Investigação

Delegado que atirou em mulheres estava afastado por problemas de saúde mental

Mikhail Rocha e Menezes foi preso depois de efetuar disparos contra a mulher, a empregada e uma enfermeira. A tragédia ocorreu na manhã desta quinta-feira (16/1)

Nota do Sinpol aponta que Mikhail Rocha e Menezes estava afastado por problemas de saúde mental -  (crédito: Material cedido ao Correio)
Nota do Sinpol aponta que Mikhail Rocha e Menezes estava afastado por problemas de saúde mental - (crédito: Material cedido ao Correio)

O delegado da Polícia Civil (PCDF) Mikhail Rocha e Menezes — preso por atirar na esposa, Andréa Rodrigues Machado, 40 anos, na empregada, Oscelina Moura Neves de Oliveira, 45, e na enfermeira, Priscila Pessoa — estava afastado do cargo por problemas de saúde mental. O Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol-DF) emitiu uma nota de alerta sobre os índices de adoecimento mental entre policiais civis e delegados da corporação e afirmou que a tragédia escancara a face real do problema.

O ataque bárbaro ocorreu na manhã desta quinta-feira (16/1). Depois de atirar na esposa e na empregada, no Condomínio Santa Mônica, em São Sebastião, Mikhail deixou o condomínio junto ao filho de 7 anos e o cachorro da família. Câmeras de segurança registraram o delegado deixando o residencial em um carro preto.

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Segundo as investigações, o filho do delegado se feriu com os estilhaços dos tiros disparados no condomínio. Mikhail procurou atendimento no Hospital Brasília, no Lago Sul. Ao Correio, uma testemunha contou que o homem chegou nervoso e pediu atendimento prioritário à criança. A enfermeira, que é chefe do pronto-socorro do hospital, disse que ele precisaria preencher uma ficha antes. Nervoso, o homem efetuou dois disparos, um no pescoço e outro no ombro, da profissional de saúde.

O delegado foi preso pela Polícia Militar na altura da QI 23 do Lago Sul. Ele não resistiu a prisão e foi conduzido à Corregedoria da PCDF.

Saúde mental em nota do Sinpol-DF

Entidades da PCDF se manifestaram sobre o caso e chamaram a atenção para os índices de adoecimento mental entre policiais civis e delegados da corporação e afirmou que a tragédia escancara a face real do problema.

O Sindicato dos Delegados de Polícia Civil (Sindepo-DF) e o Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol-DF) publicaram, nas notas oficiais, um estudo feito em 2023, que mostra a porcentagem de policiais civis que relataram sintomas de depressão e ansiedade. O levantamento revelou um percentual de 74,4%, embora apenas 42,7% tenham buscado apoio psicológico ou psiquiátrico.

De acordo com o Sinpol-DF, cerca de 400 policiais civis apresentam atestados médicos por afastamento decorrente de transtornos mentais todos os anos, conforme informações do Departamento de Gestão de Pessoas (DGP) da PCDF, analisadas pelo sindicato.

Para o presidente do Sinpol-DF, Enoque Venancio de Freitas, o adoecimento mental dos policiais é resultado de uma combinação de fatores, sendo o principal o excesso de trabalho para manter as delegacias operando 24 horas por dia, em grande parte devido ao Serviço Voluntário Gratificado (SVG), que se tornou uma fonte essencial de complemento de renda desses profissionais.

“Com a defasagem salarial e o acúmulo inflacionário dos últimos anos, os policiais civis e delegados do DF recorrem ao SVG para sustentar suas famílias e evitar o superendividamento. Contudo, isso significa abrir mão do tempo de descanso e das folgas, o que inevitavelmente afeta a saúde mental. A mente humana tem seus limites, e as consequências são sempre as piores”, destaca Freitas.

O presidente expressou solidariedade às vítimas, classificando o ocorrido como “mais um episódio triste e lamentável envolvendo profissionais da segurança pública, seus familiares e outros”. Ele reforça que este caso é reflexo de um problema mais amplo, que exige atenção e ações efetivas.

“É uma realidade cruel, oculta e silenciosa. Há anos alertamos sobre os impactos do sentimento de desvalorização que atinge esses profissionais. O custo para que Brasília se mantenha como a segunda capital mais segura do país – e, ainda mais, sendo a capital da República – é altíssimo, recaindo diretamente sobre a saúde mental dos policiais civis”, afirma.

Darcianne Diogo
postado em 16/01/2025 14:45 / atualizado em 16/01/2025 19:35
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