Fundação Athos Bulcão

Com a marca de Athos Bulcão, loja tem acervo de mais de 700 peças

Lojinha na 510 Sul vende painéis de azulejo, canecas, ecobags, colchas, cadeiras e calendários inspirados na obra de um dos principais nomes da criação de Brasília

É difícil passar pela lojinha e não comprar alguma lembrança de Athos Builcão -  (crédito:  Carlos Vieira/CB Press)
É difícil passar pela lojinha e não comprar alguma lembrança de Athos Builcão - (crédito: Carlos Vieira/CB Press)

Criada em 1992, por Evandro Salles, Eduardo Cabral e Carla Osório, um grupo de admiradores da obra do artista, a Fundação Athos Bulcão é a principal entidade do país responsável por divulgar e preservar o trabalho do artista carioca. Além de ter um acervo de mais de 700 peças fornecidas pelo próprio Bulcão, o local oferece oficinas artísticas, projetos de educação patrimonial e palestras. Entretanto, com a falta de recursos públicos, a loja de souvenires e os projetos feitos sob encomendas se tornaram as únicas fontes de renda da Fundação. 

"Fazer cultura no nosso país é muito difícil; nós (da Fundação) passamos por muitos perrengues. Antes, nós trabalhávamos no Centro de Dança, onde ocupávamos algumas salas vazias, com o apoio da Secretaria da Cultura, porque lá era um prédio praticamente abandonado. Um lindo dia, a secretaria acabou com o convênio que tinha com a gente, e o Ministério Público nos despejou", relembra Valéria Cabral, secretária executiva da Fundação Athos Bulcão, sobre como a loja de souvenires na 510 Sul, que antes era um acréscimo, agora tornou-se uma necessidade para manter a organização em funcionamento.

 2025 Carlos Vieira/CB Press. Fundação Athos Bulcão (lojinha).
Cubo mágico inspirado nos azulejos de Athos Bulcão (foto: Carlos Vieira/CB Press)

Segundo ela, o primeiro item criado como uma forma de lembrança foi pelas mãos de Luiz Carlos Cruvinel, artista e amigo de Athos, que criou uma xícara de café ilustrada com desenhos do conterrâneo por volta de 1998. "Como todos os museus do mundo, as pessoas utilizam os trabalhos de grandes nomes para fazer produtos, porque, se você não pode levar um Picasso para casa, por exemplo, pode levar um cartão-postal com a mesma imagem do museu. Isso faz com que você se sinta mais próximo de uma obra que você gostaria", afirma.

Em 2001, a Fundação recebeu um pedido do chefe do cerimonial do Itamaraty para que fosse criado um item que simbolizasse o DF e que o recém-eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva pudesse dar de presente a visitantes estrangeiros. "Criamos a primeira moldura com duas peças de azulejo igual ao da Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima, que depois a presidente Dilma Rousseff deu ao Papa e que saiu em todos os jornais do mundo. A partir daí, passamos a comercializar mais coisas, como canecas de diferentes tamanhos, e a fazer molduras com até mais de seis peças de azulejos", lembra Valéria. 

 2025 Carlos Vieira/CB Press. Fundação Athos Bulcão (lojinha).
Valéria Cabral: produtos vendidos na lojinha ajudam a Fundação a se manter (foto: Carlos Vieira/CB Press)

Presentes autorais

Com o sucesso das molduras de azulejos, surgiram também parcerias com outras lojas e artistas, que davam suas sugestões de produtos ou suas releituras das obras de Athos para a Fundação e esperavam a aprovação. Além das parcerias, os itens comercializados são criados a partir de ideias que os próprios funcionários do espaço cultural têm e que, após uma reunião para checar a viabilidade, são aceitas. Tanto a Universidade de Brasília (UnB) quanto outras faculdades brasilienses também colaboraram com a organização ao produzirem um jogo da memória e baralhos de cartas. "Brasília é uma cidade muito ruim de lembrancinhas. Então, a Fundação supre a necessidade de ter algo que lembre a cidade e que seja de boa qualidade. Por exemplo, não sai um diplomata daqui que não leve uma coisa do Athos", ressalta Valéria. 

Para uma pessoa ou loja usar imagens do trabalho do professor e artista, é necessário pagar uma taxa de direito de uso de imagem e uma porcentagem de 6,5% do valor de venda de cada item. "Todos que trabalham com a gente nos dão uma contrapartida, seja financeira, seja em forma de oficinas”, enfatiza a secretária executiva. Caso o uso da imagem não passe pela vistoria do local, o indivíduo é notificado para entrar em contato com a Fundação e, se ignorar o aviso, será multado e processado pelo escritório de advocacia que atua em nome do espaço. 

