Por décadas, os acordes do blues, do rock e do jazz encontraram abrigo em Taguatinga — e, muitas vezes, esse abrigo tinha nome, rosto e alma: Lazia Barbosa ou, como ficou conhecida, Lazia Blues. Fundadora do lendário Blues Pub, ela é uma das personagens mais marcantes da cena cultural da cidade e guarda, na memória e no coração, os tempos em que Taguatinga pulsava ao som de guitarras e poesia em espaços que iam muito além do entretenimento. Eram pontos de encontro, resistência e criação.
"Meu primeiro contato com a cena cultural em Taguatinga foi nos anos 1980, ouvindo a banda Nazareth num bar da Comercial Norte. Ali, começou tudo", relembra Lazia, com o entusiasmo de quem viveu intensamente cada momento. O envolvimento com a vida noturna da cidade se aprofundou com o Botiquim Blues, bar que se tornaria uma referência estética e afetiva. "Era estilo pub londrino, cheio de decorações de artistas da cidade, esculturas e pinturas do agora novaiorquino Fernando Carpaneda. Um lugar único".
O Botiquim era um espaço alternativo que abrigava sinuca, fliperama, dardos — mas, principalmente, música ao vivo e poesia. Com o fechamento da casa em 2001, Lazia decidiu continuar o legado, abrindo o Blues Pub, nascido da mistura entre necessidade e paixão. "A proposta era a mesma: dar oportunidade a bandas e músicos que precisavam de lugares para tocar", conta.
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E assim foi. O Blues Pub se transformou em um dos principais palcos da música autoral no Distrito Federal. Por lá passaram nomes como Móveis Coloniais de Acaju, que protagonizou uma das noites mais emblemáticas da casa. "Lotou tanto que tivemos que fechar as portas antes do show começar", relembra. Também marcaram presença poetas, roqueiros, famílias inteiras. "O público era fiel. Vinham de todo o DF conferir as novidades. E o espaço acolhia de tudo, do blues ao thrash metal", emociona-se.
Para Lazia, os dois bares foram fundamentais para o florescimento da cena musical em Taguatinga. Enquanto o Botiquim apostava em um ambiente mais seleto, com blues, jazz, apresentações poéticas e intervenções da Tribo das Artes; e o Blues Pub intensificou a mistura, ampliando repertórios e públicos. "O que fazia de Taguatinga um espaço tão vibrante era justamente isso: as oportunidades. Naquela época, nos anos 1980, 1990 e início dos anos 2000, os lugares eram escassos. Tínhamos sede de cultura."
Neste aniversário de Taguatinga, Lazia Blues é mais do que uma memória viva — é símbolo de uma cidade que pulsa arte em meio ao concreto. Ela observa com orgulho e uma ponta de saudade o que construiu com sua comunidade. "Sinto orgulho de fazer parte dessa cidade, de ter filhos e netos taguatinguenses. Até hoje sou parabenizada pelos encontros culturais que realizei", afirma.
