meio ambiente

Especialistas, associações e usuários apontam o valor da coleta seletiva

Separar o lixo e encaminhá-lo corretamente para a reciclagem contribui para a diminuição de problemas ambientais e sociais. Especialistas apontam mais um benefício: geração de renda

Edmundo Chamon, 63, aderiu à compostagem há oito anos, após se engajar com um grupo que ensina como produzir seu próprio alimento
 -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Edmundo Chamon, 63, aderiu à compostagem há oito anos, após se engajar com um grupo que ensina como produzir seu próprio alimento - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Até maio deste ano, o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) do Distrito Federal recolheu 44% de todo o lixo coletado em 2023, que acumulou 712 mil toneladas de resíduos. Desse montante, apenas 7,45% foram encaminhados para reciclagem. Apesar de ainda ser um índice baixo, essa é a maior porcentagem contabilizada desde 2014, quando a coleta seletiva foi implementada na capital. Quando não são descartados corretamente, esses materiais podem causar problemas ambientais e sociais significativos, como a contaminação do solo, a poluição de mananciais e o entupimento de bueiros, que contribuem, por exemplo, para a ocorrência de alagamentos. 

Daí a importância de separar o próprio lixo e encaminhá-lo para reciclagem, definida como todo processo industrial no qual os resíduos coletados são desmanchados e se transformam em novos produtos. Com ações individuais e coletivas, como o trabalho feito pelas cooperativas de catadores, a quantidade de materiais descartados em aterros sanitários também é reduzida de forma considerável, conforme ressaltou Izabel Zaneti, professora do Centro de Desenvolvimento Sustentável, da Universidade de Brasília. No DF, apenas as regiões do Sol Nascente/Pôr do sol e de Água Quente não possuem coleta seletiva. 

"Alumínio e papel são materiais que têm uma reciclagem mais rápida. As latinhas, muito procuradas por catadores, têm alto valor no mercado, visto que empresas compram cem por cento para industrializar. O papel vai para a indústria para a produção de novos papéis, evitando a derrubada de árvores", explicou a professora, que também é doutora em desenvolvimento sustentável e especialista em resíduos sólidos e educação ambiental.

Melhora de vida

Na Associação Recicla Brasília, fundada em 2008, cerca de 80 toneladas de resíduos são recicladas por mês. Após ser coletado pelo SLU, o lixo é levado aos 40 catadores da cooperativa para passar por triagem e ser comercializado às indústrias. O que não for possível aproveitar, é levado aos aterros. Morador da Estrutural, Roque Moreira, 42 anos, está na associação há 10 anos. Segundo relatou, o plástico é o resíduo mais recolhido. "No melhor mês, cada catador lucra, em média, R$ 1 mil", revelou o diretor do espaço. 

Antes catador autônomo, Roque explicou que, na cooperativa, a qualidade do trabalho melhorou. "A associação acolhe principalmente pessoas com dificuldades para conseguir emprego", disse. Izabel Zaneti ressaltou que as cooperativas são fundamentais no desenvolvimento econômico da comunidade. "Muitos guardam papéis, latas, plásticos e vidros para vender em quantidades maiores quando o preço estiver melhor para a venda", comentou. 

Conforme pontuou a especialista, a política de reciclagem em Brasília pode melhorar a coleta seletiva solidária. A Lei Distrital nº 4.792/2012 instituiu a coleta seletiva solidária no âmbito dos órgãos públicos do GDF, determinando que todo e qualquer resíduo reciclável seja entregue às cooperativas de catadores de materiais recicláveis. "Educação ambiental nas escolas e visita aos aterros podem ser estratégias para conscientizar a população sobre a importância de diminuir a produção de lixo", avaliou a professora.

Orgânico e seco

Quem conseguiu diminuir consideravelmente a geração de lixo foi o aposentado Edmundo Chamon, 63, que aderiu às composteiras para dar novo fim aos dejetos orgânicos produzidos em sua casa. A prática começou há oito anos, quando recebeu dicas de como produzir os próprios alimentos por um grupo nas redes sociais. "Minha primeira composteira foi feita com alguns baldes que eram usados para armazenar tinta. O passo inicial é separar o lixo orgânico do seco", afirmou.

Dividida em três compartimentos, a composteira — hoje mais moderna — recebe cascas de frutas e legumes e resto de vegetais. "Não se deve colocar alimentos cítricos, que podem aumentar a acidez da mistura, nem aqueles de origem animal", recomendou. Os resíduos orgânicos são, então, combinados com terra e capim (ou serragem).

"Quando o volume do compartimento superior atinge 3/4 do espaço, troco-o de lugar com a seção do meio. Assim, reinicia-se o processo diário de mistura. Esses dois compartimentos possuem furos, por onde desce o chorume para a seção inferior. Tanto o chorume, que deve ser diluído em água, quanto a matéria orgânica produzida, que convém ser misturada à terra, são poderosos fertilizantes naturais para hortas, pomares e plantas ornamentais", detalhou.

Para acompanhar os dias e horários que as coletas seletivas ocorrem em sua cidade, consulte o site https://www.slu.df.gov.br/ ou o aplicativo do SLU.

 


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postado em 09/06/2024 00:30
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