Dança

Uma brasiliense na Broadway: a história da estudante Gabriela Vaisman

Estudante de Publicidade na UnB, Gabriela Vaisman embarca no sonho de se tornar profissional em música, dança e teatro nos Estados Unidos

Gabriela, brasiliense na Broadway -  (crédito: /Felipe Fontinele)
Gabriela, brasiliense na Broadway - (crédito: /Felipe Fontinele)

No quarto pequeno do dormitório, a poucos passos do estúdio de dança no Upper East Side, Gabriela Vaisman, de 23 anos, ou Gabi para os íntimos, começa o dia logo cedo. Às 7h, terapia. Às 9h, alongamento. Em seguida, a rotina segue intensa: balé, canto, teatro, sapateado e hip-hop. E é quando o relógio marca 22h que o corpo pede pausa, mas a cabeça continua ligada a um único objetivo: o palco da Broadway.

A brasiliense é estudante de publicidade na Universidade de Brasília (UnB), mas, por enquanto, o diploma está suspenso, e seu tempo está sendo inteiramente dedicado à arte. Desde setembro, ela vive em Nova York, onde foi selecionada para o Steps on Broadway, um dos conservatórios mais tradicionais do mundo na formação de artistas para os grandes musicais.

 Gabriela foi aprovada no processo seletivo em novembro de 2024
Gabriela foi aprovada no processo seletivo em novembro de 2024 (foto: Material cedido ao Correio)

Na capital, Gabi era professora de dança e coreógrafa. Ela já tinha intimidade com os palcos, as turmas lhe admiravam, e o domínio técnico sempre foi motivo de muita confiança. "Brasília era o meu mundo todo", disse. No entanto, a rotina em Nova York é mais intensa, as aulas duram quase o dobro do tempo e as coreografias são sempre uma surpresa, nunca se repetem. "As aulas em Brasília duravam 50 minutos; aqui, duram cerca de duas horas. O desafio é conseguir fazer direito toda aula. Leva tempo para entender a movimentação, a técnica de um novo professor, o ritmo. 

Ela conta que, no começo, a nova rotina foi um baque. "Por tudo que já tinha vivido dançando no Brasil, achei que seria diferente. Quando pisei aqui, percebi que o universo da dança é gigantesco", contou. Segundo Gabi, a sensação inicial foi de medo e insegurança, pois todos os alunos do programa são dançarinos experientes, mas, no momento, a sensação é de empolgação pelo futuro. "Ser bom aqui não é destaque, é o mínimo. Eles querem saber qual o seu diferencial, entender como você se destaca." 

O que começou com um desconforto acabou se tornando combustível. Entre piruetas usando salto alto e longos treinos de sapateado, Gabriela entendeu que, dentro dessa história, o real espetáculo é o processo de adaptação. "É uma bênção estar aqui e ser desafiada, porque significa que ainda tenho muito a crescer", desabafou.

Inspirações

As salas de aula que hoje frequenta recebem diariamente professores e artistas que também sobem aos palcos da Broadway. É onde nomes como Misty Copeland, ícone do balé norte-americano, fazem aulas particulares. "É surreal. Sinto que estou vivendo entre os melhores. É inspirador. Todos os dias aprendo com pessoas que realmente vivem da arte", diz.

Ela citou Lizz Picini e Paul Pagler, professores de jazz teatral e canto, entre as grandes referências que encontrou até o momento. A preparação vocal é feita com os mesmos treinadores que orientam elencos da Broadway. 

Estar entre os melhores e aprender com profissionais da Broadway é fora de série, e a faz lembrar diariamente o momento que despertou sua paixão pelos musicais. "Minha peça favorita é Wicked, foi ela que me inseriu nesse universo. A do momento é Cabaret. Assisti recentemente, e, nos primeiros 30 segundos, logo no primeiro número, comecei a chorar desesperadamente. Foi quando pensei: eu me vejo nesse lugar e estou mudando de país para chegar aqui", contou emocionada.

