
De simpatia notável e simplicidade sem igual, Carlos Alberto Albuquerque cultivava um senso comunitário que inspirava todos que cruzavam seu caminho. Aos 91 anos, o ex-funcionário do Banco do Brasil morreu no domingo, véspera de seu aniversário de 92 anos, deixando familiares, amigos e vizinhos comovidos com a despedida de alguém que fez da gentileza um estilo de vida.
Natural de Conquista, em Minas Gerais, Carlos chegou à capital em 1960, na primeira leva de funcionários do Banco do Brasil, ainda no período da construção de Brasília. À época, morava no Rio de Janeiro: “Ninguém queria vir para cá, era só poeira. Mas ele realmente buscava construir uma vida aqui”, contou o filho Marcelo Rezende, 54.
Morador da 308 Sul, o ex-bancário costumava cuidar do espaço e ajudar a todos ao seu redor, fazendo a limpeza do pequeno lago de carpas da quadra-modelo e a manutenção dos jardins do bloco onde morava. “Nos últimos anos de vida, ele se dedicou inteiramente ao laguinho. É algo muito simples, um detalhe pequeno, não é nada grandioso, mas é muito profundo, impacta”, comentou Rezende. “Acho que essa era uma característica marcante dele, a simplicidade, o desprendimento, a forma de ele se doar para as pessoas”, acrescentou.
Segundo a prefeitura da 308 Sul, as atividades de conservação feitas por Carlos ajudaram a preservar e valorizar a quadra-modelo, de forma a consolidar o local como ponto turístico de Brasília.
Em 2019, ele foi entrevistado pelo Correio. Na ocasião, os moradores organizavam uma vaquinha para comprar novos filtros para os tanques das carpas. Em sua fala, o pioneiro expressou sua paixão pelo espaço. "Venho fazer meus exercícios aqui todo dia, aproveito para fazer a aspiração da sujeira que fica depositada no fundo dos tanques", explicou.
O ex-bancário se orgulhava de sua saúde, costumava se alimentar bem, praticar atividades físicas, raramente ficava doente e havia muitos anos não tomava qualquer medicação. No entanto, após a pandemia de covid-19, Carlos teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) enquanto cuidava do amado laguinho, o que ocasionou uma queda e um pequeno derrame, gerando uma série de sequelas. No fim da vida, com o coração fraco, contraiu uma infecção que o levou à morte.
Na 308 Sul, a perda do morador foi lamentada profundamente. De acordo com o porteiro do bloco onde ele morava, Flávio Henrique, 26, Carlos era uma pessoa sem igual, muito animado e gostava de agradar: “Todos ficaram tristes, o pessoal aqui gostava muito dele”, comentou.
O pioneiro deixa a esposa, dona Ângela, três filhos e cinco netos. Com lágrimas nos olhos, Rezende expressou sua dor. “É lógico que estamos sentindo bastante, mas fica uma mensagem positiva: em um mundo tão polarizado, cheio de guerras, ele estava sempre focado em ajudar”, disse, emocionado.
A despedida será nesta terça-feira (18/11), no cemitério Campo da Esperança da Asa Sul, na capela 6. O velório será das 14h às 16h e o sepultamento, às 16h30.
*Estagiária sob supervisão de Eduardo Pinho
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