
O presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Leandro Grass, falou ao CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília — de ontem sobre a proteção institucional à Praça dos Três Poderes. Ele destacou que o local tem elementos democráticos de suma importância para a população. Às jornalistas Ana Maria Campos e Sibele Negromonte, Grass também comentou acerca do processo contra Jair Bolsonaro e definiu como "lamentável" a postura do ex-presidente, de não concordar com as decisões judiciais. Outro ponto abordado foi a mudança de partido de Grass, que era do Partido Verde (PV) e recentemente se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT).
Qual a sua opinião sobre novas manifestações que possam colocar em risco a Praça dos Três Poderes?
De fato, a Praça dos Três Poderes se tornou um ambiente de risco, principalmente do 8 de janeiro (de 2023) para cá. Tivemos mais dois eventos posteriores que ameaçavam a integridade das pessoas e a estabilidade do ambiente público. O posicionamento do Iphan é sempre o de defesa da praça enquanto um espaço cidadão, um espaço cívico e um espaço de presença popular. Infelizmente, em razão dessa insegurança, os próprios palácios começaram a gradear em volta dos prédios. É tarefa do GDF garantir a segurança pública em todos os espaços da cidade. A nossa defesa (Iphan) também é a defesa do patrimônio, a defesa dos bens culturais ali situados. Inclusive, a praça vai entrar em obras muito em breve, estando tudo certo agora no meio de setembro, para que a gente transforme esse espaço em um local ainda mais agradável e as pessoas se sintam bem; deixe de ser um local de hostilidade, um local de medo, de insegurança das pessoas.
O senhor comentou sobre as grades que foram colocadas em volta dos palácios. Esse é o caminho mais indicado para proteção?
Entendemos os lados dos palácios e das instituições que ficam ali. Mas a nossa defesa institucional, a defesa do Iphan, assim como a do próprio governo brasileiro, é de que a praça precisa ser livre. Até porque, a praça é modernista, é uma praça cívica, onde tem temas e elementos ligados à democracia. Queremos uma praça para o trânsito das pessoas, que volte a criar relações afetivas com os símbolos que estão ali. Temos dialogado com os palácios (Supremo Tribunal Federal, Congresso e Palácio do Planalto), sugerindo algumas outras opções para retirar as grades.
Estamos na iminência do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Como o senhor avalia as movimentações que estão ocorrendo contra as decisões que estão sendo tomadas?
É lamentável que, tanto o Bolsonaro, como a família e apoiadores, não respeitem as decisões da Justiça. Há um processo legal acontecendo e esse processo vai ser analisado pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A defesa de Bolsonaro teve a oportunidade, e está tendo a oportunidade, de apresentar os argumentos contra as decisões. Uma vez dada a sentença, precisamos respeitá-la. Nosso campo político (esquerda) e o presidente Lula sempre respeitaram as sentenças judiciais e recorrem quando não achamos justo. Nunca atacamos ministros ou nos acorrentamos a cadeiras ridiculamente como foi feito.
O senhor foi candidato nas eleições passadas e deve concorrer novamente nas próximas. Como é possível enfrentar essa divisão política?
Essa divisão entre posições políticas é natural em uma democracia. A polarização pode ser saudável se os grupos respeitarem a própria democracia. Atualmente, é uma situação um pouco diferente. Não é apenas uma disputa entre direita, esquerda e outros espectros políticos. É uma disputa entre pessoas que são democratas e alguns que não respeitam a democracia e tentam violá-la. Para nós, o caminho é conversar com as pessoas, trazer os temas concretos da vida para elas, o que realmente tem a ver com o dia a dia das pessoas.
Recentemente, o senhor anunciou que está deixando o Partido Verde (PV) para se filiar ao PT. O que o motivou?
Comecei a minha trajetória política na Pastoral da Juventude Estudantil, que está muito atrelada à origem do PT. Durante a minha adolescência inteira, trabalhei e atuei nas campanhas do PT, mas nunca fui filiado. Eu me filiei a partidos que fazem parte da Federação Brasil da Esperança e agora tive a oportunidade de me filiar, efetivamente, ao PT. Esse partido também está olhando para a frente, olhando para as novas lideranças. Precisamos ter a consciência de que o projeto não pode focar em uma única pessoa.
*Estagiário sob a supervisão
de Malcia Afonso
Cidades DF
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