
A Universidade Católica de Brasília (UCB) está à frente de um projeto que pretende transformar o Setor Comercial Sul (SCS) em um Polo Criativo Tecnológico. Alexandre Kieling, professor de comunicação e coordenador-geral do projeto, foi o convidado do Poscast do Correio dessa terça-feira (14/10). Em entrevista aos jornalistas Sibele Negromonte e Ronayre Nunes, ele destacou que a proposta é revitalizar uma das áreas mais emblemáticas da capital e consolidá-la como referência nacional em inovação, economia criativa e tecnologia, combinando pesquisa acadêmica e ação prática.
O trabalho faz parte do programa Desafio DF, promovido pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), e envolve uma equipe interdisciplinar de mais de 30 pesquisadores da UCB, em parceria com especialistas da Universidade de Brasília (UnB). O projeto prevê diagnóstico detalhado da região, desenvolvimento de um modelo urbanístico digital e físico, criação de uma plataforma de suporte à gestão e definição de modelo de negócios e governança participativa, com a participação direta da comunidade local, empreendedores e agentes culturais.
O senhor está confiante na posição do governo local de apoiar esse projeto de revitalização até o fim?
Não tenho nenhum indício que me faça pensar o contrário. Não houve aquele parceiro que disse "Vai devagar", não é o caso. Pelo contrário, tenho percebido uma real preocupação e um envolvimento concreto do governo do Distrito Federal. O próprio governador (Ibaneis Rocha) manifestou, em mais de uma ocasião, a importância desse projeto e do polo criativo e tecnológico, isso inclusive em falas públicas. O secretário de Ciência e Tecnologia e toda a equipe estão mergulhados no tema. Estamos no terceiro secretário desde o início da iniciativa, e todos deram continuidade ao projeto, sem nenhuma descontinuidade ou sinal de desaceleração. Todos compreendem a relevância e o papel da Secretaria de Ciência e Tecnologia nesse processo. Vejo o mesmo movimento em outras pastas. Estamos trabalhando intensamente para estruturar o modelo de gestão e, dentro dele, um instrumento de governança. Propusemos a criação de um comitê de governança, que foi acolhida pelo secretário. Agora, estudamos como antecipar a instalação desse comitê, criando um conselho consultivo que ajude a consolidar essa segunda fase.
Por que o senhor acredita que esse projeto vai avançar, diferentemente de outras propostas de revitalização que foram apresentadas para o Setor Comercial Sul?
Acredito que este projeto pode, de fato, ser o divisor de águas para aquele espaço. Existem diversos fatores que tornam o momento mais favorável. O primeiro deles é a disposição dos agentes envolvidos. Quando conversamos com cada um, todos reconhecem que chegou a hora de agir, que se tentou de várias formas, mas agora é preciso uma ação conjunta e coordenada. Esse senso de urgência e colaboração é real. Tanto é que todos apoiaram o projeto desde sua apresentação. Sempre que os convocamos para dialogar, contribuir ou opinar, têm participado ativamente. Essa interlocução tem sido essencial. Além disso, há uma conjuntura política e administrativa favorável. O governo está disposto e tem demonstrado compromisso em levar essa proposta adiante.
Qual é a previsão para as ações começarem?
Minha expectativa é de que tenhamos um decreto oficializando o polo até o fim de novembro, justamente no mês de aniversário da Prefeitura do Setor Comercial Sul. As condições estão dadas; o que falta é resolver alguns detalhes técnicos e questões legais. Estamos todos empenhados para cumprir essa meta. Pode ser que haja imprevistos, claro, mas considero uma meta viável. Com tudo o que foi desenvolvido e apresentado, o projeto tem maturidade suficiente para seguir em frente.
Como surgiu o programa Desafio DF?
O Desafio DF é um programa criado pela Fundação de Apoio (FAPDF), com o objetivo de acolher demandas que venham tanto do governo quanto da sociedade. Se uma associação civil, por exemplo, apresentar uma demanda que o governo considere relevante, ela pode ser submetida ao programa como uma proposta de estudo ou pesquisa. Esse processo segue uma regulamentação própria, dentro da estrutura do governo, do Instituto Federal e da Agência de Fomento. Nesse edital específico, foram submetidos quatro projetos. Dois chegaram à etapa final, entre eles, o nosso.
Como tem sido feito o diagnóstico do Setor Comercial Sul?
Estamos trabalhando com o apoio de um grupo altamente qualificado da área de urbanismo e arquitetura da UnB, o Parque de Inovação e Sustentabilidade do Ambiente Construído (PISAC), um instituto voltado a soluções inteligentes para cidades e problemas urbanos contemporâneos, liderado pela professora Maria Loures Pedro. Nosso grupo dialogava com o PISAC há algum tempo sobre os desafios do Setor Comercial Sul, inclusive com os próprios agentes do local. Vale destacar que essa discussão começou com a Prefeitura do Setor Comercial Sul, que levou as demandas ao GDF e à Câmara Legislativa. Esse processo de diálogo e amadurecimento das ideias dura cerca de dois anos.
Há quanto tempo vocês estão envolvidos nesse projeto?
Estamos diretamente envolvidos há dois anos, embora a Prefeitura do Setor Comercial Sul tratasse desse tema antes disso. Acompanhamos de perto todo o debate, inclusive sobre a atualização dos Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAEs), que definem as atividades permitidas na região.
Quais são as vocações econômicas do Setor Comercial Sul hoje?
Antes, o setor tinha um número limitado de vocações, voltado basicamente para comércio e serviços. Recentemente, esse leque foi ampliado, acredito que no ano passado, para incluir instituições de ensino em vários níveis: superior, técnico, formação profissional, capacitação e até creche. Hoje, há mais de 300 CNAEs autorizados para atuar no Setor Comercial Sul, o que amplia muito as possibilidades de uso e ocupação do espaço.
Quais serão as fases de implementação do projeto?
O projeto está dividido em quatro fases: Estudo diagnóstico, para compreender a situação atual e os desafios do setor. Instrumentos para a criação do polo, que incluem bases legais e institucionais. Proposta de revitalização urbanística, com intervenções físicas e estruturais. Plataforma digital, que reunirá todos os estudos e permitirá atualizações e acompanhamento das políticas implementadas ao longo do tempo. Essa plataforma também servirá para avaliar a eficácia das ações e orientar novas medidas dentro do ambiente do polo criativo e tecnológico.
Há algo que o senhor possa adiantar sobre o relatório de diagnóstico?
Posso, sim. O relatório é extenso, tem mais de 300 páginas, então é impossível detalhá-lo completamente aqui. Mas há alguns dados importantes. Realizamos um levantamento junto à Receita Federal para identificar os CNPJs ativos na região. Encontramos cerca de 5.500 registros, sendo 64% deles pertencentes aos setores de comércio e de serviços. A grande maioria é formada por pequenos ou microempreendimentos, o que mostra o peso e a importância dos pequenos negócios na dinâmica local.
Cidades DF
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