
Por Manuela Sá* — O papel do jornalismo na atualidade e a educação midiática foram temas discutidos, ontem, no programa CB.Poder — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. Aos jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Mariana Niederauer, Patrícia Blanco, presidente-executiva do Instituto Palavra Aberta, falou sobre a promoção da liberdade de imprensa e de expressão. Ela destacou que a liberdade de imprensa é um direito fundamental e tem que ser vista como um bem público.
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O Instituto Palavra Aberta, recentemente, ganhou um prêmio da Associação Nacional de Jornais (ANJ). Como surgiu e qual é o papel do instituto?
Primeiro, foi uma alegria receber o Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa 2025, junto com tantos grandes nomes da defesa do direito ao livre acesso à informação de qualidade que a imprensa produz. Este também é um ano muito especial, porque faz 15 anos que nasceu o Instituto Palavra Aberta. Em 2010, quando surgiu a fundação, havia uma discussão por toda a América Latina sobre as tentativas de restrições à prática jornalística. Nosso objetivo, desde o início, foi a promoção da liberdade de imprensa e de expressão. A liberdade de imprensa é um direito fundamental, está na Declaração de Direitos Humanos, mas ela tem que ser vista como um bem público.
Um ponto defendido pelo Palavra Aberta é a questão da educação midiática. O que é esse princípio e por que ele é tão importante?
A educação midiática é uma competência necessária para analisar criticamente as informações que você recebe. Ela nasce da discussão sobre o papel da mídia na formação da opinião pública. No entanto, no ambiente de pluralidade de vozes, a educação midiática ganha uma importância maior. Quando vejo algo, por exemplo, do site do Correio Braziliense, tenho uma informação que foi apurada, que foi analisada, que foi feita com métodos jornalísticos para chegar até mim. Houve uma curadoria. Quando estou no mar aberto das redes sociais, vai chegar conteúdo de todas as maneiras. Quem vai ter que avaliar essa informação sou eu. Então, tenho que ter a competência para acessar a informação, analisá-la criticamente e produzi-la com ética e responsabilidade.
Nos últimos dias, repercutiu a decisão do governo da Austrália de proibir o acesso às redes sociais para menores de 16 anos. Como avalia essa decisão?
Não sei se a proibição total e restrita para todas as idades é a melhor saída. Acho que temos que regular como o ECA (estatuto da Criança e do Adolescente) digital, lei aprovada em setembro, que prevê a autonomia progressiva ao longo das idades. A gente sabe que adolescentes passam horas imersos em redes sociais, passando por um processo que pode ser prejudicial à saúde mental. Precisamos proteger e dar ferramentas para que eles construam uma autonomia progressiva, proibir tudo pode jogar para debaixo do tapete a discussão sobre a progressão da autonomia. As próprias redes sociais são proibidas e não foram desenhadas para menores de 13 anos. Hoje, a gente vê, por pesquisas do Cetic, do TIC Kids Online, que crianças de 5 anos têm celular próprio. Aos 8 e 9 anos, elas estão imersas no ambiente digital, com acesso a conteúdos que não são apropriados e a desafios que podem gerar danos à saúde e até, infelizmente, a falecimentos.
Como essas questões digitais e de desinformação têm impactado o público 60+?
Elas impactam enormemente, inclusive, no uso exacerbado. Há estudos que mostram que a população 60+ é tão ou mais viciada do que os adolescentes em redes sociais. Eles são vítimas de algoritmos polarizantes e não questionam as informações recebidas. Muitas vezes, eles também são vítimas de golpes. Está acontecendo em Brasília a 6ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, promovida pelo Ministério dos Direitos Humanos. Estamos participando porque temos um programa, o Educa Mídia 60+, que fornece subsídios para que esse público saiba interpretar corretamente as informações. O desafio para esse público é ainda maior porque não há o espaço da escola para aprendizagem, como há para crianças e adolescentes. Portanto, esse público precisa ter educação midiática para estar preparado para a complexidade que virá, por exemplo, com a inteligência artificial.
Assista à entrevista completa
*Estagiária sob a supervisão de Malcia Afonso
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