 Misty Copeland, bailarina norte-americana, faz aulas particulares no mesmo conservatório que Gabriela
Misty Copeland, bailarina norte-americana, faz aulas particulares no mesmo conservatório que Gabriela (foto: Material cedido ao Correio)

Disciplina

Hoje, com o semblante tranquilo, ela conta que a caminhada foi longa para chegar até a aprovação. A jovem teve que gravar vídeos de dança, canto, teve que conseguir cartas de recomendação. E, apenas em novembro de 2024, o resultado veio como motivo de felicidade para ela e a família. E a felicidade foi em dobro, pois Gabriela ainda conquistou uma bolsa de 20%, que irá perdurar pelos dois anos de curso. Agora, ela vive uma grande responsabilidade: representar o Brasil na meca mundial da performance. 

"Representar o Brasil no maior estúdio de dança da Broadway é um orgulho e uma responsabilidade. Levo muito a sério a tarefa, é honrar o nome dos professores que me ajudaram a chegar aqui — Rodrigo Barreto, Renato Fernandes, Dhaniel Amaral e Paula Abreu — e quero fazer jus a tudo que me ensinaram", contou.

Atualmente, a rotina do programa é intensa, começa às 9h, vai até as 17h — às vezes, até mais tarde. O cronograma mistura balé, canto, teatro, hip-hop, sapateado e outros estilos. Gabriela diz que, se você não acredita que é capaz, ninguém vai passar a mão na sua cabeça. Nova York é como nos filmes, com gente do mundo inteiro, muitas oportunidades e um ritmo imparável. "Você tem que mostrar que quer, que é capaz. E hoje, não sou um projeto pronto, é preciso aceitar que isso tudo é um processo", lembrou.

Com um mês no programa, a jovem foi aprovada em duas audições, uma delas com Krystin Pope, nome de peso do teatro musical americano. "Aqui, eles cuidam de verdade dos futuros artistas. Mas não basta talento, é preciso ter constância. Precisam sentir que podem contar com você diariamente", disse.

Experiência

Gabriela começou no balé aos 3 anos e, aos 7, se apaixonou pelo jazz. Passou por diferentes modalidades, viajou para Israel, onde dançou por sete meses na Kibbutz Contemporary Dance Company, e teve a experiência de trabalhar no programa da Disney, em Orlando. "A experiência definitivamente ajudou a desenvolver meu lado artístico, a necessidade da 'mágica' em tudo que faço."

Antes de embarcar para Nova York, dava aulas pelas academias de Brasília e lecionava para crianças. "Hoje, voltei ao papel de aluna e isso tem sido transformador. Tenho o desejo de vencer e aquela garra que é típica do brasileiro."

Gabriela, brasiliense na Broadway
Gabriela, brasiliense na Broadway (foto: Arquivo pessoal)

Moradora do Plano Piloto, os laços com a casa seguem firmes. Amigos e familiares mandam mensagens motivacionais sempre que necessário, e quando a saudade bate, o FaceTime vira o ponto de reencontro. "Sinto falta do calor humano, mas levo comigo o Brasil, meus professores e tudo o que aprendi", ressaltou. Com a parede do novo quarto carregada de fotos com os entes queridos, lembranças de carinho não faltam. 

 

  • Em apenas um mês no programa, a jovem já foi aprovada em duas audições
    Em apenas um mês no programa, a jovem já foi aprovada em duas audições Foto: Material cedido ao Correio
  •  Gabriela foi aprovada no processo seletivo em novembro de 2024
    Gabriela foi aprovada no processo seletivo em novembro de 2024 Foto: Material cedido ao Correio
  • Gabriela foi aprovada no processo seletivo em novembro de 2024
    Gabriela foi aprovada no processo seletivo em novembro de 2024 Foto: Material cedido ao Correio
  • Misty Copeland, bailarina norte-americana, faz aulas particulares no mesmo conservatório 
que Gabriela
    Misty Copeland, bailarina norte-americana, faz aulas particulares no mesmo conservatório que Gabriela Foto: Material cedido ao Correio
  • Em Brasília, ela era professora e coreógrafa, agora, voltou ao papel de aluna
    Em Brasília, ela era professora e coreógrafa, agora, voltou ao papel de aluna Foto: Material cedido ao Correio
  • Misty Copeland, bailarina norte-americana, faz aulas particulares no mesmo conservatório que Gabriela
    Misty Copeland, bailarina norte-americana, faz aulas particulares no mesmo conservatório que Gabriela Foto: Material cedido ao Correio
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postado em 12/10/2025 04:00 / atualizado em 12/10/2025 17:03
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