Ter um animal de estimação em casa está cada vez mais comum nos lares brasilienses. Muito se fala sobre os benefícios que a presença de um pet pode trazer para a família que o acolhe, e que, muitas vezes, esses bichinhos são tratados como filhos por seus tutores. Infelizmente, no entanto, a vida deles é bem mais curta que a dos seres humanos e, com o seu envelhecimento mais rápido, os cuidados com a saúde e o bem-estar também surgem com mais agilidade.
A Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios Ampliada (Pdad-A) de 2024, elaborada pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), revelou que 55% dos domicílios do DF possuem algum animal de estimação. Ao todo, são 837 mil pets vivendo em 679,7 mil lares do Distrito Federal. Ainda de acordo com o estudo, os cães são os animais mais comuns nas residências da capital (45,8%), seguidos por gatos, aves e outros tipos de bichos.
Segundo a diretora de Estatística e Pesquisa Socioeconômica do IPEDF, Francisca Lucena, a pesquisa é fundamental para orientar políticas públicas voltadas ao cuidado e à proteção dos animais. "A pergunta sobre a presença e a quantidade de animais de estimação foi mantida por sua importância para os gestores responsáveis por ações e políticas voltadas ao bem-estar animal", explicou.
Rachel e Aluísio Gomes, de 42 e 62 anos, conhecem bem a realidade do envelhecimento dos pets nas famílias. Moradores da Asa Norte, o casal de servidores públicos vive com os filhos, Júlia e Matheus, e com duas companheiras de quatro patas: a gata Anny e a cadela Hanna.
A primeira a chegar foi Anny, adotada em 2016. Aluísio conta que, à época, tinha deixado o carro da irmã em uma oficina e, enquanto esperavam, decidiram visitar um hospital veterinário próximo. Lá, encontraram uma gatinha em estado grave, quase sem chances de sobrevivência.
Antes de Anny, a família já havia tido outros pets, como tartarugas, hamsters e peixinhos, mas foi com a gatinha que a rotina realmente mudou. "Ter um pet exige responsabilidade. Você passa a se preocupar com a saúde, alimentação, vacinas e, principalmente, com a presença e o afeto. Não adianta ter um animal e deixá-lo de lado. A gente se envolve, cuida, dá atenção. Isso transforma a rotina e, ao mesmo tempo, aproxima a família", afirma Aluísio.
Hoje, com 10 anos, Anny continua saudável. Segundo a estudante de arquitetura Júlia Gomes, 21, que se considera a "mãe" da gatinha, ela nunca teve problemas graves de saúde. "Ela sempre foi muito tranquila e caseira. Nunca saiu de casa, o que ajuda a evitar riscos. Mesmo assim, mantemos as vacinas em dia e fazemos consultas regulares. Recentemente, ela teve uma consulta por causa de um problema de pele, mas nada grave. Coisas normais da idade", alega.
Já Hanna, uma cadela da raça Akita, entrou na vida da família em 2022, a pedido do filho mais velho, Matheus Gomes, 25. Desde então, Hanna também passou a fazer parte da rotina de Aluísio, especialmente após sua aposentadoria. Ele conta que, graças aos passeios diários com a cadela, ampliou seu círculo social e ganhou novo propósito. "Mesmo aposentado, continuo acordando cedo, por volta das 6h, para passear com ela. São cerca de 40 minutos pela manhã e mais um tempo à tarde. Isso me dá propósito. Me sinto útil", compartilha.
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Companheiro de uma vida
A empresária Eliane Raye, 50, também tem uma relação especial com seu fiel companheiro Snoopy, um dachshund (salsichinha) de 19 anos. Ela o comprou quando ele tinha apenas 45 dias de vida. "Na época, eu era casada e tinha meu enteado, ainda criança. Sempre quis ter um cachorro, porque cresci cercada por eles", conta, emocionada.
Snoopy acompanhou Eliane nos momentos mais difíceis da vida, como o divórcio e a morte do pai. "Ele esteve comigo na alegria e na tristeza. Eu digo que ele representa o verdadeiro voto de amor: na saúde e na doença, sempre ao meu lado", afirma.
Com a idade avançada, Snoopy passou a ter necessidades especiais. Eliane adaptou sua rotina para oferecer o máximo de conforto ao companheiro. Com a perda dos dentinhos, a ração precisa ser amolecida com água quente. A mobilidade também foi afetada, e durante os passeios, ela precisa carregá-lo parte do caminho. À noite, acorda para aquecê-lo.
"O coração aperta, né? Os olhos estão ficando brancos, ele emagreceu muito... Mas está aqui. Falei com ele: 'Meu filho, aguenta ate o aniversário, para a mamãe fazer uma festinha. Mas, se quiser ir antes, mamãe entende.' É um dia de cada vez", argumenta, com carinho.
Mudanças de hábito
De acordo com a professora de medicina veterinária do Centro Universitário de Brasília (CEUB) Fabiana Volkweis, mudanças no comportamento, como aumento do tempo de sono, menos disposição para brincadeiras e dificuldades de locomoção, são indícios comuns de que um pet está entrando na terceira idade. "É importante estar atento a sinais como perda de peso, mudanças no apetite, maior ingestão de água e alterações de comportamento", alerta.
Essa mudança na fase de vida deles requer mais cuidados com a saúde. A médica veterinária ressalta que a prioridade é garantir qualidade de vida. "Se o animal apresenta dor crônica, podemos lançar mão de medicações para controle da dor e terapias complementares, como fisioterapia e acupuntura. É fundamental cuidar da saúde bucal, cardíaca, renal e endócrina, além de observar o surgimento de nódulos na pele, pois a incidência de tumores tem aumentado", pontua.
A frequência de idas ao veterinário também pode mudar. Para animais saudáveis, uma consulta anual pode ser suficiente. "No entanto, se o pet já apresenta alguma condição clínica, como problemas cardíacos ou renais, o acompanhamento deve ser mais próximo, com consultas em intervalos definidos pelo profissional responsável", explica Fabiana.
A alimentação é outro aspecto que deve ser adaptado à nova fase. Segundo a especialista, as rações do tipo "sênior" foram desenvolvidas justamente para atender às novas necessidades dos animais mais velhos. "Esses alimentos têm menos calorias e gordura, mais fibras e ingredientes que ajudam a preservar a saúde das articulações, como a glucosamina e a condroitina", afirma.
Manter o animal ativo, mesmo na velhice, é essencial. Atividades físicas leves e brincadeiras interativas ajudam a preservar a massa muscular, controlar o peso e estimular o sistema cognitivo. "O importante é respeitar os limites do pet. Caminhadas curtas e ambientes com piso antiderrapante são boas alternativas para evitar o desgaste das articulações", recomenda.
Porém, acima de tudo, para garantir o bem-estar emocional e mental dos pets idosos, os tutores devem oferecer carinho, atenção e estímulos adequados à idade. "Terapias complementares, controle de dor e uso de suplementos podem ajudar. O mais importante é proporcionar conforto, segurança e muito afeto", finaliza a professora.
