Preservação

Guardiões da vida: especialistas lutam pela existência das abelhas

Estudiosos alertam que esses insetos ajudam na reprodução de plantas consumidas pelos seres humanos

Luiz Lustosa Vieira cria espécies nativas em uma área do Parque da Cidade -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Luiz Lustosa Vieira cria espécies nativas em uma área do Parque da Cidade - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

As abelhas são animais fundamentais para o equilíbrio da flora e fauna. Devido ao processo de polinização realizado por esses pequenos insetos, milhares de plantas conseguem se reproduzir. Especialistas acreditam que até 90% das plantas consumidas por humanos têm um toque das abelhas.

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Entretanto, com o  avanço da agricultura, o uso indiscriminado de pesticidas e o manejo irregular de colmeias, as espécies nativas do Cerrado, geralmente abelhas sem ferrão, são afetadas diretamente pela interferência humana. No bioma, a uruçu-amarela-do-cerrado está entre as espécies em perigo de extinção no Brasil.

O professor do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília (UnB) Antônio José Camillo de Aguiar avalia que a urbanização pode ser considerada uma das grandes responsáveis pela extinção de espécies. "Vemos grandes estacionamentos e a supressão da vegetação. Isso causa, também, a diminuição da biodiversidade em determinadas áreas", disse. 

Para Camillo, a solução para a preservação é manter e recuperar áreas naturais. "Precisamos olhar com mais carinho para a vegetação natural do Cerrado. É necessário que haja mais parques naturais, com vegetação apropriada para essas espécies retornarem à natureza", afirmou.

  •  28/08/2025 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - Guardiões das abelhas ameaçadas de extinção do DF. Abelha Jataí.  Luiz Lustosa Vieira, presidente da federação de meliponicultores do DF e presidente do Instituto abelha nativa.
    28/08/2025 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - Guardiões das abelhas ameaçadas de extinção do DF. Abelha Jataí. Luiz Lustosa Vieira, presidente da federação de meliponicultores do DF e presidente do Instituto abelha nativa. Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  28/08/2025 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - Guardiões das abelhas ameaçadas de extinção do DF. Abelha Mandaguarí
    28/08/2025 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - Guardiões das abelhas ameaçadas de extinção do DF. Abelha Mandaguarí Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Uruaçu-Amarela em colmeia
    Uruaçu-Amarela em colmeia Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Abelhas uruaçus-amarelas, típicas do Cerrado, estão ameaçadas de extinção
    Abelhas uruaçus-amarelas, típicas do Cerrado, estão ameaçadas de extinção Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Guardiões

Preocupadas com a diminuição desses insetos na natureza, principalmente espécies nativas, algumas instituições desenvolvem projetos que visam a preservação das abelhas e o desenvolvimento da meliponicultura. É o caso da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Universidade de Brasília. 

Além de professor da UnB, José Camillo de Aguiar foi coordenador de projetos de preservação de abelhas. Para ele, esse trabalho deve unir diversos setores da sociedade. "A população, assim como órgãos do governo, devem se empenhar nessa questão. O governo, por exemplo, pode priorizar o plantio de árvores nativas, para criar um ambiente mais propício para essas espécies", explicou.

Presidente do instituto Abelha Nativa, Luiz Lustosa conta que o projeto da entidade foca na reprodução em laboratório para a preservação de espécies ameaçadas (como a uruçu-amarela-do-cerrado, entre outras), assim como a conscientização ambiental. "Pegamos algumas princesas da espécie e colocamos em colmeias para que elas possam se reproduzir. Depois, elas são realocadas em estufas, onde serão superalimentadas por 30 dias, no máximo", informou. Esse processo garante um desenvolvimento rápido e saudável para as abelhas.

Uma das iniciativas do instituto foi o projeto Abelhas no Parque, com a criação de espécies nativas em uma área de 10 mil metros lineares no Parque da Cidade. O bosque plantado possui cerca de 11 mil árvores e o objetivo do programa é alcançar a marca de 300 mil árvores em, no máximo, cinco anos. 

"Queremos criar um espaço de convivência das pessoas com esses animais e colocar as colmeias nesse bosque. Teríamos quiosques com água e pontos de energia para permitir a visita dos frequentadores do parque", comentou. Lustosa acredita que a iniciativa aproximaria as pessoas de espécies ameaçadas de extinção, servindo de conscientização sobre o tema. 

Potencial

Algumas espécies nativas, embora menores em tamanho, conseguem produzir uma quantidade satisfatória de mel. A uruçu, por exemplo, que é encontrada no DF, pode produzir até 4,1 kg de mel em um ano. Aliado à preservação, alguns meliponicultores exploram esse potencial enquanto cuidam da espécie.

O extensionista rural da Emater/DF Carlos Morais ressalta o potencial que esses insetos possuem. "Por não apresentar ferrão, essas abelhas oferecem a possibilidade de produção de mel em casa, de forma segura, além do controle de qualidades, sem risco de adulteração. Elas também podem ser utilizadas nas lavouras com o objetivo de polinização", destacou.

Bruno Uchoa, criador do espaço Terra Boa Abelhas, chama atenção para a maior contribuição desses animais. "A importância de preservar esses insetos é justamente por causa da polinização. Apesar de ter outros polinizadores, as abelhas são especializadas nisso", ressaltou. 

Além de produtos derivados do mel, o espaço de Uchoa oferece conhecimento sobre o tema. Aos fins de semana, o local recebe visitantes para conscientizar sobre a criação e a preservação de abelhas. "Nossas visitas são voltadas para isso. Também trabalhamos com escolas para ensinar sobre educação ambiental e apresentar o equilíbrio do ecossistema promovido pelas abelhas", acrescentou. 

Para Carlos Morais, a esperança para a preservação está justamente no público infantojuvenil. Por isso, assim como Uchoa, a Emater faz palestras em escolas. "Realizamos cursos, palestras, encontros, oficinas, visitações e exposições durante o ano. Para o público jovem, o investimento, além de educacional, é ambiental", assinalou o extensionista.

 

 


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postado em 31/08/2025 06:12
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