O boletim diário de casos da dengue do Ministério da Saúde, divulgado na tarde desta quarta-feira (10/4), mostra que o Distrito Federal registrou 234 mortes pela doença apenas em 2024. As informações constam no painel de casos de dengue do ministério. No balanço, há 59 óbitos em investigação. O boletim aponta 207.305 casos prováveis de dengue. Foram 113.472 diagnósticos da doença em mulheres (54,9%) e 93.056 em homens (45,1%).
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Os números são considerados diferentes dos divulgados pela Secretaria de Saúde (SES-DF) na última semana. Na ocasião, a pasta local informou 198.923 casos prováveis da doença e 205 óbitos. Um novo levantamento epidemiológico deve ser divulgado hoje pela SES.
Levantamento feito pelo Observa Infância da Fiocruz/Unifase destaca que o DF concentra 10% de todas as mortes confirmadas por dengue no Brasil, apesar de ter apenas 1% dos casos da doença registrados no país. Na capital federal, os infectados pelo mosquito Aedes aegypti têm até nove vezes mais chances de morrer por essa arbovirose do que a média nacional. A pesquisa foi feita com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde (MS) compilados até 30 de março. Enquanto a letalidade média por dengue no Brasil é de 0,37 mortes por mil casos, no DF é de 3,3 mortes a cada mil casos.
Embora quase dois terços dos diagnósticos de dengue no DF recaiam sobre adultos entre 20 e 59 anos, crianças pequenas e idosos infectados apresentam as maiores taxas de letalidade — proporção entre o número de óbitos a cada mil doentes. Na capital, bebês com menos de 1 ano enfrentam uma letalidade 17,6 vezes maior do que a média brasileira para essa faixa etária (0,44 morte a cada mil casos), segundo . Os idosos com 80 anos ou mais também enfrentam um cenário parecido. Enquanto na média nacional houve 4,86 óbitos para cada mil casos confirmados nessa faixa etária, no DF a taxa é sete vezes superior. Para cada mil infectados, foram reportadas 34,07 mortes.
O pesquisador Cristiano Boccolini, do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) da Fiocruz/Unifase, explica que a incidência da arbovirose entre as diferentes faixas etárias da população da capital é semelhante à observada no restante do país. "Os dados são bastante confiáveis nesse sentido, porque temos uma distribuição da doença em Brasília semelhante à média do Brasil, mas, proporcionalmente, morrem mais pessoas no DF por causa da dengue do que no resto do país", ressaltou o pesquisador.
Até a 13ª semana epidemiológica, o Sinan registrou 258 casos de dengue em bebês menores de 1 ano no DF. Ocorreram 10 óbitos nessa faixa etária no Brasil, e somente na capital federal foram dois. Por isso, conforme explica Boccolini, "essas crianças são menos infectadas pela dengue (em relação às demais faixas etárias), mas quando são infectadas o risco de elas morrerem é maior no DF". De acordo com a pesquisa da Fiocruz/Unifase, a letalidade média por dengue no DF é de 3,3 óbitos a cada mil casos, mas, para os recém-nascidos, observou-se uma proporção de 7,75 mortes para cada mil doentes — o que representa mais do que o dobro de risco de sucumbir pela doença.
Reorientação
A Secretaria de Saúde explica que o alto percentual de óbitos investigados demonstra o empenho da equipe da SES na identificação do perfil desses casos para adoção das medidas pertinentes quanto à reorientação das ações. "A letalidade no DF é de 0,1%, enquanto a nacional é de 0,04%. No entanto, é necessário reforçar que o DF possui a maior parte dos óbitos já investigados e encerrados (ao contrário de outros estados)", reforça a nota.
Ainda de acordo com a SES, a letalidade em crianças menores de 1 ano no DF é de 0,27% enquanto que a nacional é de 0,04%. No entanto é necessário destacar que o DF possui a maior parte dos óbitos já investigados e encerrados. Em relação aos idosos, a secretaria informa que "a letalidade em idosos maiores de 80 anos no DF é de 2,6%, enquanto a nacional é de 0,4% — a maior parte dos óbitos já investigados e encerrados."
