SAÚDE

Especialistas alertam para os riscos de consumir bebidas adulteradas

Casos em São Paulo, onde seis pessoas morreram após a ingestão de bebidas com metanol na composição, alertam para o perigos de consumir produtos irregulares. No DF, não há casos, mas, este ano, foram apreendidos 896 litros de cachaça por algum tipo de irregularidade

O tema voltou ao centro do debate após casos recentes de pessoas intoxicadas depois de consumirem bebidas contaminadas com Metanol -  (crédito: MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL)
O tema voltou ao centro do debate após casos recentes de pessoas intoxicadas depois de consumirem bebidas contaminadas com Metanol - (crédito: MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL)

A morte de seis pessoas após a intoxicação por ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol em São Paulo acendeu um alerta no Distrito Federal para o consumo de produtos sem procedência regular. De acordo com a Secretaria de Saúde, não há registros semelhantes na capital, mas a pasta recomenda que, se houver suspeita de intoxicação, a pessoa deve procurar uma unidade de saúde. De janeiro a setembro deste ano, a Vigilância Sanitária apreendeu ou inutilizou 896 litros de cachaça por algum tipo de irregularidade, em operações de fiscalização.

A Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM) acompanha ocorrências e denúncias de venda de bebidas adulteradas no DF. Neste ano, 250 litros foram apreendidos pela unidade. "Realizamos diligências, apreendemos os produtos para retirá-los de circulação, encaminhamos para exames periciais e responsabilizamos os investigados, enviando o caderno investigativo ao Judiciário", explicou a delegada Isabel Davila Lopes Borges.

A delegada destaca sinais que podem ajudar o consumidor a identificar produtos suspeitos. "É preciso estar alerta a detalhes como lacres mal colocados, ausência de selos obrigatórios, tampas violadas, líquidos com partículas e preços muito abaixo do mercado", detalha. Para se proteger, o recomendado é sempre comprar em estabelecimentos de confiança, observar a integridade das embalagens e exigir nota fiscal.

Intoxicação

O metanol, substância causadora das intoxicações, é usada como matéria-prima para combustíveis e é imprópria para consumo humano. Segundo a patologista clínica Maria Gabriela de Lucca Oliveira, do DB Diagnósticos, esse produto e outros como etilenoglicol, solventes e contaminantes, entre eles, combustíveis e acetona, podem estar presentes em bebidas adulteradas."É muito difícil, quase impossível, identificar metanol em uma bebida apenas pelo sabor ou cheiro, porque ele é muito parecido com o álcool comum", alerta a especialista.

Ela recomenda atenção a sinais de adulteração: valor muito baixo, embalagem suspeita, lacre violado, tampa danificada ou líquido turvo com partículas. "Compre apenas de fontes confiáveis, verifique a integridade da garrafa e do selo do IPI, desconfiando de preços abaixo do mercado. Em bares e eventos, peça para que a bebida seja servida na sua frente e evite produtos de origem desconhecida. Confie no seu paladar: qualquer diferença no gosto ou cheiro pode indicar adulteração", elenca.

Os riscos também estão presentes na fabricação e adulteração dessas bebidas, como alerta o gastroenterologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB/Ebserh), Vinicius Machado. "Normalmente elas são preparadas em galpões clandestinos, sob condições higiênicas precárias, e podem conter múltiplas impurezas e agentes infecciosos como bactérias nocivas à saúde de quem as ingere", destaca.

A hepatologista Natalia Trevizoli, do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, diz que os sintomas costumam surgir entre 12 e 24 horas após a ingestão e podem atingir diferentes áreas do corpo. "No sistema nervoso central, pode haver dor de cabeça, confusão, convulsões e até coma. Na visão, os efeitos vão desde turvação até cegueira irreversível. Também podem ocorrer náuseas, vômitos, dor abdominal, pancreatite, insuficiência renal e alterações metabólicas graves", detalha a médica. 

Diante da suspeita de ingestão de bebida adulterada, a orientação é buscar ajuda médica imediata. Apesar de existirem protocolos específicos para intoxicação, o paciente pode enfrentar consequências permanentes. "As sequelas mais comuns são cegueira parcial ou total, lesões neurológicas e insuficiência renal ou hepática. Por isso, a prevenção, com o consumo apenas de bebidas de procedência confiável, é fundamental", reforça.

Principais sintomas

  • Náuseas, vômitos e dor abdominal intensa;

  • Alterações visuais (visão turva, fotofobia, cegueira súbita);

  • Dor de cabeça intensa e tontura;

  • Confusão mental, convulsões e perda de consciência.

Fonte: Hanna Gomes, oftalmologista do CBV-Hospital de Olhos

Fiscalização

Em nota, a SES-DF informa que, por meio da Diretoria de Vigilância Sanitária (Divisa) participa regularmente de operações integradas realizadas em conjunto com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF). Nessas ações, a atuação da Vigilância tem como foco verificar as condições de funcionamento de estabelecimentos como bares, quiosques, boates e trailers.

Durante as fiscalizações, segundo a pasta, é comum identificar irregularidades, como bebidas sem rotulagem adequada, clandestinas ou adulteradas, principalmente em comércios ilegais. Os produtos irregulares são apreendidos e descartados pela Vigilância Sanitária.

A SES-DF fiscaliza ainda bares e distribuidoras, por meio de Núcleos de Inpeção. Este ano, ocorreram 319 inspeções. Além disso, 1.342 estabelecimentos foram monitorados e 161 autuados.

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postado em 02/10/2025 04:00 / atualizado em 02/10/2025 09:11
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