição de longa permanência, localizada em Sobradinho. O local abriga 70 idosos em situação de vulnerabilidade social, que precisam de doações, como fraldas geriátricas.

 

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