O infectologista Gilberto Nogueira, da Clínica Akhos, acrescentou que os casos de óbitos suspeitos por dengue não têm sido subnotificados, e por isso, ao se calcular essa letalidade, acabamos por ter uma taxa elevada. "Porém, é importante que autoridades chequem também as eventuais falhas nos protocolos de atendimento. É possível, sim, que muitos casos de óbito pudessem ter sido evitados se já no primeiro sinal de alarme tivessem sido tomadas as medidas indicadas para o suporte clínico", afirmou.
Recém-nascidos
A médica infectologista Ana Carolina D'Ettorres, do Projeto Cuida, reforça que, no caso específico da dengue, cuidar de recém-nascidos é ainda mais delicado, porque menores de 6 meses não podem usar repelentes de nenhum tipo. "Para bebês, a prevenção se trata basicamente do controle do ambiente", advertiu. "A partir dos 6 meses de vida, os bebês podem usar repelentes à base de icaridina e IR3535, e a partir dos 2 anos à base de DEET também."
Cristiano Boccolini ressalta que crianças com menos de 1 ano são mais vulneráveis a problemas de saúde porque seus sistemas imunológicos ainda estão em desenvolvimento, o que significa que não podem lidar com infecções como os adultos. Além disso, elas não conseguem expressar verbalmente seus sintomas, o que exige dos responsáveis atenção redobrada aos sinais.
"Ao primeiro sinal de mudança de comportamento, quando a criança fica mais irritada, muito silenciosa, tem febre ou manchas vermelhas, levar para um atendimento de urgência é imprescindível", avisou o epidemiologista. "Quanto mais precocemente se detectar a doença e intervir com medicamento e hidratação, menor a letalidade."
A vulnerabilidade dos idosos à dengue não é menos crítica, conforme apontam os dados. Segundo o levantamento da Fiocruz/Unifase, a letalidade na faixa etária dos 65 aos 69 anos no DF é 12 vezes superior à média brasileira para essas idades. A cada mil casos, a letalidade se situou em 10,67 casos fatais, ao passo que no restante do Brasil a taxa de mortalidade registrada foi de 0,89 por mil casos.
Ana Carolina destacou que o envelhecimento do sistema imunológico, conhecido como imunossenescência, torna os idosos mais suscetíveis a infecções e complicações. "Isoladamente, esse fator já os torna mais vulneráveis a infecções e agravamentos. Outro fator é que com a idade se torna mais frequente a presença de comorbidades, como hipertensão, diabetes, que também aumentam o risco de formas graves da dengue", explicou a infectologista.
Perda
Servidora pública, Valéria (nome fictício) vive o luto pela perda do pai, aos 82 anos. Ele morreu ao contrair dengue. "Buscamos ajuda logo nos primeiros sintomas. Ele foi atendido na tenda, recebeu hidratação e mandaram para casa", lembrou. Dois dias depois, os sintomas pioraram. Ele começou a pintar o corpo de vermelho e a ter dores abdominais. "Voltamos à tenda e encaminharam ele para a UPA, mas já era tarde. Ele morreu no mesmo dia que deu entrada", disse.
Valéria ainda tenta entender a morte do pai. "Apesar da idade, ele era uma pessoa muito ativa: estava bem de saúde, fazia caminhadas, cozinhava. É inaceitável pensar que meu pai morreu por conta da picada de um mosquito", indignou-se.
Aline Laiorrana Silva Santos, de 27 anos, e o marido Ricardo Ximenes de Oliveira, 40, estavam a quatro dias em busca de assistência para a filha Hellena Santos Ximenes, de 9 meses, que estava doente havia cinco dias. "Já fomos ao hospital de Taguatinga, nos mandaram para casa. Fomos à UBS 11 de Samambaia Norte, nos falaram que ela estava desidratada, deram um soro e mandaram para casa. Aqui, no Hospital Materno Infantil (Hmib), está pior ainda", desabafou Aline. Por fim, os pais decidiram pagar uma consulta particular, na qual se constatou que a criança estava com dengue e roséola.
Colaborou Pablo Giovanni
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