Saúde

Hemodiálise ajuda a salvar vidas

Em meio a uma rotina desgastante de agulhadas e espera, pacientes constroem memórias e amizades nas sessões em hospitais. Conheça histórias como a de Alysson Juan, de 45 anos, que recebeu um rim doado pelo próprio pai

Alessandra Alves é nefrologista da clínica DaVita -  (crédito: Letícia Mouhamad)
Alessandra Alves é nefrologista da clínica DaVita - (crédito: Letícia Mouhamad)

"É muito cansativo ir e vir. Chego em casa exausto. A gente vai sofrendo, mas segue em frente", desabafa Hélio Oliveira, de 87 anos, que há uma década faz hemodiálise. No Distrito Federal, o tratamento é oferecido tanto na rede pública quanto na suplementar, com opções hospitalares e ambulatoriais. Esse procedimento, que consiste na filtragem artificial do sangue, é um dos métodos indicados para transtornos que afetam a função renal, ao lado do transplante. No primeiro semestre de 2025, a capital atingiu a marca de 452 cirurgias de rins transplantados.

2
Hélio Oliveira, de 87 anos faz hemodiálise há 10 anos (foto: Letícia Mouhamad)

Hélio, devido à idade avançada e a outras complicações de saúde, não é apto para a cirurgia. Por isso, ele acumula mais de cinco mil horas de hemodiálise em sua jornada como paciente renal. "Quando o médico recomendou a hemodiálise, no início, eu não queria de jeito algum. Na época, meus rins funcionavam com apenas 10% da capacidade total, e eu sofria de anemia, passava muito mal. A ideia de vir todo dia ficar ligado a uma máquina era terrível, mas a gente tem que dançar conforme o embalo da vida", relembra o aposentado, que se habituou ao tratamento. "Já me acostumei, conto com muito apoio da minha esposa, que me ajuda quando estou com dores. Apesar de tudo, estou bem. A gente se acostuma e se torna rotina: as agulhadas, a dor e o tempo aqui", pondera.

Assim como Hélio, Humberto de Alencar, 74, vai à clínica há sete anos para fazer hemodiálise. "Fiz o tratamento durante um ano e meio e depois recebi um transplante. Meu irmão foi o doador. O rim durou nove anos, mas meu corpo rejeitou. Aí voltei para a hemodiálise", relata Humberto, que está novamente na fila do transplante. O aposentado chegou a ser chamado para receber o órgão, mas estava em tratamento com um medicamento anticoagulante e não pôde realizar o procedimento.

Humberto vai à clínica de segunda a sábado e, para ele, as agulhadas diárias se tornaram comuns. "Virou minha rotina, não tenho mais problema com isso", conta ele, que tenta encarar o tratamento com positividade. "Não vejo a hemodiálise como algo ruim, afinal, é o que me mantém vivo. Se eu parar, em uma semana estou morto. Tem gente que abandona, fica revoltado. Mas é o que filtra o sangue, faz o papel dos rins, é o que nos mantém funcionando", reflete. Ele conta que, com o tempo, fez amizades no local. "Conheço todos aqui, porque os vejo diariamente. Vir faz parte do meu dia e tento aproveitar da melhor forma o resto das horas", finaliza.

3
Humberto de Alencar, 74 anos, está na fila para transplante (foto: Letícia Mouhamad)

Novas perspectivas

A nefrologista Alessandra Alves explica que a hemodiálise substitui a função dos rins saudáveis quando, por algum motivo, eles falham. "O paciente, por meio de um cateter ou uma fístula — que são acessos —, tem o sangue transportado e filtrado pela máquina. Ela remove impurezas, como toxinas, e devolve o sangue limpo ao corpo. O tempo de tratamento varia de acordo com o paciente. Em alguns casos, os rins voltam a trabalhar normalmente; em outros, não", detalha a especialista. A médica afirma que a falência renal pode ter diversas causas, sendo as principais o diabetes e a pressão alta. "Minha paciente mais nova tem 26 anos e meu mais velho tem 99 anos. Não há idade para ter problemas renais. Assim como pode ser causado por doenças crônicas, ultimamente temos tido muitos casos decorrentes do uso indiscriminado de medicações, como anti-inflamatórios", alerta.

1
Alessandra Alves é nefrologista da clínica DaVita (foto: Letícia Mouhamad)

Ela, que se alegra com cada recuperação e sofre cada perda de paciente, tenta tornar os dias na clínica mais agradáveis para quem está em tratamento. "Muitos pacientes são idosos. Alguns são mais reclusos em casa e, vindo para a hemodiálise, interagem, fazem amizades. Por isso, tentamos tornar o ambiente o mais acolhedor possível, para que o tempo passado aqui não seja tão desgastante", conta Alessandra, que atua na Clínica DaVita, especializada em tratamento de diálise.

Transplante

Alysson Juan, 45, tem, em si, uma parte de seu pai, Arivaldo Pereira, 70. Em 2023, após um ano e meio de hemodiálise, com a perda da função de seu único rim, a necessidade do transplante tornou-se evidente. "Toda minha família se comprometeu a fazer exames para identificar quem seria o doador. Todos queriam ajudar, com muito amor e carinho, iria ajudar, iria fazer. Nos exames identificaram meu pai como compatível", lembra o aposentado, que irá completar, em setembro, um ano com seu novo rim e está se adaptando bem. O procedimento foi realizado no Hospital Universitário de Brasília (HUB).

Para Alysson, o pai lhe deu a vida duas vezes. "Eu nasci duas vezes. Todo dia, quando acordo, agradeço por estar vivo, por ter minha minha esposa e meu filho ao lado. Tudo isso graças a meu pai, que doou um pedaço dele para que eu possa estar aqui", conta.

  • Humberto de Alencar, 74 anos, está na fila para transplante
    Humberto de Alencar, 74 anos, está na fila para transplante Foto: Letícia Mouhamad
  • Hélio Oliveira, de 87 anos faz hemodiálise há 10 anos
    Hélio Oliveira, de 87 anos faz hemodiálise há 10 anos Foto: Letícia Mouhamad
  • Alysson Juan recebeu o rim de seu pai, Arivaldo Pereira
    Alysson Juan recebeu o rim de seu pai, Arivaldo Pereira Foto: Cedida ao Correio
  • Google Discover Icon
postado em 05/08/2025 04:00 / atualizado em 18/08/2025 12:57
x