ENTREVISTA

Celina Leão anuncia que DF ampliará ações de assistência em saúde mental

Ao CB.Poder, a vice-governadora do DF afirmou que o governo local trabalha para ampliar a rede de assistência social e fortalecer políticas públicas, com um programa que deve ser anunciado nos próximos dias. "Isso vai acabar com as filas nessa área", disse

Celina Leão sobre o caso da comunidade terapêutica Liberte-se:
Celina Leão sobre o caso da comunidade terapêutica Liberte-se: "Não dá para dizer que houve falha específica de um órgão. Cada um tem sua função" - (crédito: Ed Alves CB/DA Press)

A vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, foi a entrevistada do programa CB.Poder — parceria do Correio Braziliense e da TV Brasília — desta terça-feira (30/9). Em conversa com as jornalistas Adriana Bernardes e Jaqueline Fonseca, ela detalhou as principais ações do Governo do Distrito Federal (GDF) em áreas como assistência social, saúde, educação e transporte, além de comentar sobre segurança pública e os desafios da gestão. Segundo Celina, após as mortes em um incêndio na clínica Liberte-se, no Paranoá, o governo está levantando qual é a situação de outras unidades para garantir uma melhor assistência em saúde mental.

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O Ministério Público fez algumas vistorias nos Centro de Referência de Assistência Social (Cras), que são a porta de entrada para a assistência social básica para as pessoas em situação de vulnerabilidade. Como está o plano do GDF de estruturação desses Cras?

Temos um planejamento de reforma e construção de novos Cras, além de contratação, porque fazia muitos anos que não havia concurso público para esses cargos. Acredito que a tecnologia também pode nos ajudar muito, principalmente no atendimento ao cidadão. Estamos trabalhando em um programa revolucionário que devemos apresentar em alguns dias para a população do DF. Isso vai acabar com as filas que existiam nesse tipo de sistema e deixar todo mundo cadastrado. Temos servidores muito valiosos na secretaria. Recebemos o prêmio de cidade com melhor sustentabilidade social do país, o que significa que temos os melhores programas sociais do Brasil. O Vale-Gás, por exemplo, foi criado no DF antes de ser copiado pelo governo federal. O cidadão, às vezes, recebe até os dois benefícios. Temos, também, o DF Sem Miséria, o Cartão Material Escolar, a Cesta Verde, vamos lançar nesta semana o Cartão Uniforme. Ampliamos as refeições dos Restaurantes Comunitários: antes só havia almoço a R$ 3; hoje, baixamos para R$ 1 e oferecemos três refeições por dia em 18 cidades. Isso é segurança alimentar. Esse título de sustentabilidade social é fruto do trabalho desses servidores. Mas queremos melhorar, como toda cidade, ampliando cada vez mais o atendimento.

Recentemente, tivemos seis mortes e 10 pessoas feridas em um incêndio numa comunidade terapêutica no Paranoá. Ela estava sem licença para funcionar. Como está a oferta de serviços do GDF nesta área de saúde mental e desintoxicação da população?

Essa é uma política pública que precisa ser muito bem estruturada. Este ano criamos uma subsecretaria específica para tratar do tema. O adoecimento das pessoas é visível e cresce a cada dia. Contratamos mais 29 psiquiatras para a rede. Entendemos que a porta de entrada são os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), em que há atendimento exclusivo e humanizado. Vamos construir quatro novos Caps no próximo ano e ampliar a rede de profissionais. Também é essencial ter secretarias parceiras, como a de Educação, que ajuda na prevenção e no diagnóstico. Não é apenas para quem está em clínicas de recuperação de dependência química, mas também para lidar com questões silenciosas, como depressão e tendência suicida, que têm abalado famílias. Orientamos sempre que o primeiro passo seja procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e, depois, os centros especializados. Esse tipo de internação deve ser monitorado pelos órgãos de controle. Quando uma família busca internação, é fundamental verificar certificados e cadastros, porque nossa Vigilância Sanitária e a Secretaria de Saúde são rigorosas na manutenção e abertura dessas instituições.

A senhora considera que o GDF falhou na fiscalização? 

Não dá para dizer que houve falha específica de um órgão. Cada um tem sua função. O que entendemos é que a clínica deveria estar dentro dos padrões para poder funcionar. A sociedade também precisa nos ajudar, porque o Estado é insuficiente para fiscalizar tudo. A sociedade é um grande pilar de fiscalização. Imediatamente após o ocorrido, pedimos um levantamento das entidades cadastradas que fazem esse tipo de internação. Está sendo feita uma vistoria em todas para sabermos se alguma outra também está funcionando de forma irregular.

Na questão das passagens de ônibus, como estão as tratativas do consórcio para tentar minimizar o custo da passagem para os usuários do Entorno?

