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Veja os detalhes do sequestro do empreiteiro no DF: 2 suspeitos são presos

Daniel Carvalho da Silva, 31 anos, está desaparecido há 14 dias, depois que foi abordado por criminosos ao sair de uma igreja. Em entrevista, os advogados de um dos detidos contaram uma segunda versão da história. Ex-companheira ainda acredita que a vítima pode ser encontrada com vida

Darcianne Diogo
postado em 09/11/2022 06:00
Empreiteiro Daniel Carvalho da Silva, de 31 anos, é vítima de sequestro  -  (crédito: Arquivo pessoal)
Empreiteiro Daniel Carvalho da Silva, de 31 anos, é vítima de sequestro - (crédito: Arquivo pessoal)

Cercado de mistérios, o sequestro do empreiteiro Daniel Carvalho da Silva, 31 anos, ultrapassa 300 horas. Em trabalho ininterrupto, policiais civis da Divisão de Repressão a Sequestros da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (DRS/Corpatri) colhem depoimentos e provas para chegar ao paradeiro da vítima, que desapareceu na noite de 26 de outubro ao sair de uma igreja em Ceilândia Norte. O Correio apurou que dois suspeitos de envolvimento no crime, de 30 e 31 anos de idade, foram presos preventivamente após audiência de custódia. A informação, no entanto, não foi confirmada pela polícia. Em uma entrevista exclusiva à reportagem, os advogados de um deles deram uma outra versão dos fatos e alegaram que Daniel "sumiu" propositalmente por acumular dívidas com agiotas. Por outro lado, as investigações da polícia dizem o contrário e revelam que o sequestro foi totalmente planejado e "bem orquestrado" pelos autores.

Pai de um filho pequeno, Daniel mora em uma casa, na QR 308 de Samambaia, e ganha a vida com a venda de imóveis. Por oito anos, ele manteve relacionamento com uma jovem, de 29 anos. O casal estava separado, mas buscava reconciliação. Na noite de 26 de outubro, os dois estavam em igrejas diferentes e marcaram de se encontrar para irem juntos a um show. Sem se identificar, a mulher contou ao Correio que recebeu uma mensagem de Daniel dizendo que havia batido o carro. "Depois disso, ele não respondeu mais. Fui até a casa dele e ele não estava lá", disse.

  • Empreiteiro Daniel Carvalho da Silva, de 31 anos, é vítima de sequestro Arquivo pessoal
  • Empreiteiro Daniel Carvalho da Silva, de 31 anos, é vítima de sequestro Arquivo pessoal
  • Empreiteiro Daniel Carvalho da Silva, de 31 anos, é vítima de sequestro Arquivo pessoal

De 26 a 28 de outubro, Daniel enviou mensagens curtas de texto via WhatsApp à ex, afirmando que estava tudo bem, mas que precisava "resolver uma coisa." Por volta das 19h30 do dia 28, o empreiteiro enviou uma mensagem de voz. "Ele disse que estava resolvendo uma situação, pois estava sendo ameaçado. Ele não tem antecedentes e não tinha dívidas ou guerra com ninguém. Depois desse áudio, ele mandou outra mensagem dizendo que me amava, amava o filho e a mãe. Parecia uma despedida", desabafou a ex, emocionada.

Nas conversas, Daniel pedia que a mulher não acionasse a polícia e, por isso, a jovem registrou boletim de ocorrência na quarta-feira passada. Depois disso, o celular dele só dá desligado e nenhuma outra mensagem foi enviada. "Por mais que tudo diga que ele não está vivo, eu preciso ter fé em Deus e me apegar na esperança. Ele precisa estar vivo", disse a mulher.

Investigação

Antes de desaparecer, Daniel recebeu uma transferência no valor de R$ 120 mil referente à venda de uma casa. Nas redes sociais, o empreiteiro costumava publicar fotos com a caminhonete Amarok e com cordões e pulseiras de ouro. Segundo a ex-companheira, no dia que sumiu, ele usava peças avaliadas em cerca de R$ 30 mil.

O Correio apurou que, ao sair da igreja na noite de 26 de outubro, um carro encostou na caminhonete de Daniel, momento em que um suspeito desceu e assumiu a direção da Amarok. O veículo, que dispunha do equipamento de rastreio, registrou, até a noite do dia seguinte, os pontos por onde o carro passou: em Taguatinga Norte, no Entorno do DF e em Santa Maria. O rastreador, no entanto, foi desligado do carro por volta das 23h20 de 27 de outubro, segundo relato da ex-mulher.

Em 31 de outubro, surgiu uma nova pista crucial para as investigações. Um dos suspeitos presos pela Polícia Civil teria organizado a mudança dos móveis da casa de Daniel, de Samambaia para uma residência em Goiás. A polícia, no entanto, ainda procura a casa onde a mudança foi levada. Segundo a ex-mulher da vítima, todos os móveis foram levados do local, inclusive os armários. Restou apenas um guarda-roupas e um cooktop. "O que se sabe é que a residência não foi alugada em nome da vítima (Daniel)", frisou o delegado André Leite, chefe da Corpatri.

Uma testemunha contou à polícia que chegou a ver um dos suspeitos descendo da Amarok e, no banco do motorista, um outro homem moreno ainda não identificado, em Goiás. Para os advogados Hellen Costa e André da Mata, responsáveis pela defesa do preso, Daniel seria a pessoa que estaria dentro do veículo e que este seria o único fato que ligasse o cliente ao caso. Para a polícia, não há evidências de que fosse o empreiteiro dentro da caminhonete.

Cárcere e extorsão

Ao longo dos dias do desaparecimento de Daniel, a polícia constatou transferências de valores distintos feitos pela conta da vítima para outras contas. A maior delas foi no valor de R$ 5 mil. A conta de Daniel, que tinha R$ 120 mil da venda da casa, foi totalmente esvaziada. Para o delegado André Leite, não há dúvidas de que o sequestro foi planejado. "Sabemos que ele foi mantido em cárcere e extorquido. As investigações continuam", afirmou.

Os advogados de um dos suspeitos contam a versão de que Daniel teria fugido propositalmente por problemas de dívidas com agiotas. Segundo os defensores, o cliente teria apenas "ajudado" o empreiteiro na mudança e depois foi embora e não soube mais notícias do colega. "Vamos entrar com a revogação da prisão preventiva, porque nesse caso era para ser temporária por falta de provas. Ele tem trabalho e endereço fixo. Estamos trabalhando com todos os recursos para garantir a liberdade dele, pois o mesmo está preso injustamente", garantiram Hellen Costa e André da Matta.

Os dois suspeitos estão presos e passaram por audiência de custódia, onde tiveram as prisões convertidas em preventiva. Os dois estão lotados no Centro de Detenção Provisória 2 (CDP), no Complexo Penitenciário da Papuda.

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