FEMINICÍDIO

"Não deu tempo": filha de vítima de feminicídio relata últimos momentos

Cheryla Carvalho de Lima, 43, levava a filha, Thamyres Carvalho, 22, para o trabalho. Na volta para casa, foi vítima do crime de ódio no estacionamento de uma academia, na QR 516, na tarde desta terça-feira (29/7), em Samambaia Sul

Thamires Carvalho dos Santos, 22, conta que a mãe foi deixá-la no trabalho e o crime ocorreu na volta. "Aconteceu vinte minutos depois".        -  (crédito:  Bruna Gaston CB/DA Press)
Thamires Carvalho dos Santos, 22, conta que a mãe foi deixá-la no trabalho e o crime ocorreu na volta. "Aconteceu vinte minutos depois". - (crédito: Bruna Gaston CB/DA Press)

“Ela me levou no serviço e ia voltar para casa. Não deu tempo de ela chegar lá. Aconteceu vinte minutos depois. Ela foi me deixar e aconteceu”. O relato é de Thamyres Carvalho dos Santos, 22 anos, filha de Cheryla Carvalho de Lima, 43, vítima de feminicídio na tarde desta terça-feira (29/7), em Samambaia Sul. O crime aconteceu no estacionamento de uma academia, na QR 516. A mãe de Thamyres foi atacada com vários golpes de faca e não resistiu aos ferimentos.

Ela relata ao Correio que a mãe havia começado um relacionamento com o homem, João Paulo Silva Matos, 35, mas a família nunca o aceitou. “A gente não gostava dele, não queria ele na porta da nossa casa, mas ele ia. A gente já falava pra minha mãe que ele não era boa pessoa. Era envolvido com droga, acho que bebia também”.

Segundo ela, Cheryla chegou a tentar se afastar dele. “Ela me contou uma vez que tentou, mas depois ele voltou. Apareceu de novo na porta de casa.” Thamyresres também relembra que o pai, ex-marido da vítima, alertava sobre o histórico de violência do suspeito. “Meu pai dizia que ele espancava a ex-mulher dele”, lembra.

“Era uma boa mãe”

A filha afirma que a mãe estava em processo de recuperação de um problema de saúde e vivia com ela, os três irmãos e a avó. “Ela era tranquila, alegre. Quando acordava, botava música. Quando minha avó não fazia comida, ela fazia, me levava no trabalho, fazia meu lanche. Era uma boa mãe.”

A jovem diz que, mesmo com a prisão do autor, não sente que houve justiça. “Ele tá preso e minha mãe tá morta. Isso não é justiça. Ele pode ser solto e fazer com outra mulher. O que vai fazer com a próxima?” A tia da jovem, Elisete Carvalho, também expressou indignação. “A gente sabe que, no Brasil, quem fica preso é quem morre. A pena não é cumprida até o fim. E quem sofre é a família.”

  • Google Discover Icon
postado em 29/07/2025 18:54 / atualizado em 29/07/2025 19:02
x