É importante destacar que o GDF tem feito um grande sacrifício, primeiro, para não aumentar as passagens. Há um subsídio para isso, para não pesar mais no bolso do cidadão que usa o transporte público. Quando o governo de Goiás nos procurou para dividir essa responsabilidade, o governador Ibaneis atendeu de imediato, e aceitamos participar de um consórcio entre o GDF, o governo de Goiás e o governo federal. Agora estamos aguardando o posicionamento do governo federal, porque, hoje, a decisão está nas mãos da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Ainda existe esse impasse em função da disposição do governo federal em dividir essa conta.

Em pesquisa da Connected Smart Cities, Brasília foi considerada a cidade mais inteligente do Centro-Oeste e a 18ª do país. O que avançou e o que falta melhorar nessa posição?

O governador Ibaneis determinou um planejamento estratégico, e estamos trabalhando muito nisso. O que se percebe são muitas iniciativas de várias secretarias. Agora, estamos conectando tudo isso para criar uma grande plataforma de informações. Eu leio hoje todas as reclamações registradas no 156, Central de Atendimento ao Cidadão. Temos outra plataforma que mostra todos os gastos do GDF e o cumprimento do plano de governo da última campanha. Cumprimos quase 90% do que prometemos. A inteligência artificial está aí para nos ajudar. Nosso objetivo é unificar esses programas em uma ferramenta única, onde o cidadão entre em uma página e consiga fazer reclamação, consulta ou até acompanhar a situação das UPAs. Essa plataforma será entregue até março do ano que vem.

Isso também vai resolver o problema da Secretaria de Saúde, em que uma unidade não conversa com a outra?

Exatamente! Isso está sendo dialogado até com o Ministério Público, por meio do dr. Juracy (Cavalcante Lacerda Júnior), secretário de Saúde. Temos dois institutos, que são o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF) e a Secretaria de Saúde. Então, há a necessidade dessa conexão única. Não posso ter uma radiografia acessada no Hospital de Base, mas não em uma UBS. Essa portabilidade, nesse caso da saúde, está sendo acompanhada pelo Ministério Público, para que possamos ter conectividade e uma rede única integrada. A ideia não é só a comunicação dentro da rede, mas também com o cidadão. A Secretaria de Saúde é a mais demandada, mas também é a mais elogiada. Eu sempre digo: não deixe de fazer seu elogio ou sua reclamação. Pela lei, tem prazo de até 15 dias para ser respondida. Acompanhamos tudo de perto.

A área da educação vai receber algum investimento? 

São R$ 180 milhões investidos. Começamos a distribuição de notebooks com tecnologia robusta, internet de qualidade e inteligência artificial, realmente preparados para as necessidades atuais. São mais de 40 mil computadores. Também temos mais de 10 mil tablets inclusivos para pessoas com deficiência, com tecnologia embarcada. O foco inicial foi o ensino médio, mas a ideia é que, até o ano que vem, toda a rede pública tenha o que há de melhor e mais moderno, tanto para alunos quanto para os profissionais de educação. Eles precisam dessa atualização. O desafio, não só do DF, mas de todo o país, é trazer para o público o que já existe no setor privado. Precisamos olhar mais para a tecnologia na educação.

Na semana que vem, partidos de direita estão convocando um ato na Esplanada para pressionar o Congresso pela anistia. O que está sendo organizado na área de segurança? E qual a sua visão sobre tentar redução de pena para os condenados do 8 de Janeiro?

A população do DF sabe que, aqui, a segurança pública é muito qualificada. Essa é uma cidade que precisa representar a democracia. As pessoas devem ir às ruas sempre que acharem necessário, mas sem violência e depredação. Não vamos permitir isso no DF. Temos uma Polícia Militar cada vez mais preparada, com treinamento e remuneração. Nossa segurança está sob controle. Sobre a anistia, a pergunta sempre é: a favor ou contra? O problema é que a dosimetria das penas foi pesada, se comparada a outros crimes. É isso que gera o sentimento de injustiça. O Congresso vai debater, mas as pessoas precisam pagar na medida do vandalismo e da lei. A expectativa é de que o Congresso encontre uma alternativa jurídica para que o Brasil volte a ter paz.

O programa CB.Poder chegou a 10 anos com mais uma premiação importante. Foram cinco vezes finalistas e três vezes campeões no Prêmio Engenho. A senhora nos prestigia desde as primeiras edições, não é mesmo? 

É isso mesmo! Primeiro, parabéns. O jornalismo ao vivo, com o prestígio e a credibilidade do Correio, com três prêmios consecutivos, só enobrece ainda mais o trabalho de informação com seriedade, debate e democracia, que sempre foi palco de vocês. E algo que é muito peculiar é que o Correio tem uma participação massiva de mulheres, desde editoras, chefia e jornalistas. Isso também traz para nós uma motivação muito especial. Eu tenho certeza de que virão outros prêmios.

 

 

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postado em 01/10/2025 01:00
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