
A história de Brasília precisa sempre ser lembrada. Nesta segunda-feira (7/7), no Podcast do Correio, a escritora e pioneira Mercedes Urquiza contou sobre as suas memórias da construção de Brasília. Entrevistada pelos jornalistas Mariana Niederauer e Ronayre Nunes, ela falou sobre sua trajetória na capital e os dois livros que escreveu para eternizar esse capítulo singular da história do Brasil.
Nascida na Argentina, Mercedes deixou Buenos Aires a bordo de um jipe rumo ao Brasil, em 1957. Sua jornada rendeu duas importantes obras, que registraram os primeiros passos da capital que surgia. A primeira, A trilha do jaguar: na alvorada de Brasília, relata os mil dias de construção até a inauguração da cidade. A segunda, A Nova Trilha do Jaguar: De Brasília, Minhas Memórias, está concorrendo ao Prêmio Candango de Literatura e aborda os anos que se seguiram após a inauguração.
No início do segundo livro, a autora destaca frases do então presidente Juscelino Kubitschek, dita em 20 de abril de 1960, véspera da inauguração: "Um dia virá alguém que fixará no papel a nossa vida de 'candango'. As gerações futuras desejarão saber tudo o que aconteceu na capital da esperança".
Mercedes se identifica com esse papel. "Eu penso muito nas gerações futuras, pois um dia nós (os pioneiros) não estaremos mais aqui. Eu fiz questão de deixar registrado o máximo de informações possíveis da construção de Brasília", afirmou.
O momento mais marcante desses 65 anos da capital, para a escritora, foi nada mais, nada menos do que a própria inauguração. "Era assustadora a velocidade com que eles construíam", relembrou.
Para Mercedes, um dos trechos mais impactantes que escreveu em seu livro diz: "Como encontrar palavras para descrever a inauguração de Brasília? Minhas mãos tremem de emoção e os olhos ficam embaçados. Mas todos merecem conhecer o relato de um dia que significou tanto para a história e o futuro de nosso país, que nunca mais foi o mesmo. Passou da era da carroça para a era industrial. A famosa era JK. A era das grandes realizações, do otimismo geral e de um povo enriquecido pela autoestima e pela confiança num futuro melhor, que estaria ao alcance de todos a partir daquele momento. Fui privilegiada por fazer parte desse grupo".
A escritora defendeu que sua obra ultrapassa o valor literário e se torna uma ferramenta educacional, que atualmente luta para que o livro vá para as escolas. "Eu conto com luxo de detalhes. É um livro tão histórico, e ao mesmo tempo didático. Eu estou tentando que uma nova edição deste meu primeiro livro vá para as mãos dos alunos do segundo grau de todas as escolas. Acredito que não tenha outro livro que conte a história real dos primeiros mil dias de Brasília, com personagens e fotos. É muito instrutivo", adianta.
Sobre os anos seguintes à inauguração, Mercedes lembra com carinho a união entre os pioneiros. "O espírito era de muita fé e otimismo. Era gente de todas as classes sociais, especialmente operários do Nordeste e de Goiás. Muita solidariedade entre todos", contou.
Memória
A importância de preservar a história e de manter viva a memória da construção da capital, especialmente entre os mais jovens, é o objetivo. "É importante manter isso e motivar as gerações atuais. Eu noto que a geração atual não sabe nada sobre a história de Brasília. Se falar sobre a Cidade Livre, que atualmente é o Núcleo Bandeirante, não sabem nem o que era. Precisamos incentivar esses jovens a conhecerem e valorizarem o nosso passado, que é grandioso e único", observou. "Uma cidade que foi construída em mil dias para ser a capital de um país e que, à época, era a capital mais moderna do mundo", completou.
Com uma mensagem para o futuro, Mercedes tem esperança de que a história e o valor de Brasília sejam cada vez mais reconhecidos. "O que eu diria para a geração atual e para as próximas gerações é que acreditem sempre no futuro de Brasília. Brasília é uma cidade predestinada e vai continuar crescendo. Vai ser sempre a cidade do futuro".
Assista à íntegra da entrevista:
*Estagiária sob a supervisão de Malcia Afonso
Cidades DF
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