 2025 Carlos Vieira/CB Press. Fundação Athos Bulcão (lojinha).
A variedade de produtos agrada diferentes faixas de público (foto: Carlos Vieira/CB Press)

As três peças mais vendidas são as famosas canequinhas, ecobags e calendários. No geral,  souvenirs de pequeno porte são os mais levados devido à facilidade de transporte, principalmente para os turistas que visitam Brasília quanto quem deseja presentear alguém. Valéria também expõe que o padrão preferido dos clientes é da Igrejinha. "A obra do Athos preza pela multiplicidade por ser um desenho, que apesar de simples e geométrico, é muito elegante. É um desenho com movimento e cores primárias que, por isso, agrada rapidamente as pessoas", discorre. Ao chegar na loja, o produto é conferido um por um e, caso não esteja nos padrões de qualidade, não entra no estoque. A fundação contacta o fornecedor, que, às vezes, pede a mercadoria de volta, e se não pedir, é posta à venda sob uma promoção que ocorre anualmente com apenas as "danificadas". 

A outra fonte de renda da Fundação é a reprodução de painéis de Athos de obras públicas em residências particulares, mas com condições. "É óbvio que não vamos reproduzir o painel do Congresso Nacional e o do Hotel Brasília Palace na fachada da casa de ninguém. O da Igrejinha é apenas para locais religiosos", Valéria. Para encomendar esse tipo de serviço, basta mandar um e-mail para a organização com informações como, o nome da obra desejada e a metragem do local onde será exposta, além de ser preciso enviar fotos do local que receberá o painel.  

O interessado é notificado antes de finalizar a compra que os azulejos não podem ser cortados para receber armário, interruptor ou tomada. "Temos que ter esse cuidado porque tem gente que quer usar o trabalho do Athos como revestimento. E não é, é uma obra de arte", frisa. Antes de enviar a encomenda, é feita a paginação de acordo com as instruções que o artista forneceu à Fundação. Ao chegar no lugar, o cliente deve montar seguindo a paginação feita na loja. No azulejo enviado, é escrito "padrão exclusivo criado para (nome do lugar)", a data da obra e a assinatura do Athos Bulcão para identificar que o painel foi montado com a autorização da Fundação. A secretária executiva ainda conta que antigamente eram vendidos os azulejos separados, mas, depois que descobriu que alguns clientes alteravam o padrão original dos azulejos, praticamente criando um novo painel, a loja passou a enviar com a paginação pronta. 

Ela também orienta que é necessário fazer a manutenção uma vez ao mês dos azulejos comprados com um pano com água e sabão. Se a peça for danificada, o cliente pode informar a loja, que enviará um restaurador para verificar o dano. Depois, o comprador receberá da Fundação o orçamento. "Se for uma pequena fissura, que é possível recompor, basta utilizar uma das peças que enviamos extras em casos assim. Mas se o estrago não for suficiente para ser reparado pelas peças extras, serão feitas novas peças pela loja. O problema é que quando não é do mesmo lote, o azulejo fica diferente esteticamente, a cor muda etc", esclarece.

Olhar de artista

Quando a paulista Leila Sobral se mudou para Brasília, em 2008, pôde conhecer mais de perto as obras de Athos Bulcão. Ao reformar seu apartamento, decidiu que queria uma peça que representasse o quadradinho: "Em uma conversa com meu marido e um amigo arquiteto, tivemos a ideia de criar um painel em aço corten com o desenho dos azulejos do Athos. E escolhemos como referência o painel do Centro Cultural Missionário da CNBB". 

Mais tarde, em uma visita à exposição do centenário do artista, a engenheira se sentiu inspirada a continuar o trabalho iniciado. Assim, em novembro de 2018, procurou a Fundação Athos Bulcão, e com autorização por meio de um contrato assinado, passou a reproduzir e comercializar outras referências dos painéis de Athos em aço corten.

Os painéis em aço corten são o diferencial da engenheira paulista
Painel em aço corten da engenheira paulista Leila Sobral (foto: Reprodução / Arquivo pessoal)

"O desenho de cada peça é previamente aprovado pela Fundação. Com exceção dos mini painéis, todas as demais peças são numeradas e possuem um certificado de autenticidade assinado por mim e pela Valéria", explica. Segundo ela, após o corte, que é feito por equipamentos a laser, é realizado um tratamento para acelerar a oxidação do material: "O processo de aceleração do envelhecimento da peça é feito manualmente e cada uma atinge um resultado final diferente, seja na tonalidade, cor e uniformidade, tornando-a única".

