
A voz de Nana Caymmi me toca como um abraço caloroso, que envolve com ternura e afeto. Os temas das canções muitas vezes falam do amor romântico, mas sempre cabem interpretações que nos permitem ampliar os horizontes. Houve também o sucesso do pai, Dorival, Acalanto, canção de ninar que ele compôs para ela, unindo a um clássico do cancioneiro popular. A família de artistas nos encantou tanto e tantas vezes surpreendeu com o talento musical.
A partida da artista, na última quinta-feira, nos deixa um pouco órfãos. Dessa voz poderosa e do apreço pela qualidade vocal difícil de se encontrar. Nana é contemporânea de Elis e Gal, outras duas cantoras que marcaram para sempre a história da música popular brasileira. Seus caminhos se cruzaram com os de Gil, Fernando Brant, Aldir Blanc, e teve a influência do próprio pai e dos irmãos, é claro.
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O resultado foram músicas de primeiríssima qualidade, sejam canções de protesto que fincaram posição durante a ditadura, sejam as que estouraram popularidade nas novelas e minisséries queridinhas do momento. Hoje, tenho dúvidas se não foi a interpretação dela que me levou a assistir aos folhetins, em vez do contrário. Do suave veneno, que podia "curar ou matar", à sua visceral interpretação de Resposta ao tempo.
"Respondo que ele aprisiona / Eu liberto / Que ele adormece as paixões / Eu desperto / E o tempo se rói / Com inveja de mim / Me vigia querendo aprender / Como eu morro de amor / Pra tentar reviver / No fundo é uma eterna criança / Que não soube amadurecer / Eu posso, ele não vai poder / Me esquecer"
Além da voz, ela tinha esse sorriso que generoso, uma firmeza que guiou a carreira sem desvios para atender as demandas da indústria musical. Ela brincava que o pai não a perdoaria se desse o braço a torcer. É dessas músicas que a gente gosta "de graça", como de algumas pessoas, inclusive Nana.
Imagino como não seria bom sentar à mesa na companhia dela para um almoço que se estende em um lanche da tarde e vai até o jantar em conversas que se alongam, entre histórias dos festivais e brincadeiras musicais da família Caymmi no Rio de Janeiro. Nana, o tempo não te esquecerá.