
A clássica ideia de que a pressão 12 por 8 é sinônimo de saúde pode estar ficando para trás. Os estudos mais recentes mostram que, quando o assunto é hipertensão, os parâmetros mudaram, e os riscos associados também. Em entrevista ao CB.Saúde, Wladimir Magalhães de Freitas, médico cardiologista da Biocardios Instituto de Cardiologia, explica porque valores antes considerados normais agora acendem um sinal de alerta e detalha as novas classificações da pressão arterial. A entrevista, conduzida pelas jornalistas Carmen Souza e Sibele Montenegro, também aborda temas como os impactos do calor extremo ao coração, o papel da obesidade nas doenças cardiovasculares e a polêmica em torno do uso indiscriminado das "canetinhas emagrecedoras".
Pressão 12 por 8 não é mais normal. Que história é essa?
Exatamente. Os estudos têm mostrado que níveis acima de 120 por 70 já aumentam a incidência de algumas doenças. Então, eles criaram três níveis de pressão. A pressão, que é considerada normal, é quando a máxima é abaixo de 120 e a mínima, abaixo de 70. Uma faixa intermediária, que vai do valor acima de 120 até 139 e acima de 70 até 89, é a pressão elevada. E na hipertensão de fato, os critérios continuam os mesmos, que são aqueles indivíduos com pressão acima de 14 ou 140 e acima de 9 ou de 90.
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Apesar da proximidade desses números, a pressão 12 por 8 é, então, para preocupar?
Isso. Esses indivíduos terão quatro vezes mais chance de terem um acidente isquêmico ou hemorrágico, que é o famoso derrame. Vão ter o dobro de chance de ter um infarto, e também um aumento quase linear da insuficiência cardíaca, que é a dilatação do coração, da insuficiência renal. Quanto mais hipertenso, mais chance você tem de perder os rins e ir a uma hemodiálise. E, ao longo da vida, de maneira também quase linear: aumentou a pressão, aumentou sua chance de evoluir a demência, principalmente a demência vascular.
Pode acontecer de você medir a pressão num dia em que passou por um estresse e a pressão subir um pouco. Quando é que a gente consegue perceber que isso é uma constante?
Existem alguns critérios para isso. Por isso, é muito importante o mapa, que é aquele aparelho que fica medindo sua pressão durante 24 horas. Ali, você tira esses vieses, essas interpretações errôneas, porque num momento qualquer, você pode estar conversando ou se movimentando, a pressão sobe, mas no restante do dia, a pressão normaliza. A recomendação ideal é que o diagnóstico seja feito com medidas domiciliares ou por meio do mapa.
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Pode-se falar no monitoramento na adolescência, na infância, e isso virar um hábito?
As melhores práticas são: acima de 40 anos, pelo menos uma avaliação anual. Se você for hipertenso, entra em outra rota. Você vai ter que fazer o acompanhamento. Existem situações especiais. O obeso, às vezes, tem menos de 40 anos, mas o obeso vai ter uma hipertensão causada pela obesidade. Ou, em casos mais excepcionais, quando se tem um histórico familiar muito relevante. Em linhas gerais, se detecta hipertensão antes dos 40 anos, principalmente se for uma hipertensão mais elevada, mais grave, a gente tem que investigar uma causa subjacente.
Hoje, mais da metade da população está com sobrepeso ou obesa. Surgiram no mercado as canetinhas emagrecedoras. Houve pesquisas que mostraram que a canetinha protege, inclusive, a saúde cardiovascular. Isso é real? Até que ponto elas são seguras?
Sem dúvida nenhuma, independentemente da perda de peso, o uso desses medicamentos melhoram a saúde cardiovascular. Isso é fato. Perde-se peso e, consequentemente, você melhora ou diminui a sua chance de vir a ter doenças cardíacas.
O senhor falou dos preços proibitivos, e está para cair a patente de quem descobriu as primeiras canetinhas. Pode ser que o preço caia um pouco. Com os valores muito altos e por ter virado moda, quais os riscos de usar esse tipo de medicamento por conta e risco?
A grande questão é a seguinte. Tomar por conta e risco, além de você não estar habituado aos possíveis efeitos colaterais, como constipação, náuseas e vômitos, tem a questão que, se você interromper o uso, você interrompe o tratamento sem nenhum benefício. Há muito tempo se tem a ideia de que a obesidade é uma doença crônica, da mesma forma que a hipertensão. Se você é hipertenso e todo dia tem que tomar remédio para o tratamento da obesidade, que é uma doença crônica, você vai ter que fazer o uso contínuo dessa medicação. E o uso contínuo é pela vida toda, é isso mesmo.
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