Economia

Brasília atrai empresas de táxi aéreo e de aluguel de jatos

De acordo com especialista e empresários do ramo, o DF é um excelente local para se estabelecer, por conta de sua localização central e o alto poder aquisitivo da população

Base da Líder Aviação, em Brasília. Demanda por voos com pousos ou decolagens na capital aumentou 250%, após a pandemia -  (crédito: Divulgação/Líder Aviação)
Base da Líder Aviação, em Brasília. Demanda por voos com pousos ou decolagens na capital aumentou 250%, após a pandemia - (crédito: Divulgação/Líder Aviação)
Arthur de Souza
postado em 20/08/2023 06:00

Alugar um jato particular é algo que pode ser considerado um sonho distante, mas, no Distrito Federal, é um mercado que está em ascensão, de acordo com quem trabalha no ramo. Segundo a Inframerica, responsável pela operação do Aeroporto de Brasília, são sete hangares alugados para empresas privadas que alugam jatos e/ou fazem serviço de táxi aéreo. Ainda de acordo com a concessionária, somente duas empresas são registradas como sendo do DF. Porém, existem outras que constituem base no aeroporto da capital.

Uma delas é a Líder Aviação, que atua com fretamento de aeronaves e tem 21 bases no Brasil. Atualmente, a frota total da empresa é de 50 aeronaves, sendo 18 delas destinadas ao táxi-aéreo, com opções em jatos, turboélices e helicópteros. Para o diretor regional da empresa, Alisson Bretas, a escolha por Brasília como uma das bases operacionais foi estratégica. "(A opção ocorreu) não só por ser a capital federal e centro político do país, mas pelo fator geográfico: seu aeroporto fica na região central e conecta vários destinos importantes", explicou. "Além disso, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) está sediada no DF, assim como os órgãos anuentes de fronteira, entre outros igualmente relevantes para o transporte aéreo público", acrescentou Bretas.

Segundo dados da empresa, após o período mais crítico da pandemia, houve um aumento de 250% na demanda por voos com pousos ou decolagens em Brasília no primeiro semestre de 2021, em comparação ao mesmo período de 2019, e a média de demanda dos últimos três anos foi 97% maior em relação ao período pré-pandemia.

Uma das aeronaves utilizadas pela Flapper para os voos de Brasília. A cidade é o quarto maior mercado da empresa
Uma das aeronaves utilizadas pela Flapper para os voos de Brasília. A cidade é o quarto maior mercado da empresa (foto: Divulgação/Flapper)

Bruna Assumpção, diretora superintendente da companhia, ressaltou que a maioria dos clientes são empresários e executivos, que viajam a negócios de segunda a sexta-feira. "Eles precisam chegar mais rápido até as operações locais de suas empresas, sejam fazendas, lojas, plantas fabris ou obras, utilizando aviões e helicópteros como ferramenta de trabalho", explicou.

De acordo com ela, os valores do fretamento costumam variar bastante, dependendo dos trechos voados e das aeronaves utilizadas. "É possível fazer simulações de custos no aplicativo da empresa, que permite fazer a cotação e realizar todo o processo de fretamento de aeronaves, desde a reserva até o pagamento pelo celular de forma prática, rápida e segura", detalhou Bruna.

Crescente

Outra companhia com ponto de apoio em Brasília é a Flapper. Sediada em Belo Horizonte, a base no aeroporto da capital conta com uma equipe comercial e tem frota de cinco aeronaves. De acordo com o CEO da Flapper, Paul Malicki, são oferecidos fretamentos executivos, além de viagens de lazer. "Mas os nossos principais clientes são corporações, embaixadas, advogados e representantes de governos", detalhou.

De acordo com dados da empresa, em 2022 e nos três primeiros meses deste ano, a rota Brasília-São Paulo — tendo a capital federal como destino ou origem — foi a mais procurada pelos clientes, seguido de Belo Horizonte e Goiânia (confira Rotas mais procuradas). "São Paulo é um líder definitivo, especialmente se você considerar que tem grandes aeroportos", destacou. "No total, Brasília é o nosso quarto maior mercado, atrás somente de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte", revelou o CEO da Flapper.

"Uma tendência que temos visto nos últimos anos é que tem cada vez mais pedidos para voos internacionais, vindos de grandes empresas e até de diplomatas. Poucas semanas atrás, inclusive, trouxemos o ex-presidente do Uruguai José Mujica para Brasília", comentou.

