PESQUISA

Embrapa monitora espécies vegetais exóticas para evitar pragas

A Embrapa abriga a única estação do Centro-Oeste, onde espécies vegetais exóticas são monitoradas para evitar contaminações no país. Dez mudas de tâmaras dos Emirados Árabes foram entregues ao Palácio da Alvorada

Após passarem por quarentena, mudas de tamareiras foram entregues ao administrador do Palácio da Alvorada, Moacir Bortolozo (C) -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Após passarem por quarentena, mudas de tamareiras foram entregues ao administrador do Palácio da Alvorada, Moacir Bortolozo (C) - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A única Estação Quarentenária de Germoplasma Vegetal do Centro-Oeste está localizada em Brasília, na sede a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Normativa do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) determina que a quarentena é necessária para todas as plantas que vêm de fora do país, como forma de controle de pragas associadas. Nesta quinta-feira (3/7), um conjunto de 10 mudas de tamareiras vindas dos Emirados Árabes foram entregues ao Palácio da Alvorada após passarem 10 meses em quarentena. As mudas são um presente do governo do país ao Brasil. No total, foram doadas 110 mudas, sendo que 100 foram para o governo da Bahia.

A reportagem do Correio conversou com pesquisadores, que explicaram a importância da estação quarentenária para a segurança das espécies vegetais vindas de fora e cultivadas no Brasil. "Desde 1992, a Embrapa foi estabelecida como mantenedora do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA). Portanto, se qualquer pessoa quer importar material de fora para pesquisa, precisa passar pela quarentena na Embrapa", explicou o pesquisador Norton Benito. "Na quarentena, a gente coleta amostras e leva para o laboratório para realizar diferentes avaliações. São analisados fungos, vírus, bactérias, insetos, ácaros, plantas infestantes, entre outras coisas. O tempo de quarentena pode variar entre quatro meses e dois anos", acrescentou.

Atualmente, 33 espécies diferentes estão sendo monitoradas na estação quarentenária. "Ela existe desde 1976 e, desde então, 95 pragas que não existiam no Brasil foram interceptadas. Passaram pela quarentena mais de 850 mil amostras de material vegetal de mais de 200 gêneros botânicos", elencou o pesquisador. "Após a quarentena, nós emitimos um laudo e encaminhamos ao Departamento de Sanidade Vegetal do Mapa. A decisão sobre se as plantas podem ser liberadas ou não é de lá. Quando precisam ser descartadas por estarem contaminadas, elas são incineradas aqui mesmo na Embrapa", completou. 

Tamareiras

As mudas doadas ao Palácio da Alvorada se juntarão a outras espécies, cultivadas no local. "O presidente Lula recebe muitas mudas de presente e muitas árvores frutíferas. Nós temos um pomar com várias espécies de frutas, cítricas e não cítricas também. Temos um grupo de tamareiras lá que foram plantadas, na época que foi construído o Palácio da Alvorada, que hoje elas produzem", disse o administrador do Palácio da Alvorada, Moacir Bortolozo.

As tamareiras são conhecidas por levarem entre 80 e 100 anos para frutificarem. "Quem planta tamareira não colhe tâmara", diz um antigo ditado árabe. De acordo com a pesquisadora da Embrapa, Eloisa Belleza, o ditado é coisa do passado. "Atualmente, com novas técnicas de melhoramento e produção, quem planta tamareiras poderá colher os frutos antes mesmo de uma década", explica.

Nas mudas de tamareiras trazidas dos Emirados Árabes, foram realizadas análises de sete diferentes grupos de pragas antes da liberação a quarentena. A Embrapa tem trabalhado em sistemas de produção para tamareira no Brasil, com foco em regiões como o semiárido, como na Bahia, onde a planta pode ser uma alternativa para a ocupação de áreas degradadas e solos com características semelhantes às regiões desérticas. 

Alerta

Os pesquisadores alertaram sobre o transporte de plantas, mudas e sementes por parte de viajantes que visitam outros países. "Só de olhar para uma semente, não é possível detectar se ela contém um fungo ou não, para isso, seria necessária a análise por um especialista. Se a semente está contaminada com um fungo e ela é plantada, a praga é introduzida no país e pode vir a se manifestar somente anos depois, fazendo estragos que podem ser ambientais, financeiros ou até mesmo para a saúde", destacou o pesquisador Norton Benito. "O fungo introduzido hoje não se torna praga amanhã, pode levar até 10 anos. Tem um tempo de adaptação e para ser disseminada. E quando a praga é detectada nesses casos, é impossível rastrear a origem", detalhou.

Como exemplo do perigo causado por espécies estrangeiras trazidas ao país, a pesquisadora Eloisa Belleza relembrou um episódio ocorrido no Brasil, onde uma praga causada pela lagarta da espécie helicoverpa causou um prejuízo bilionário em uma lavoura, disse, sem detalhar o caso (mas ela ataca milho, soja e feijão, entre outros). "O produtor começou a notar um prejuízo maior a cada ano, até que chamou especialistas e detectou-se uma nova espécie de lagarta, venenosa e agressiva", disse a pesquisadora. "Se o valor desse prejuízo fosse investido na Embrapa, por exemplo, dava para bancar 50 anos de orçamento em pesquisa", comparou Norton Benito.

postado em 04/07/2025 04:00
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