CRUELDADE

"Sumiço" fez tutora desconfiar de atendimento em "abrigo da morte" para pets

Alvo de operação policial, suposto hotel para pets em Planaltina escondia cadáveres de animais em diferentes estágios de decomposição. Dono do local, de 21 anos, passou por audiência de custódia e teve prisão convertida em preventiva

Os animais estavam confinados em baias, todos apresentando sinais de morte por inanição -  (crédito: PCDF)
Os animais estavam confinados em baias, todos apresentando sinais de morte por inanição - (crédito: PCDF)

Maquiado de espaço luxuoso e aconchegante, uma casa em Planaltina que se apresentava como hotel para pets escondia, na verdade, um matadouro de animais. O abrigo temporário mantido há pouco mais de três anos por Victor Gabriel Fagotti, 21 anos, foi alvo de uma operação policial desencadeada pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra os Animais (DRCA). Policiais encontraram 10 corpos de cães em diferentes estágios de decomposição e outros dois sobreviventes em estado grave de desnutrição.

Victor gerenciava um perfil do Instagram em nome do hotel. Na descrição, oferecia serviços atrativos aos clientes: táxi dog e passeadores. A mensalidade da hospitalidade chegava a custar R$ 600. A comunicadora Ana Carla Mourão, 42, foi uma das pessoas que contratou o trabalho. Ela fechou um pacote para hospedar três cachorros — os mesmos encontrados mortos pela polícia — e pagava R$ 1.450, com desconto de R$ 350 oferecido por Victor. O valor não incluía ração, vacinas e remédios.

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Inicialmente, Ana contratou o serviço de hospitalidade para um dos cães, resgatado por ela em frente ao trabalho. Segundo a comunicadora, durante os primeiros três anos, o cachorro aparentemente estava bem. Ela recebia fotos e vídeos do animal feliz. No fim de 2023, deixou mais dois cães sob os cuidados dele, incluindo Elisa Regina e Matheus. "No início, ainda recebia fotos, mas depois ele (Victor) começou a dificultar visitas, sempre com desculpas."

De forma repentina, Victor passou a não enviar fotos e vídeos atuais dos cães e as respostas pelo WhatsApp estavam cada vez mais demoradas. Meses depois, desconfiada da situação, a tutora resolveu ir ao local pessoalmente. Um amigo fez "campana" na porta do abrigo e constatou que havia algo errado: não tinha ninguém na casa, e o cheiro era insuportável. Quando o rapaz entrou, deparou-se com as carcaças de cães em decomposição. "Eu pagava do meu bolso, deixava de comer na minha casa para garantir comida para eles. E, ainda assim, ele deixou morrerem de fome e sede", desabafou.

Homem teve a prisão flagrante convertida em preventiva
O proprietário, Victor Gabriel Fagotti, foi preso em flagrante ontem (foto: Arquivo pessoal)

 

Investigação

Após o caso ser levado à polícia, as equipes da DRCA deram início às diligências e estiveram no endereço ontem. Os agentes encontraram um cenário de terror: além dos corpos e dos dois cães sobreviventes, o local era completamente insalubre.

Testemunhas relataram aos investigadores que Victor teria utilizado produto químico para acelerar a decomposição das carcaças e reduzir o odor que incomodava os vizinhos. De acordo com o delegado-chefe da DRCA, Jônatas Silva, os animais estavam confinados em baias, todos apresentando sinais de morte por inanição, e um deles preso entre as grades em tentativa de fuga.

Ana Carla relata que os sacos de rações comprados por ela estavam lacrados e ao lado dos cachorros. "Ele não deu acesso nem para que eles rasgassem o saco de ração. Uma seca dessa e sem um pote de água. Eu não sei, eu não entendo. Por que ele fez isso?", questionou a tutora.

Victor passou, ontem, por audiência de custódia. O juiz decidiu por converter a prisão flagrante em preventiva. Ele vai responder por sete crimes de maus-tratos a cães (art. 32, §1º-A, Lei 9.605/98), sendo cinco com a pena aumentada pelo resultado morte, em concurso material (art. 69, CP).

 


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postado em 05/09/2025 04:00 / atualizado em 05/09/2025 06:37
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