Operação

Coronéis da PMDF trocaram mensagens conspiratórias sobre golpe

Em uma das mensagens, o comandante do batalhão que cuida da Esplanada, enviou um quadro "explicativo" com o passo a passo do golpe e disse "não sei (se) procede esse entendimento, mais (mas) é interessante a explicação"

Klepter Rosa Gonçalves, comandante da PMDF, e Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da instituição, foram presos pela PF nesta sexta (18/8), por se omitirem nos atos do 8 de Janeiro  -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Klepter Rosa Gonçalves, comandante da PMDF, e Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da instituição, foram presos pela PF nesta sexta (18/8), por se omitirem nos atos do 8 de Janeiro - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Pablo Giovanni
postado em 18/08/2023 11:33 / atualizado em 18/08/2023 19:22

O comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), coronel Klepter Rosa, enviou uma mensagem, às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais, em 30 de outubro do ano passado ao então comandante-geral da corporação, coronel Fábio Augusto Vieira. Os áudios falsos em que dizia que o ministro Alexandre de Moraes era tratado como “advogado de facção”, e que “as Forças Armadas saberiam disso”.

A transcrição consta na denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF), na quarta-feira (16/8). Nessa mensagem, colhida pela Polícia Federal e enviada em 28 de outubro, Klepter repassa uma fake news de áudios editados atribuídos ao candidato a presidente Ciro Gomes (PDT). “Na hora que der o resultado das eleições que o Lula ganhou, vai ser colocado em prática o art. 142, viu? Vai ser restabelecida a ordem, se afasta Xandão, se afasta esses vagabundo tudinho e ladrão, safado, dessa quadrilha… Aí vocês vão ver o que é por ordem no país. Não admito que o Brasil vai deixar um vagabundo, marginal, criminoso e bandido, como o Lula, voltar ao poder”, dizia o áudio editado.

No mesmo vídeo, há uma afirmação de que Bolsonaro e o Exército teriam preparado um golpe de Estado que demandaria, como primeiro passo, um levante popular. “Rapaz, vocês têm que entender o seguinte: o Bolsonaro, ele está preparado com o Exército, com as Forças Especi… As Forças Armadas, aí, para fazer a mesma coisa que aconteceu em 64. O povo vai pras ruas, que ninguém vai aceitar o Lula ser... Ganhar a Presidência, porque não tem sentido, o povo vai pedir a intervenção e, aí, meu amigo, eles vão nos livrar do comunismo novamente”, dizia o áudio.

Apesar da corrente falsa ter sido enviada por Klepter, Fábio Augusto repassou a mensagem para o coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues, comandante do 1° Comando de Policiamento Regional (1° CPR). No relatório da PGR, as mensagens conspiratórias prosseguiram entre Casimiro e Fábio mesmo após as eleições, que elegeram democraticamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em 1° de novembro, Casimiro remeteu ao coronel Fábio um quadro “explicativo”, que expressava três alternativas para a “regular sucessão presidencial”, quais sejam: uma suposta aplicação do art. 142 da Constituição Federal; “intervenção militar”; e “intervenção federal” por iniciativa militar.

Nessa mensagem, o conteúdo refletia que a desejada intervenção federal teria como pré-requisito um “pedido do povo”, a partir do qual os militares “tomariam as ruas”. Após ter enviado o explicativo, Casimiro manda outra dizendo que “não (sei) se procede esse entendimento, mais (mas) é interessante a explicação”.

Nas mensagens colhidas pela PF, ainda em 1° de novembro, Casimiro enviou uma mensagem a Fábio, com uma suposta transmissão da emissora Jovem Pan, com veiculação de uma gravação atribuída ao presidente da Havan, Luciano Hang, sobre fraude nas urnas eletrônicas, além de um relatório das “Forças Armadas”. No entanto, o conteúdo era falso.

“Não fique triste, não fique triste. As Forças Armadas vai entregar o relatório amanhã, que o Alexandre de Moraes pediu e as Forças Armadas disse que só entregaria depois do segundo turno, depois do resultado. E amanhã eles estarão entregando o relatório, a prova de que o Bolsonaro foi eleito no primeiro turno, porque temos o exemplo lá da Bahia, do Nordeste, aonde tem 182 municípios que cometeram erros gravíssimo, gravíssimo (sic). Como Barreiras, onde tem 156 mil municí… É… Moradores… E apareceu 400 mil votos nas urnas, sendo quase 300 mil votos para o Lula e cento e poucos mil votos para o Bolsonaro […] Só no Norte e Nordeste que foi a roubalheira do primeiro turno. Eles usaram a mesma tela… É… Escala logaritmo é chamado. Então, vamos aguardar e dormir em paz, tá bom? Confiar em Deus. É... lamentavelmente vamos ter esse constrangimento de ver o Supremo Tribunal serem presos, o Lula ser preso e toda a quadrilha que aprontou isso aí, porque as Forças Armadas vai tomar conta e formar um Supremo Tribunal formado por juízes militares”, dizia a mensagem.

Em resposta, Fábio afirmou que “a cobra” iria “fumar”, mesmo que o conteúdo do vídeo não fosse verídico. “A cobra vai fumar CMT (comandante). Mesmo q não seja verdade”, respondeu o então comandante-geral da PMDF.

Apesar dos vários conteúdos falsos enviados naquele dia, Casimiro não cessou. Na noite de 1° de novembro, compartilhou um vídeo do ex-presidente Jair Bolsonaro caminhando sorridente, com a legenda “a cara de quem tem as cartas na manga”. Fábio, então, questionou se as imagens foram produzidas naquele dia, e Casimiro respondeu de forma afirmativa.

Casimiro acrescentou que acompanhou uma entrevista ao vivo de Bolsonaro, e que percebeu o presidente “sorridente”. Fábio respondeu de uma maneira bem animada. “O que será que está acontecendo?”, disse. “Será que o brasileiro tem jeito?”, completou.

Operação

A operação da PF, na manhã desta sexta (18/8), mirou policiais militares que atuavam na linha de frente nos atos de 8 de janeiro. A denúncia, apresentada na quarta-feira (16/8) pedia a prisão dos coronéis Klepter Rosa, Marcelo Casimiro, Paulo José, Fábio Augusto e do tenente Rafael Pereira Martins.

Além disso, Moraes também manteve a prisão do coronel Jorge Eduardo Naime e do major Flávio Silvestre de Alencar. Todos são acusados pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e por infringir a Lei Orgânica e o Regimento Interno da PM.

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