Entrevista | SANDRO AVELAR | SECRETÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA DO DF

"É preciso refletir sobre a impunidade", diz secretário de Segurança

Ao CB.Poder, o chefe da pasta lamentou a morte do estudante Isaac Vilhena, de 16 anos, na Asa Sul. Ele defendeu o endurecimento das leis para menores que cometem crimes graves e abordou políticas públicas de prevenção

 20/10/2025 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - CB.Poder entrevista o secretário de Segurança Pública do DF,  Sandro Avelar. -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
20/10/2025 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - CB.Poder entrevista o secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar. - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A segurança pública da capital voltou a ser centro de debate no CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília —, após a morte do estudante Isaac Vilhena, de 16 anos, na Asa Sul, uma das regiões mais seguras do Distrito Federal. O caso, ocorrido na última sexta-feira, levantou questionamentos sobre a reincidência de jovens infratores e os limites do sistema socioeducativo. Em entrevista às jornalistas Adriana Bernardes e Samantha Sallum, o secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, analisou o episódio, defendeu o endurecimento das leis para menores que cometem crimes graves. Ele ressaltou a importância de políticas de prevenção e inclusão social voltadas à juventude das periferias.

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Brasília está em comoção por conta da tragédia que aconteceu na última sexta-feira, quando Isaac Vilhena, de 16 anos, foi morto. Do ponto de vista da Secretaria de Segurança Pública, qual a sua análise sobre o caso?

Antes de tudo, quero me solidarizar com a família do Isaac — os pais, o irmão, os amigos. É algo muito triste que choca a todos. Isaac estava praticando esporte quando foi abordado por três menores. Um deles, o que deu a facada, havia sido apreendido 20 dias antes por tráfico de drogas. A polícia havia feito um trabalho preventivo, ao apreendê-lo antes, e novamente atuou de forma eficiente ao apreendê-lo depois do crime. Mas a questão é: quantas vezes a polícia precisa prender até que o trabalho seja, de fato, reconhecido como eficaz? Muitas vezes, o mesmo indivíduo é preso várias vezes e continua em liberdade, até cometer um crime mais grave, como um latrocínio. Casos como esse precisam gerar reflexão. Particularmente, acho um absurdo. Seguimos uma legislação de 1940 — nem mesmo os adultos daquela época tinham o grau de informação que hoje têm os nossos menores. Dizer que um rapaz de 15, 16 ou 17 anos não tem noção do que está fazendo é horrível.

Na sua avaliação, o caminho prioritário seria endurecer as penas para adolescentes que cometem crimes ou investir em melhorias no sistema socioeducativo e em políticas de prevenção?

Acredito que precisamos de tudo isso — um pacote completo. Penas mais duras, especialmente para crimes graves, são indispensáveis. Não é possível aceitar que um menor de 15, 16 ou 17 anos cometa um crime e saia impune, sabendo que será protegido pela lei. O delegado responsável pelo caso, Rodrigo Larizatti, relatou que dos sete apreendidos, apenas um demonstrou alguma sensibilidade com relação ao crime bárbaro. Esses jovens sabem o que estão fazendo e conhecem a lei que os protege. É uma ironia: a norma parte da ideia de que eles não compreendem o crime, mas eles entendem muito bem o sistema e se aproveitam dele.

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Secretário, que políticas públicas o senhor defende para ampliar a inclusão de jovens, especialmente os de periferia, como os autores do crime recente, que são da região do Paranoá?

São diferentes caminhos. Um deles é a criação de vagas nas escolas, para que todos os nossos jovens possam estudar. Conversei outro dia com a secretária de Educação, Helvia (Paranaguá), e ela confirmou que hoje nós temos vagas para todos os jovens. Às vezes, a vaga não é exatamente na escola mais próxima de casa, mas há vagas disponíveis. Isso é importantíssimo. Agora, também é fundamental garantir a obrigatoriedade de que esses jovens frequentem a escola.

E quanto a programas sociais? 

A Secretaria de Segurança Pública teve bons programas que estamos reeditando. Um deles era o Esporte à Meia-Noite, que oferecia atividades esportivas nas madrugadas, para jovens que estariam nas ruas, muitas vezes em busca de lazer. Outro programa era o Picasso Não Pichava, que seguia a mesma lógica, mas voltado à cultura — ensinava pintura, canto, teatro. São medidas que têm resultados reais. Mas não existe solução milagrosa; é preciso planejamento, e os resultados aparecem no médio e longo prazo.

Em relação à criminalidade e à violência no Distrito Federal, como está o panorama atual? 

Os jovens mais expostos à violência são justamente os que têm menos condições financeiras e vivem em regiões mais vulneráveis. As estatísticas mostram isso: os crimes violentos, como homicídios, lesões corporais e estupros, atingem principalmente esses jovens. O jovem de periferia é, ao mesmo tempo, o mais preocupado com esse tipo de violência e a principal vítima dela. Mas, de forma geral, os números do Distrito Federal são bons.

O senhor pode fazer um panorama rápido dos índices e também comentar sobre a reposição de efetivos das polícias Civil e Militar?

O DF é a segunda capital mais segura do Brasil, atrás apenas de Florianópolis, mas estamos caminhando para ser a mais segura. Em 2024, tivemos números históricos: o menor número de homicídios desde o início da série histórica, medida desde 1977, e o menor número de latrocínios. Para se ter uma ideia, em 2001 foram 84 latrocínios; no ano passado, apenas oito. Claro que, enquanto houver um caso, não há motivo para comemorar. Para manter essa tendência, estamos reforçando as forças de segurança. O governador Ibaneis Rocha realizou vários concursos — milhares de novos policiais militares, bombeiros e policiais civis ingressaram. E, até o final deste ano, serão nomeados mais 1.200 policiais militares e 600 policiais civis.

Apesar dos números, a sensação de insegurança entre os moradores é grande. Também há aumento de crimes envolvendo a população em situação de rua. Qual é o cenário hoje?

A sensação de insegurança é algo que merece um estudo à parte, e estamos realizando isso. Mesmo em países como o Reino Unido, que têm excelentes índices de segurança, as pessoas relatam sensação de medo. No nosso caso, os números reais mostram que o DF é a segunda capital mais segura do país — e isso em uma área com mais de 3 milhões de habitantes, com a maior densidade demográfica do Brasil. Sobre a população em situação de rua, os homicídios com vítimas desse grupo aumentaram muito: passaram de 3% ou 4% para 13% no último ano. E a maioria dos autores desses crimes também pertence à população em situação de rua. Quando o Judiciário, por exemplo, impede abordagens policiais alegando discriminação, na prática, isso pode acabar expondo essas pessoas a criminosos que se fazem passar por moradores de rua.

 


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postado em 21/10/2025 06:07
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