FEMINICÍDIO

"Ele esperou ela estar sozinha", dizem familiares de mulher morta no Itapoã

Vítima de feminicídio na noite de quarta-feira (13/8), Camila Pereira Lopes, 28 anos, tinha dois filhos crianças e vivia em um relacionamento marcado por ameaças e agressões. Especialistas reforçam importância de denunciar e solicitar medidas protetivas

Camila Pereira Lopes, 28 anos, foi morta a facadas enquanto estava na frente casa, no Itapoã. Autor foi preso -  (crédito: Material cedido ao Correio)
Camila Pereira Lopes, 28 anos, foi morta a facadas enquanto estava na frente casa, no Itapoã. Autor foi preso - (crédito: Material cedido ao Correio)

O feminicídio de Camila Pereira Lopes, 28 anos, na noite de quarta-feira (13/8), chocou os moradores do Itapoã. O autor, identificado como Willian Lopes, 32, foi preso em flagrante após atacar a vítima a facadas na calçada de casa e tentar se esconder em uma igreja evangélica. O casal mantinha o relacionamento há um ano e meio e, segundo familiares, nesse período, houve outros episódios de violência, mas Camila não chegou a fazer denúncia.

Segundo testemunhas, o crime teria sido motivado por ciúmes, e foi um desdobramento da briga que ocorreu no dia anterior, quando Camila teria ateado fogo em alguns pertences dele. A audiência de custódia do suspeito está prevista para ocorrer hoje.

“Ele esperou ela estar sozinha para fazer isso. Passou pela minha irmã e disse que estava ‘terminando o serviço’, com uma faca na mão”, relatou ao Correio uma das irmãs da vítima, que preferiu não se identificar. 

Moradores do local afirmam que o relacionamento era marcado por brigas, ciúmes, ameaças e o uso de drogas por parte do agressor, que tem antecedentes por tráfico de drogas, posse ilegal de arma e tentativa de homicídio.

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Camila era mãe de duas crianças, de 8 e 6 anos, de um relacionamento anterior, e, segundo os familiares, era extremamente dedicada aos filhos, apesar de viver um relacionamento instável. “Ela era uma mãe incrível, mas se envolveu com alguém que só a levou para o buraco”, contou outra irmã.

“Nossa família não aprovava, justamente pelo histórico dele. Todo mundo sempre esteve em cima dela pra poder tirar ela dessa situação. Ele nunca foi uma pessoa que fosse ter um futuro para ela’’, afirmou uma das irmãs.

Outra irmã de Camila, que também prefere não se identificar, conta que a mãe do agressor pediu desculpas à família delas. “Eu não espero justiça, pois ela pode falhar, mas eu quero que ele pague. Ele não honrou a mulher que tinha, minha irmã”, lamentou.

Conscientização

Para a advogada criminalista Leila Santiago, presidente da Comissão de Combate à Violência Doméstica e Familiar da OAB-DF, é necessário ampliar as políticas de conscientização não apenas para mulheres, mas também para homens, que muitas vezes não reconhecem atitudes abusivas, especialmente no campo psicológico. “O feminicídio é a última agressão. Antes disso, existem medidas protetivas que podem salvar vidas”, destaca.

A criminalista também destaca a importância de denunciar a violência doméstica. A vítima pode solicitar que o agressor seja afastado do lar, solicitar acesso ao aplicativo de botão do pânico e pedir monitoramento do agressor. Mas para que isso aconteça, as mulheres precisam denunciar. “Ela pode chegar na delegacia, relatar o caso ao agente, registrar um boletim de ocorrência e solicitar a medida protetiva”, alerta a especialista. 

A especialista lembra que 68% das vítimas de feminicídio não possuíam medida protetiva e que a denúncia é o primeiro passo para romper um ciclo da violência. “Precisamos levar informação onde as mulheres estão: escolas, redes sociais, unidades de assistência social. A vítima muitas vezes tem vergonha de falar com pessoas conhecidas sobre esse tipo de situação, mas falar pode salvar vidas”, afirma.

Medida protetiva

Além dos canais tradicionais de denúncia, as mulheres também contam com uma cartilha lançada recentemente pela Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF), que responde de forma prática às dúvidas sobre direitos garantidos pela Constituição, pela Lei Maria da Penha e outras leis. 

O pedido de medida protetiva pode ser feito presencialmente em qualquer delegacia ou, de preferência, nas Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAMs), localizadas na Asa Sul, entre as quadras 204/205 sul e em Ceilândia, na St. M QNM 2, ao lado da 15ª Delegacia de Polícia. 

 

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postado em 14/08/2025 20:19 / atualizado em 14/08/2025 20:19
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