O Hospital de Campanha (Hcamp), em Ceilândia, completa um mês de funcionamento nesta terça-feira (5/3), totalizando 26.966 procedimentos realizados até as 18h do sábado (2/3) — o que representa uma média de 890 por dia. Na unidade, voltada para o atendimento a pacientes com dengue ou com suspeita da doença, foram feitos 9.585 exames laboratoriais, 4.651 consultas de clínica médica e 1.146 de pediatria.
Aqueles que têm procurado o Hcamp para tratar dos sintomas da enfermidade aprovam a rapidez com a qual são atendidos. Por outro lado, reclamam da falta de agilidade nos hospitais regionais e nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA), mesmo com ampliação e reservas das equipes para tratar os sintomas causados pelo Aedes aegypti. Já a ocupação em UTIs estava em 94% neste domingo (3/3).
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Antônio Silvino, 96 anos, vem sofrendo com diarreia, febre e dores no corpo desde a quinta-feira (29/2). Neste domingo (3/3), a filha Selma Rodrigues, 55, ao perceber que ele começou a não aceitar a hidratação e não comer, decidiu levá-lo ao hospital gerido pela Força Aérea Brasileira (FAB). Logo, Antônio fez o teste para a doença, que deu positivo, e foi encaminhado para a hidratação venosa.
"Aqui foi rápido. Os hospitais estão muito cheios e decidi vir logo para cá. Chegamos às 11h e estamos indo embora agora, às 16h", contou Selma. Caso Antônio não apresentasse melhoras com a hidratação fornecida pelo Hcamp, o idoso seria encaminhado para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), segundo informou a filha. Amanhã, Silvino, que é morador de Ceilândia Sul, retorna à unidade para fazer teste de plaquetas.
A menina Luiza Fernanda Martins, 10, queixa-se de dores no corpo e na cabeça, tontura ao se levantar e dor na barriga desde sábado. A mãe, Rosineide Martins de Carvalho, 31, levou a filha ao Hcamp à meia-noite do domingo, quando a menina foi hidratada com dois litros de soro fisiológico e medicação para dor e enjoo por via venosa. "Às duas da manhã, já estávamos indo embora. Voltamos agora de tarde para receber o resultado dos exames. Deu negativo, mas o médico disse que ela ainda pode ter a forma leve da doença", relatou a mãe. "O Hospital de Ceilândia está bem pior", completou.
Moradoras de Ceilândia Norte, moram ainda na mesma casa outras duas filhas de Rosineide, de 6 e 13 anos, e a mãe, de 84. "Estou preocupada com a saúde de todas, inclusive, a minha. Tenho miocardiopatia periparto e já tomo anticoagulante, então, em caso de pegar dengue, o risco para mim seria bem maior", contou ela, que está na fila para receber um transplante de coração.
Na casa de Rosineide, o controle dos focos de mosquito da dengue é rotina e ela suspeita que a filha tenha contraído a doença na escola. Luiza está na faixa etária para receber a primeira dose do imunizante contra a dengue, disponível do Sistema Único de Saúde (SUS). "Eu ia levá-la para tomar a vacina, mas como ela adoeceu, teremos que esperar um pouco", lamentou.
A mãe de Maria Aparecida Lavista, 26, chegou ao Hcamp por volta das 13h do domingo (25/2) e, em poucos minutos, foi levada para a hidratação, segundo a filha. "Ela tem sentido calafrios, dores de cabeça, no peito e na barriga e náusea. Levamos minha mãe para o Hospital de Taguatinga, mas não conseguimos atendimento, e fomos aconselhados a trazê-la para o Hospital de Campanha", disse Maria Aparecida. A mãe não fez teste para dengue, mas foi atendida na unidade.
Atendimento ampliado
No Hospital de Campanha, administrado por militares, a Secretaria de Saúde do DF é responsável pela triagem e regulação dos pacientes. Em nota, a pasta informou ao Correio que a unidade deve funcionar até 20 de março e que, até o momento, não há previsão de abertura de outro hospital semelhante. Procurada pela reportagem, a FAB não se manifestou sobre o possível fechamento.