Demanda poderosa

Professor de economia da FGV-Law de São Paulo e estudioso do setor aéreo, Cleveland Prates concorda com a fala dos empresários. Para ele, Brasília é um ótimo ponto para a aviação executiva, principalmente por conta de sua demanda. "Isso porque temos gente indo e voltando da capital, constantemente. Outra questão é a geolocalização da cidade, que favorece sua utilização como ponto de parada. Só que o ponto forte de Brasília está no fato de que existe uma demanda, a qual tem recursos para arcar com o serviço de fretamento e de táxi aéreo", observou.

O especialista destacou que este tipo de serviço requer uma demanda que tenha um bom poder aquisitivo, ou seja, aquelas pessoas que têm menor suscetibilidade às variações econômicas. "Se você pegar as companhias áreas comerciais, por exemplo, qualquer crise econômica afeta fortemente a demanda no setor aéreo. Mas, no caso da aviação executiva, é diferente. São pessoas que precisam viajar de jato, por questões variadas, e têm renda para pagar por isso. Então, esse mercado acaba sendo menos afetado", avaliou o especialista.

Oportunidade

Uma das duas empresas do DF, a Direção Táxi Aéreo é recém-criada e foi constituída para aproveitar a oportunidade de mercado, conforme explicou um dos sócios e diretor comercial da companhia, Osvaldo Veloso. "Nascemos em 2023. A decisão partiu dos sócios, que utilizavam a aeronave para suas atividades de trabalho e identificaram uma oportunidade de negócios na aviação executiva, sobretudo após a pandemia", revelou.

De acordo com Veloso, a ideia de montar a companhia aqui no DF, é para atender o mercado local. "Estamos no meio do Brasil, onde existe demanda para atender os empresários do agronegócio. Além disso, criar a base da empresa no centro do país favorece a logística, possibilitando celeridade e baixo custo de operação", observou o diretor. Comandante da empresa, Walen Rocha complementou o discurso. "Acreditamos que, por se localizar em uma área central, seria um ponto estratégico para empresas de táxi aéreo, tanto aquelas que queiram implantar uma base quanto as que preferirem utilizar a cidade como ponto de apoio", apontou.

"Na minha visão, Brasília é um local estratégico para a aviação e, comercialmente, muito interessante. Apesar de não termos muitas empresas baseadas, existem bastantes companhias que operacionalizam por aqui, por meio de pontos de apoio", ressaltou. "A vantagem de ter um avião fixo no DF, é não cobrar despesas adicionais, pelo fato de a aeronave ter que se deslocar, após o término do serviço, para a base principal, no estado de origem", completou o piloto.

Rotas mais procuradas

Congonhas (SP)-BSB — 11%
BH-BSB — 7%
GYN-BSB — 6%
Santos Dumont (RJ)-BSB — 5%

% = total de voos

*Em 2022 e nos três primeiros meses deste ano

Fonte: Flapper

Preços

Líder Aviação

Brasília (JK) – São Paulo (Congonhas), voo no dia 22/8, às 9 horas:

Aeronave turboélice: cerca de R$ 68 mil, com capacidade para 6 passageiros

Jato executivo: cerca de

R$ 109 mil, com capacidade para 7 assentos

Flapper

Brasília (JK) – São Paulo (Congonhas), voo no dia 22/8, às 9 horas:

Aeronave turboélice: cerca de R$ 50 mil, com capacidade para 6 passageiros

Jato executivo: cerca de

R$ 94 mil, com capacidade para 7 assentos

Saiba mais

O Regulamento Brasileiro da Aviação Civil (RBAC) nº 135 é o normativo da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que dispõe sobre as operações de transporte aéreo público com aviões com configuração máxima certificada de assentos para passageiros de até 19 assentos e capacidade máxima de carga paga de até 3.400 kg (7.500 lb), ou helicópteros. Tanto empresas de táxi-aéreo quanto de fretamento de jatos particulares estão contempladas no RBAC.

Segundo a Anac, das mais de 3,2 mil pistas de pouso no Brasil, cerca de 100 atendem a aviação comercial, ou seja, a maior parte é utilizada pela aviação executiva. Outro levantamento, realizado pela Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), aponta que 83 das 100 maiores empresas do Brasil utilizam a aviação executiva para deslocamentos dos profissionais.

 

 

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