
O advogado Ronaldo Fonseca, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República (SG/PR) e deputado federal por duas legislaturas, foi o entrevistado do programa CB.Poder — parceria do Correio Braziliense e da TV Brasília —, desta quarta-feira (10/9). Em conversa com os jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Adriana Bernardes, Fonseca comentou sobre as articulações políticas para as eleições de 2026 no Distrito Federal, a possível candidatura ao governo local e o julgamento, no Supremo Tribunal Federal (STF), dos réus do núcleo principal da tentativa de golpe, que inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete aliados. Confira os principais trechos da entrevista:
Sobre o seu plano de pré-candidato ao Governo do Distrito Federal (GDF), o que o motiva a entrar na disputa e como avalia o cenário político atual?
Sou filiado ao PSD e já coloquei meu nome à disposição da executiva regional e do presidente Paulo Octávio como uma opção para disputar o Governo do Distrito Federal. Defendo que o partido tenha uma candidatura majoritária própria. O PSD é hoje o partido que mais cresce no Brasil e, especialmente, em Brasília. Nosso presidente regional tem feito um trabalho de articulação excelente, recebendo lideranças importantes, inclusive do setor empresarial. O meu nome está à disposição, mas o partido tem outros quadros qualificados. O PSD de hoje não é o mesmo de antigamente, é um novo partido, mais estruturado. Pode ser o Paulo Octávio, pode ser outro nome. Eu sou uma pessoa de grupo. Ninguém vence uma eleição sozinho. Não pode chegar dizendo 'eu sou pré-candidato ao GDF'. Esse já começa perdendo. A eleição de 2026 está se tornando muito interessante. Quem antes pensava que seria apenas mais uma disputa entre o PT e a atual vice-governadora Celina Leão, já está vendo que os movimentos estão acontecendo, e ainda teremos muitas surpresas. Por exemplo, o ex-governador José Roberto Arruda pode se tornar elegível, caso o presidente Lula sancione a medida que permite isso. Acredito que vamos conseguir fazer uma eleição em 2026 sem confusões em Brasília.
Em uma eventual consolidação de uma candidatura do PSD, o senhor acredita que será necessário se aliar à extrema-direita ou à esquerda mais radical?
Eleição majoritária se vence com alianças, e alianças precisam ter critério. Vejam só, quem imaginaria, alguns anos atrás, que Geraldo Alckmin seria vice-presidente de um candidato do PT? Então, aliança é algo que se constrói com o tempo e com base no cenário e nas lideranças disponíveis. Neste momento, não tem como dizer com quem o PSD vai se aliar. Dependerá muito dos nomes, mais do que dos partidos.
Como o senhor avalia o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF?
O Brasil vive um momento delicado e, ao mesmo tempo, muito importante. Precisamos virar essa página. Não dá para o país continuar nessa instabilidade. Todo julgamento começa com uma denúncia, que vem de uma investigação. Mas há, sim, um ingrediente político forte por trás, isso é inegável. Acredito que o melhor para o país, neste momento, seria buscar a pacificação, o diálogo. O Brasil chegou onde chegou por falta de conversa. Eu estive no Palácio do Planalto e fui escolhido pelo ex-presidente Michel Temer, que é um homem do diálogo. Ele assumiu o país após um impeachment, em um cenário extremamente difícil, e conseguiu conduzir com equilíbrio.
Há quem defenda a anistia como forma de encerrar esse capítulo político. O senhor considera esse um caminho possível?
A anistia não é novidade no Brasil. Já tivemos anistias importantes, como na redemocratização. Mas, hoje, entendo que uma proposta de anistia dificilmente passaria no STF. Também não posso dizer se sou a favor ou contra, porque estou distante do caso. O que posso afirmar é que já visitei presos do 8 de janeiro na Papuda e vi pessoas que, na minha opinião, não deveriam estar presas. Se a anistia passar no Congresso, certamente será judicializada, e com isso haverá uma "peneira". Defendo que todas as propostas devem ser debatidas democraticamente no Congresso Nacional. É assim que se resolve nas democracias: quem tem mais votos, vence.
O senhor acredita que o Brasil está condenado a viver um ambiente político polarizado por muitos anos?
Tenho a sensação de que, após esse julgamento e após a discussão sobre a anistia, o Brasil vai se reinventar. Somos um país forte e resiliente. Mas não dá mais para conviver com essa polarização. Chegamos a um ponto em que um presidente levou uma facada, o outro foi ameaçado. Precisamos reencontrar o caminho do diálogo. Infelizmente, hoje temos poucos líderes que pregam isso. O Brasil está perdendo muito, pois não tem qualidade na discussão política. Acho que essa mudança só virá depois da eleição, porque, para muitos candidatos, essa divisão ainda é útil.
Cidades DF
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