As passagens subterrâneas da capital carecem de manutenção, mas têm sido a opção daqueles que temem pela vida ao atravessar a rodovia e os eixos, expondo-se a acidentes de trânsito — um problema que se discute há anos. O Correio esteve na passarela da 102/202 Sul, uma das mais movimentadas da área central — um exemplo da situação que as pessoas enfrentam nas demais — e conversou com usuários que cruzam os corredores há quase 10 anos.
As passagens subterrâneas nasceram no intuito de garantir a acessibilidade, evitando o risco da travessia pelas vias. Mas há queixas sobre esses espaços, como a insegurança, o excesso de lixo e o forte cheiro de urina. Outra reclamação é a presença de usuários de drogas e pessoas em situação de rua, que aproveitam esses pontos para cometer roubos ou assédios.
Elisabete Pereira, 43 anos, é secretária executiva no Hospital de Base e passa todos os dias no local. "Aqui, vejo muitos moradores de rua. O medo sempre vai existir, mesmo com as luzes acesas, até porque, em determinado horário, não passa mais ninguém. Muitas vezes, cruzo sozinha. Então, tem que ser super-rápido", conta.
O despachante Valter Dias, 42, usa a passagem da 204 Sul quatro vezes por semana para ir à parada pegar o ônibus de volta para casa, no Novo Gama (GO). Com os passos apressados, ele diz que presenciou assaltos no local. "Além dos moradores de rua, que são muitos, não vejo muito a presença da polícia e de viaturas. Acho que, aqui, deveria ter também câmeras de segurança, para identificar possíveis criminosos", defende.
Medo
Em julho do ano passado, um estudo do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) revelou que 94% dos brasilienses atravessam os eixos rodoviário, leste e oeste — popularmente conhecidos como Eixão e Eixinhos — pelas passagem subterrâneas. Os outros 6% responderam que usam as vias.
Cristiana de Paula, 43, está entre os 6% que fazem a travessia pelas vias, enfrentando o perigo de ser atropelada. Por medo, ela só circula nas passagens subterrâneas em horários de pico, das 15h às 18h, por exemplo. "Uma vez, vi uma moça sendo assaltada. Estava no meio da passagem, quando voltei correndo. Desde então, opto por atravessar a pista muitas vezes, mesmo que seja perigoso. Melhor do que ser assaltada. Só atravesso quando vejo grandes grupos", avalia a técnica de enfermagem.
Saulo Duarte, 47, utiliza a passagem subterrânea há quase 10 anos e já viu de tudo, desde assaltos até o uso escancarado de drogas. Ele afirma que não sente medo e espera as amigas para acompanhá-las. "Quando saímos mais tarde do hospital, sempre às espero, porque sei do perigo que é", destaca.
O major Michello Bueno, porta-voz da Polícia Militar (PMDF), diz que, em todo o ano de 2023, foram registradas seis ocorrências nas passagens subterrâneas da Asa Sul — todas por roubo, furto e assédio. "A PM tem feito um trabalho com policiamento com maior mobilidade. Os policiais passam em moto, mas abordam as pessoas suspeitas, como usuários de drogas", explica.
Além do policiamento com esse veículo, o major afirma que os PMs também fazem a ronda a pé. "Estamos em contato com outros órgãos para viabilizar a implementação de câmeras nessas passagens, o que colaborará para o trabalho da polícia", finaliza.
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