'Uma lança atravessou meu coração', diz mãe sobre a notícia da morte de Isaac

Na missa de sétimo dia, mãe de jovem assassinado na Asa Sul relembra o momento em que soube da morte do filho

Durante a missa em memória de Isaac Vilhena, de 16 anos, realizada na Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, na Asa Sul, a mãe do adolescente, Jane Vilhena, emocionou os presentes ao relembrar, em detalhes, o momento em que soube da morte do filho. O estudante foi assassinado durante um assalto, na última sexta-feira (17/10), em um parque na 112/113 Sul, região central de Brasília.

Em meio a orações e lágrimas, Jane descreveu o filho como um jovem “muito amado, carinhoso e respeitador”, e contou como cada gesto dele refletia a educação e o amor recebidos em casa. “O Isaac era um filho muito desejado. Antes mesmo de conhecê-lo, eu já o amava. Ele foi um bebê tranquilo, uma criança feliz e muito afetuosa. Por onde passava, levava alegria, sem distinção entre criança, adulto ou idoso. Até os cachorrinhos faziam amizade com ele”, contou.

Jane recordou o último dia em que esteve com o filho. Na véspera do crime, os dois haviam caminhado juntos no parque que frequentavam desde que Isaac era pequeno. “Segurei o braço dele e falei: ‘eu te amo tanto que chega dói’. Ele respondeu: ‘também te amo, mãe’. Eu brinquei, dizendo que ele era meu bebê. E ele riu. Eu não imaginava que seria a última vez que eu ouviria a voz dele dizendo ‘te amo’”, relatou.

Marcelo Ferreira CB/DA Press - 23.10.2025. Marcelo Ferreira CB/DA Press. Missa de 7 dia do Isaac VIlhena

No dia seguinte, uma sexta-feira, Jane contou que se preparava para ir à missa, como fazia todas as semanas, quando recebeu uma ligação desesperada da madrinha do filho. “Ela gritava, chorava, e eu não entendia o que estava acontecendo. Achei que ele tivesse se machucado, quebrado o braço, algo assim. Mas quando cheguei lá, senti como se uma lança atravessasse meu coração. Foi a mesma imagem que eu tinha visto de manhã, no terço, de Nossa Senhora com o coração transpassado por uma lança. Naquele momento, eu entendi”, disse, com a voz embargada.

Jane tentou reanimar o filho ainda no local, antes da chegada do socorro. “Eu comecei a fazer massagem no meu filho e pedi a Deus que me deixasse no lugar dele. Depois só consegui dizer: ‘Senhor, me perdoe, não cabe a mim questionar o que o senhor faz’. Mas a dor é imensa, como se o meu coração tivesse sido rasgado”, afirmou.

Apesar da tragédia, a mãe afirmou que tem buscado consolo na fé e nas lembranças do filho. “Cada pessoa que fala sobre o Isaac me faz ver o quanto ele era especial. Os amigos me dizem que ele era a luz na vida deles, que fazia os outros sorrirem mesmo nos dias difíceis. Um menino amoroso, que abraçava, que dizia ‘eu te amo’. E é isso que eu quero deixar: abracem seus filhos, digam que os amam, porque a gente nunca sabe quando será a última vez”, disse.

A mãe lembrou que o jovem era carinhoso e atencioso com todos à sua volta. “Se ele saísse e voltasse dez vezes, dez vezes ele dizia: ‘bença, mãe; bença, pai’. Ele respeitava todo mundo, os porteiros, o pessoal da limpeza. Fazia questão de ser gentil”, disse.

O pai de Isaac, Lucas, também discursou durante a homenagem e agradeceu o apoio da comunidade, de familiares e de amigos. “Deus nos emprestou o Isaac por 16 anos e oito meses. E o ministério dele estava pronto. Agora, ele está dormindo nos braços de Nossa Senhora. Nós não questionamos, apenas aceitamos. Confiamos que Deus o acolheu em vida eterna”, afirmou.

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A cerimônia contou com a presença de amigos, familiares e colegas de escola do jovem, além de integrantes da comunidade católica. Durante a missa, foi lembrada a trajetória religiosa de Isaac, que havia sido crismado no ano passado. “Era um menino de fé, que vinha à igreja comigo. Sempre muito carinhoso, mesmo quando a gente brigava por alguma coisa. Ele me dizia: ‘eu te amo, mãe’. E eu dizia o mesmo”, relembrou Jane.

O caso

Isaac Vilhena foi morto com uma facada no peito durante uma tentativa de assalto, por volta das 18h da última sexta-feira (17/10), em um parque na entrequadra 112/113 Sul, no Plano Piloto. Segundo testemunhas, o adolescente jogava vôlei com amigos quando foi abordado por criminosos. Ele teria corrido atrás dos assaltantes para tentar recuperar o celular e acabou atingido no peito.

O Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF) prestou os primeiros socorros e o encaminhou ao Hospital de Base, mas ele não resistiu aos ferimentos. Horas depois, seis menores de idade foram apreendidos pela Polícia Militar do DF (PMDF), no Paranoá, suspeitos de envolvimento no crime.

De acordo com a corporação, o rastreamento de um dos celulares roubados foi essencial para localizar os suspeitos. “Eles não apresentaram resistência. De imediato, confessaram a participação no crime e indicaram a localização dos outros envolvidos”, afirmou o tenente Magalhães, responsável pela operação. Todos foram encaminhados à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) da Asa Norte.

O assassinato de Isaac ocorreu na mesma semana em que outro latrocínio envolvendo menores foi registrado no Distrito Federal — o do policial penal Henrique André Venturini, morto durante um assalto no Riacho Fundo II, enquanto trabalhava como motorista de aplicativo.

Dor e fé

Durante a missa, Jane encerrou seu discurso com uma mensagem aos pais presentes. “Digam ‘eu te amo’ aos seus filhos. Abençoem eles antes de saírem de casa. Eu achava que o Isaac me dava trabalho, que era só um adolescente teimoso, mas hoje vejo o quanto ele era luz. E é isso que me consola: ele viveu amando, e foi amado”, afirmou.

Com a voz embargada, ela agradeceu as mensagens e o apoio recebidos nos últimos dias. “Foram tantas palavras de carinho que ainda nem conseguimos ler todas. Mas cada uma delas é um abraço de Deus para nós”, disse.

Entre lágrimas e aplausos, a mãe foi amparada por familiares e pela comunidade religiosa que se reuniu para homenagear o jovem. O som das orações ecoou pela igreja que Isaac frequentava com os pais, agora marcada pela lembrança de um adolescente descrito por todos como “um menino de luz”.

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