O Distrito Federal conta com, ao todo, 176 unidades básicas de saúde (UBSs) que servem como porta de entrada de casos suspeitos da doença na rede pública. Dessas, 11 oferecem um horário especial noturno para a população. Em casos mais graves, classificados como grupos C e D, que envolvem dores intensas na barriga, vômitos persistentes, sangramentos no nariz, na boca ou nas fezes, tonturas e extremo cansaço, os pacientes devem procurar uma das 13 UPAs espalhadas pela capital.
Como forma de ampliar o atendimento a pacientes com sintomas de dengue, o Governo do Distrito Federal (GDF) decidiu reservar consultórios e médicos destinados exclusivamente para atender casos suspeitos da doença em todas UPAs. A decisão tem como objetivo agilizar a avaliação dos quadros clínicos de cada paciente, proporcionando um diagnóstico mais rápido e eficiente.
O Correio foi à UPA 1 de Ceilândia para verificar como a mudança tem mudado o atendimento aos pacientes da unidade. À reportagem, usuários reclamaram da longa espera por atendimento. Edson Medeiros de Sousa, 41, chegou à unidade com a irmã doente, Rosangela Medeiros de Sousa, às 11h de ontem. Por volta das 17h, ainda havia 31 pessoas na fila à frente dela para serem atendidas antes.
Rosangela é imunossuprimida e precisa de cadeira para se locomover devido ao estado debilitado em que se encontra. "Ela não aguenta ficar em pé e não está lúcida. Estou levando-a de volta para Cidade Ocidental, com esperança de que chegue viva lá", lamenta Edson. Rosangela, que mora em Ceilândia, está com sintomas como febre, dor de cabeça, desidratação, falta de apetite e visão escurecida há cinco dias", relatou o irmão.
Apesar do estado de saúde, Rosangela recebeu a pulseira amarela na triagem da UPA. "Falei com a assistente social, que disse que não poderiam fazer nada naquele momento. Agora, às 17h, estamos indo embora. Ela está passando frio aqui", lamentou.
A mãe de Maria Aurelita de Freitas, 50, está internada na UPA 1 de Ceilândia desde 15 de fevereiro. Antes disso, Aurelita levou a mãe para a UPA 2, localizada no Setor O, duas vezes. "Em 3 de fevereiro, dia que minha mãe começou a passar mal, fui com ela para a UPA 2, onde foi internada. No dia seguinte, deram alta para ela. No dia 7, ela voltou a passar mal e demos entrada na UPA 2 mais uma vez. A alta, dessa vez, foi em 14 de fevereiro", relatou.
Mesmo após duas internações, a mãe de Maria Aparecida, que tem 88 anos, voltou a passar mal. "Como não estava mais confiando no trabalho da outra UPA, trouxe ela para a UPA 1, onde ela está internada desde então", conta. "Lá dentro está um caos, estou dormindo no chão todas as noites. Minha mãe está bem debilitada, emagreceu muito e colocaram uma sonda para ela se alimentar", preocupa-se Aparecida.
Leitos ocupados
A série histórica da taxa de ocupação dos leitos de UTI gerais mostra a pressão que a rede pública de saúde tem vivido. De acordo com os dados do portal InfoSaúde DF, da SES-DF, desde o início de dezembro, o menor índice foi de 88% e o maior foi 97%, em 23 de fevereiro — data em que o governador, Ibaneis Rocha (MDB), declarou que "tanto os hospitais da rede pública quanto os da rede privada entraram em colapso" devido à dengue.
A alta ocupação nas UTIs faz com que a lista de espera por um leito seja mais robusta. No mesmo período, a menor quantidade de pacientes que aguardavam foi 49, em 31 de dezembro — um mês depois, em 31 de janeiro, o número chegou a 134. Segundo a atualização mais recente do painel da Saúde, até ontem, 77 pessoas estavam à espera de um leito, sendo que 69 eram adultos, cinco eram crianças e três eram recém-nascidos — 13 pessoas estão na faixa dos 70 a 74 anos.
Os dados da SES sobre a ocupação de leitos abrangem os públicos e os contratados pela pasta, ou seja, que estão à disposição do Sistema Único de Saúde (SUS). Não há, entretanto, um recorte específico para internações por dengue.
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