Água, cestas básicas, roupas, sapatos e kits de higiene. Nos vários pontos de coletas do Distrito Federal, não param de chegar doações para o Rio Grande do Sul que, há pelo menos quinze dias, sofre com chuvas intensas e enchentes. O estado acumula 148 mortos, 124 desaparecidos e 806 feridos, conforme boletim da Defesa Civil do RS, divulgado às 12h de ontem. No Serviço Social do Comércio (Sesc-DF), na Comunidade Chinesa e na Câmara Legislativa, a movimentação em prol das vítimas é intensa.
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No ponto instalado na CLDF, torcidas organizadas do Palmeiras, Grêmio, Internacional e Corinthians se uniram para arrecadar donativos, totalizando cerca de três toneladas, que lotaram a entrada do edifício. O advogado Gilberto Macedo, 41 anos, é integrante da Mancha Verde e ajudou a descarregar um caminhão de caixas e sacolas. "As ações sociais são desenvolvidas durante todo o ano, mas, agora, estão concentradas nas vítimas das enchentes. Provavelmente precisaremos de outro caminhão para trazer mais doações", comentou.
O corintiano Inácio Ângelo, 32, contou que, como as torcidas viajam muito pelo país acompanhando o time, fazem amizades com torcedores de vários estados. "Colegas do Rio Grande do Sul estão pedindo ajuda para suas famílias devido à tragédia. Por isso, estamos unidos e firmes neste trabalho social, que irá se prolongar enquanto for necessário", disse o servidor público. A opinião é compartilhada pelo aposentado Doralvino Sena, 61, coordenador regional dos consulados do Internacional em Brasília. "O que nos une é muito maior do que aquilo que nos divide", destacou, completando que, em Porto Alegre, sua cidade natal, alguns parentes e amigos perderam tudo.
Giscard Stephanou, 49, também servidor público e coordenador regional dos consulados do Grêmio na capital federal, relatou que a casa do pai, em Porto Alegre, está inundada. "Quem não perdeu o lar, está sem água, sem luz ou sem comida. Todos estão sendo afetados. Com essa mobilização, queremos lembrar que o futebol, responsável por unir todo o país, também estimula a solidariedade. Apesar das rivalidades, estamos aqui por uma causa maior e vamos continuar até que o Rio Grande do Sul possa se reerguer", destacou.
Comoção
Usuários dos serviços do Sesc também estão mobilizados nas campanhas de arrecadação. Em apenas uma semana, as oito unidades já contabilizaram mais de 70 toneladas de itens. Segundo a gerente do Sesc Mesa Brasil, Cláudia Vilhena, responsável pela operação de recebimento e envio dos donativos, os produtos mais doados até agora são roupas e água. Ela explica que a orientação da Defesa Civil do RS é que sejam priorizadas as doações de alimentos, cobertores, material de higiene pessoal, material de limpeza, fraldas e absorventes.
“A gente pede, encarecidamente, que se for doar roupa, que lave e passe antes. Coloque em sacos e identifique separadamente, entre masculina, feminina e infantil. Lá, está com problema de abastecimento de água. Então, não há como lavar esses itens. A roupa chega e as pessoas já colocam no corpo”, detalha. Todas as doações são recolhidas pelas equipes e encaminhadas à sede do programa Sesc Mesa Brasil. Nesse local, é feita a triagem do material, que é embalado segundo as especificações feitas pela FAB.
Na manhã de ontem, a servidora Iolanda Barros, 45, tinha uma aula de natação agendada na unidade da 913 Sul e aproveitou para levar roupas e calçados, em bom estado, que não usava mais. "Sempre que posso, faço doações. Fiquei muito comovida com as notícias na televisão", comentou. A empresária Luciana Cardoso, 38, pratica exercícios na mesma unidade e fez questão de garantir a refeição de alguns dos cães resgatados no Sul, doando dez quilos de ração. "Eu me sensibilizei com a situação dos pets, pois tenho dois em casa e sei o quanto precisam de cuidados. Da próxima vez, trarei ração para gatos", adiantou.
Estendendo a mão
A Comunidade Chinesa é mais uma organização empenhada em ajudar os moradores do RS. Em uma vaquinha, foram arrecadados R$ 80 mil, gastos na compra de mantimentos. O resultado foi cerca de 1,3 mil cestas básicas e mil fardos de água, totalizando 20 toneladas de mantimentos. Uma montadora de carros elétricos chineses irá dobrar a quantidade de doações, que seguem de caminhão em direção ao Sul. Lilian Wang, que faz parte da comunidade, destaca a importância de ajudar. “Queremos retribuir à sociedade brasileira, que sempre nos recebeu de braços abertos. É um povo caloroso e amigável. Não vamos deixar de estender nossa mão”, ressaltou.
A Comunidade Chinesa e a Cooperativa de Produção e de Compra Em Comum dos Empreendedores da Feira dos Importados do DF (Cooperfim) organizaram as doações na feira. “A comunidade tomou a iniciativa e nos procurou. A associação e alguns empresários da feira toparam participar e foi tudo muito rápido, em quatro dias, estava pronto”, contou Damião Leite, presidente da Cooperfim.
Uma das pessoas que ajudou foi o comerciante Sinvair de Sousa, 58. “Trabalho na feira e vi essa manifestação. Então, procurei contribuir de alguma forma, pois sabemos o que as pessoas do RS estão sofrendo”, disse.
*Estagiário sob a supervisão de Malcia Afonso
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