A concessão dos estacionamentos próximos à Rodoviária, ao Conic e ao Conjunto Nacional causou insatisfação entre brasilienses. A medida, parte do projeto Zona Verde, do Governo do Distrito Federal (GDF), pretende desestimular o uso de automóveis e incentivar o transporte público, mas tem provocado críticas sobre a qualidade e os impactos da iniciativa. Motoristas e especialistas concordam em um ponto: sem melhorias estruturais no transporte coletivo, qualquer política de restrição ao uso de carros particulares tende a enfrentar resistência.
A medida deverá ser ampliada para ainda mais estacionamentos do DF. Em nota ao Correio, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) esclareceu que o projeto "abrange a concessão, não a privatização, de 115 mil vagas de estacionamento da Asa Sul, Asa Norte, Sudoeste, Setor de Indústrias Gráficas (SIG), Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), setores Bancário, Comercial e de Autarquias (Sul e Norte), Esplanada, Eixo Monumental e bolsões nas estações de metrô e BRT". A pasta destacou ainda que a cobrança "visa desestimular o transporte individual e incentivar modos ativos de locomoção, como caminhada e bicicleta". Uma das propostas é que os motoristas que estacionarem seus veículos nos bolsões e embarcarem no metrô ou no BRT não paguem a tarifa do Zona Verde.
O secretário Zeno Gonçalves reforçou que a medida faz parte de um planejamento mais amplo de mobilidade. "Nós estamos em plena revisão do Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU), consolidando propostas que incluem zonas 30, malha cicloviária, ruas completas, novos terminais de integração, soluções em BRT e VLT. Também pretendemos ampliar as políticas de gratuidade no transporte público e concluir o projeto da concessão do metrô dentro do prazo", afirmou.
Críticas ao momento
A urbanista e professora da Unieuro Hiatiane Cunha de Lacerda pondera que o modelo adotado em Brasília se inspira em práticas europeias, mas destaca as diferenças de contexto. "Na Europa, estacionar em áreas centrais custa caro para desestimular o uso do carro, mas lá o transporte público é eficiente. No Brasil, essa política é difícil de aplicar de forma justa, porque ainda falta qualidade no transporte coletivo", explicou.
Para ela, a concessão dos estacionamentos acontece no momento errado. "O correto seria haver, primeiro, um alto investimento em transporte público. Privatizar estacionamentos públicos não deveria ser prioridade. No atual contexto, fica evidente a falta de planejamento da gestão. Com um plano decente de mobilidade urbana, a privatização não estaria ocorrendo agora", completou.
O especialista em trânsito Wesley Ferro defende a ideia de cobrar pelos estacionamentos, mas critica a forma como o projeto vem sendo conduzido. "O estacionamento é um instrumento para desestimular o uso do automóvel e gerar recursos para o transporte público e modais ativos. Quando o GDF propôs o Zona Verde, defendemos o projeto, mas houve um desvirtuamento da proposta original, quando se pretendia usar os recursos para cobrir deficit do Instituto de Previdência dos servidores. Isso foi um uso totalmente distorcido do instrumento", contou.
Bolso dos motoristas
No estacionamento atrás do Conjunto Nacional, a bombeira civil Débora Evelyn, 34 anos, de Sobradinho, assustou-se ao ver o valor da cobrança. "Uma hora e meia foi R$ 22? Que absurdo! Preço de estacionamento de aeroporto", reclamou ao ver no monitor. "O carro fica no Sol, o estacionamento não é cercado, todo mundo pode entrar aqui e o valor é altíssimo. O transporte público em Brasília é péssimo, então a gente acaba pagando mais caro por conforto", lamentou.
O advogado Edson Mahana, 79, precisou mudar o escritório do centro para o Lago Norte por causa da nova cobrança. "Está atrapalhando todo mundo. Isso aqui é área pública, não deveria ser cobrada. Tive que fechar o escritório porque meus clientes não conseguiam estacionar".
Já o vigilante Valder Moura dos Santos, 54, morador de Sobradinho 2, tem opinião diferente. "O transporte público melhorou. Se o estacionamento não for tão caro, ajuda, porque evita bagunça e facilita achar vaga. Antes a gente ficava rodando muito. Agora, se acontecer algo com o carro, posso recorrer aos meus direitos", ponderou.
Cobrança e valores
Desde 30 de julho deste ano, há a cobrança para estacionar o carro nos arredores da plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto. Com isso, todos os acessos contam com cancelas eletrônicas, vigilância e seguro contra sinistros.
Os valores cobrados são R$ 7 por hora, com diária de R$ 30. A exceção é o pátio atrás do Conjunto Nacional, onde a tarifa é de R$ 12 por hora e diária de R$ 40. Apenas aos domingos, nesse mesmo pátio do Conjunto, a cobrança cai para R$ 8 por hora.
Há opções de pacotes mensais, com valores entre R$ 250 e R$ 350 dependendo do bolsão. Os estacionamentos oferecem 10 minutos de tolerância, permitindo embarques, desembarques ou outras ações rápidas sem cobrança.
Todos os veículos estacionados nas áreas sob responsabilidade da concessionária estão protegidos por seguro. Além disso, câmeras foram instaladas nos estacionamentos para segurança.
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