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Habilidades para o sucesso vão além do conhecimento técnico

A qualificação técnica e a inteligência emocional são vistas por especialistas da Secretaria de Educação e do Senac como fatores que podem alavancar a carreira, principalmente de jovens em busca do primeiro emprego, cada vez mais disputado

Para além da técnica, o sucesso na educação profissional e no mercado de trabalho requer atributos relevantes na hora da contratação. As habilidades socioemocionais, tidas pelos empregadores como cruciais e decisivas para a admissão, foram um dos pontos debatidos no CB.Fórum Educação Profissional e o Mercado de Trabalho, promovido nesta terça-feira (9/9), pelo Correio Braziliense.

Especialistas e autoridades debateram soluções para tornar a qualificação mais ágil, eficiente e alinhada às exigências do mundo profissional. A abertura do evento contou com a participação da secretária de Educação do DF, Hélvia Paranaguá, que abordou a Educação Profissional e Tecnológica (EPT) como ferramenta para mudar a realidade de milhares de jovens da rede pública. 

"Nessa área, os avanços que tivemos foram muito importantes. Acredito na educação profissional e no potencial do jovem, com a possibilidade que se abre para ele concluir o ensino médio com experiência profissional para o mercado de trabalho."

De acordo com a secretária, a EPT não é apenas uma alternativa, mas uma escolha estratégica diante das exigências de um mercado cada vez mais competitivo. Ela explica que os cursos são planejados com base em análises de demanda, para garantir que os jovens se formem em áreas com alta taxa de empregabilidade.

Minervino Júnior/CB - 09/09/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Cb Forum Educação profissional e o mercado de trabalho. Celina Leão vice Governadora

"Não adianta ofertar curso profissional, se não tem mercado para eles atuarem. Por isso, trabalhamos para saber quais áreas têm um mercado maior no DF e no mundo. Depois, se ele quiser seguir a carreira e ir para a universidade, ele vai, mas é uma possibilidade que a gente está dando", detalhou.

Esse alinhamento, entre formação e realidade do mercado, vem mostrando resultados. Segundo Hélvia, programas de intercâmbio, antes restritos a alunos de ensino regular, agora contemplam estudantes da EPT. Como exemplo, ela cita que 50 alunos da educação profissional e 52 do ensino médio tradicional tiveram a oportunidade de estudar no Reino Unido.

Uma das maiores mudanças observadas nos últimos anos, segundo a secretária, foi a transformação do olhar da sociedade sobre a educação técnica. De acordo com ela, o estigma de que os cursos técnicos seriam voltados para jovens de baixa renda está ficando no passado.

"Hoje, temos que comemorar o avanço e essa virada de chave, pois deixou de ser um curso para pobre, e virou um curso de oportunidades para todas as classes. Digo isso com muita alegria. É uma mudança de mentalidade muito interessante", celebrou.

Para ilustrar essa mudança, Hélvia compartilhou a história de uma sobrinha dela, que foi morar nos Estados Unidos e teve a oportunidade de fazer um curso técnico de veterinária. "Ela não queria levar 10 anos estudando para ser veterinária, pois nos EUA o curso é muito longo. Em vez disso, fez um curso técnico de dois anos para ganhar 60% do valor que um veterinário ganha. Para ela, isso estava ótimo", relatou.

A secretária destacou que, em países europeus, a formação técnica é valorizada. "Lá, os profissionais da área técnica têm uma vida muito boa. São uma mão de obra importantíssima para a evolução de qualquer país do mundo."

Atualmente, o DF conta com 18 escolas técnicas profissionais, que oferecem cursos em áreas como saúde, tecnologia, administração e serviços. Para Hélvia, esses profissionais fazem a sociedade funcionar de forma eficiente. "O que seria de nós se não tivéssemos os técnicos para fazer todo o trabalho de base que a gente precisa?", questionou.

Ela acredita que, apesar dos avanços, ainda é preciso enfrentar preconceitos enraizados e continuar desmistificando a educação técnica. Por isso, a secretária foi enfática ao dizer que investir nessa área é investir diretamente no futuro do país. "O número de empregabilidade do ensino técnico é maior do que o do ensino superior. É um ensino de geração de renda, empregabilidade e inclusão."

Habilidades

Vitor Côrrea, diretor-regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac/DF), falou da importância da inserção do público jovem na educação profissional e do que é exigido pelos empregadores.

Côrrea revelou dados do Senac sobre o ingresso no mercado de trabalho, progressão, manutenção e rendimento: 71% dos alunos que iniciam cursos do Senac desempregados conseguem um emprego após se formarem. A progressão profissional na vida desses jovens também é alavancada, conforme mostra o estudo: 38% dos alunos são promovidos, assinam carteira ou mudam de trabalho.

"O método do Senac combina prática e reflexão, desenvolvendo autonomia e preparando os alunos para os desafios de um mercado em rápida transformação tecnológica. Hoje, a tecnologia deixou de ser uma habilidade restrita a profissionais da área, tornando-se competência necessária a todos os setores", enfatiza.

Minervino Júnior/CB - 09/09/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Cb Forum Educação profissional e o mercado de trabalho. Vitor Corrêa diretor Senac DF

Mas a formação não se limita à parte técnica. Um conjunto de capacidades que envolvem a inteligência emocional, como autoconsciência, empatia, habilidades de comunicação, tomada de decisões e resiliência, são avaliadas na hora de contratar ou manter o empregado na empresa. Côrrea garante que as habilidades socioemocionais são novos tópicos trabalhados pelos educadores do Senac. "A Pesquisa Amostra de Empresas perguntou aos empresários quais os requisitos de contratação. Não é técnico. É postura, comportamento, trabalho em equipe, resolução de conflitos", destacou.

A pesquisa do Senac revelou que 65% dos alunos se mantém no trabalho ou melhoram o desempenho. O diretor-regional avalia que as capacidades de inteligência emocional podem ser facilmente trabalhadas no processo de formação, ainda em sala de aula. "Nossos cursos são presenciais. Temos ambientes simulados da prática profissional, como no curso de enfermagem, em que o aluno estará o tempo todo dentro de uma clínica médica. Se estamos falando de beleza, está em um salão de beleza."

É justamente esse "contato" próximo e real com o mundo do trabalho que será capaz de auxiliar o empregado no aperfeiçoamento das habilidades socioemocionais. "Esse contexto contribui para que possamos aprender com o erro e entender que faz parte do comportamento humano."

Vitor elencou dados do público jovem atendido pelo Senac. A instituição recebe cerca de 20 a 24 mil alunos todos os anos. "setenta por cento desses alunos têm até 29 anos. Entre os mais jovens, 50% têm até 18 anos, com ingresso a partir dos 14. Nossa meta é alcançar 10 mil alunos a mais entre 2028 e 2029. A educação profissional se confirma como crucial para a juventude. Num cenário em que o desemprego entre os mais jovens é elevado, o Senac atua na requalificação de trabalhadores e foco estratégico na formação", finalizou.

 

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