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Batalha do Metrô dita o ritmo da rima em Samambaia

Iniciativa nasceu da falta de eventos culturais na Samambaia e hoje reúne centenas de pessoas ao redor da arte, da rima e da resistência

Na saída do Terminal da Samambaia Sul, o som das batidas e as palmas do público chamam a atenção de quem chega. As luzes dos celulares se erguem, formando uma roda com mãos levantadas que vibram no ritmo das rimas. A cena é tradicional na cidade: é a Batalha do Metrô, uma das mais importantes manifestações culturais do DF, que desde 2018 ocupa o espaço urbano com arte, crítica e resistência. A batalha ocorre toda sexta-feira a partir de 19h.

O evento começou de forma simples, com poucos MCs de rap e muita vontade de fazer acontecer. "O lazer na Samambaia sempre esteve presente, mas, muitas vezes, o cultural fez falta", conta Gabriel Rocha, 29 anos, um dos organizadores. "No começo, a gente saía da escola e ia para a estação rimar, com apenas oito pessoas. Era a alta das batalhas de rima. Nos esforçamos muito para as pessoas virem assistir".

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A escolha da estação do metrô não foi por acaso. Além de ser um ponto de grande circulação, o local garante que o público e os MCs tenham acesso facilitado para ir e vir. "Foi uma escolha estratégica. Mesmo a batalha terminando tarde, as pessoas ainda conseguem pegar o transporte para casa", explica Gabriel.

Atualmente, Samambaia conta com quatro batalhas de rima, mas a do metrô se tornou um marco para a cidade. Em edições comuns, o evento reúne entre 50 e 100 pessoas. Nos grandes encontros, já atraiu até 5 mil espectadores, transformando o espaço público em voz para a periferia. "Eu amo a Samambaia e não desejo deixar esse lugar nunca. Vejo a falta que a gente tem de eventos culturais abertos para a quebrada. Isso é muito importante. Não apenas o cultural, mas também o social. É um lugar onde as pessoas podem ser ouvidas, aproveitar um momento com os amigos e transformar a visão das próximas gerações", completa Gabriel.

Entre os destaques da cena está João Eliel Gomes, o Gomes MC, 24, o maior campeão da Batalha do Metrô e um dos principais nomes do freestyle do DF. Músico e compositor, ele acumula mais de 480 títulos em 13 anos de trajetória, com reconhecimento nacional. "O hip-hop me movimenta. Freestyle é um estilo de vida. Rimar é poder falar sobre qualquer coisa, inclusive fazer uma crítica social".

Com influência familiar no movimento, a prima ajudava a organizar a Batalha do Museu, uma das maiores do Brasil, assim, Gomes foi atraído para o mesmo caminho. "A importância desse movimento é justamente aproximar as pessoas mais carentes da cultura. A cultura traz educação e é, como um todo, um ato político. Se não fossem as batalhas de rima e o rap, a gente jamais conseguiria ocupar esses espaços", afirma.

O segundo maior campeão da Batalha do Metrô, Jefferson Eduardo, o Jeffe MC, 22, também encontrou nas rimas um caminho transformador. "Eu comecei brincando de rimar com meus amigos na escola. Depois, descobrimos que o que fazíamos já existia e era um movimento cultural", lembra. "A batalha serve para preencher um espaço na vida daquela pessoa que poderia estar sendo guiada para algo ruim, mas está ali na cultura aprendendo algo. O objetivo é cortar o vínculo com drogas e focar em fazer batalha, chamar atenção pro hip-hop como um instrumento que salva vidas".

 


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