O pequeno painel de aço corten baseado nos azulejos da Igrejinha são os queridinhos dos clientes de Leila
Pequeno painel de aço corten baseado nos azulejos da Igrejinha, de Leila Sobral (foto: Reprodução / Arquivo pessoal)

Um dos últimos trabalhos de Leila foi para o Superior Tribunal Militar (STM), que encomendou uma reprodução de um painel de Athos que a sede possuía para criar uma divisória de ambiente. "As possibilidades do uso do aço ficam em linha com a ideia original do artista da obra fazer parte da arquitetura", destaca a paulista, que é apaixonada por cada obra que faz. Por enquanto está à venda na loja da Fundação apenas um mini painel inspirado na Igrejinha. Os demais produtos da engenheira podem ser vistos e encomendados por meio da conta no Instagram @leilasobral_LS.

Beleza da cidade

Formada em Arquitetura pela Universidade de Brasília (UnB), Gabriela Tenório conheceu a obra de Athos Bulcão por meio das visitas aos monumentos de Brasília e pelos estudos na faculdade. Há nove anos, resolveu fazer souvenires da capital federal como hobby e criou a conta no Instagram @urb_memorias: "A intenção era fazer jus à beleza da cidade, da sua arquitetura e suas obras de arte criando miniaturas, pequenos objetos de decoração, ímãs, brinquedos... E o trabalho do Athos é uma fonte inesgotável de inspiração para isso!".

Os móbiles de Gabriela chamam a atenção por onde passam
O móbile de Gabriela Tenório é a criação preferida da arquiteta (foto: Reprodução / instagram: @urb_memorias)

Dessa forma, entrou em contato com a Fundação por e-mail para submeter sua ideia e fez uma reunião com a secretária executiva. Embora seu primeiro projeto não tenha sido aprovado, trabalhou outras ideias que foram bem aceitas e pôde iniciar uma parceria com a organização. Para venda exclusiva na loja, criou uma miniatura de máscara, em latão, que se esgotou quando foi lançada, e um kit de "cobogozinhos", que representam os elementos vazados em quatro modelos desenhados por Bulcão para a fachada do edifício sede da FIEP (Federação das Indústrias do Estado da Paraíba). 

Com o aval da Fundação, Gabriela vende em outros pontos móbiles inspirados nos painéis de azulejos da Igrejinha, da Torre de TV, do Mercado das Flores e do Parque da Cidade. A mercadoria veio, segundo ela, da ideia de desconectar as figuras de seus fundos quadrados e fazê-las voar de maneira que o vento dê aos seus componentes movimento. "Os móbiles são os meus favoritos, pelas novas composições que trazem a cada brisa e pelas sombras variadas que projetam quando iluminados", destaca.

Mini cobogós
Os mini cobogós inspirados em Athos Bulcão são uma das marcas registradas da arquiteta Gabriela Tenório (foto: Reprodução / Arquivo pessoal)

 

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

 

  •  Valéria Cabral: produtos vendidos na lojinha ajudam a Fundação a se manter
    Valéria Cabral: produtos vendidos na lojinha ajudam a Fundação a se manter Foto: Carlos Vieira/CB Press
  • A variedade de produtos agrada diferentes faixas de público
    A variedade de produtos agrada diferentes faixas de público Foto: Carlos Vieira/CB Press
  • Cubo mágico inspirado nos azulejos de Athos Bulcão
    Cubo mágico inspirado nos azulejos de Athos Bulcão Foto: Carlos Vieira/CB Press
  • O móbile de Gabriela Tenório é a criação preferida da arquiteta
    O móbile de Gabriela Tenório é a criação preferida da arquiteta Foto: Reprodução / instagram: @urb_memorias
  • Pequeno painel de aço corten baseado nos azulejos da Igrejinha, de Leila Sobral
    Pequeno painel de aço corten baseado nos azulejos da Igrejinha, de Leila Sobral Foto: Reprodução / Arquivo pessoal
  • Painel em aço corten da engenheira paulista Leila Sobral
    Painel em aço corten da engenheira paulista Leila Sobral Foto: Reprodução / Arquivo pessoal
  • Os minicobogós inspirados em Athos Bulcão são uma das marcas registradas da arquiteta Gabriela Tenório
    Os minicobogós inspirados em Athos Bulcão são uma das marcas registradas da arquiteta Gabriela Tenório Foto: Reprodução / Arquivo pessoal
Catharina Braga*
CB
postado em 24/01/2025 06:00
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