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Antropóloga da UnB defende mais políticas de prevenção ao feminicídio

A especialista disse que as leis existem e são duras, mas faltam políticas de prevenção específicas para proteger mulheres

A professora da Universidade de Brasília (UnB) e antropóloga especialista em violência contra a mulher Lia Zanotta Machado participou da edição desta segunda-feira (8/12) do CB.Poder — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. Zanotta reforçou às jornalistas Sibele Negromonte e Ana Maria Campos a necessidade de mais medidas de prevenção para as vítimas de violência.

"A segurança pública faz um trabalho que, dificilmente, consegue prevenir os feminicídios. Por isso, precisamos de políticas de segurança e de justiça específicas para defender os direitos das mulheres e diminuir os feminicídios, porque o modo de operação da segurança pública é mais voltada para grupos organizados", afirmou.

Zanotta disse, ainda, que é necessário que os homens percebam o horror que é o crime contra a mulher. "Se olhar as notícias ou nos júris, as razões alegadas são fúteis, como ciúmes, traição e discussão. Esse é um dos grandes problemas, porque os homens consideram que, para qualquer coisa que a mulher não faça de acordo com o seu desejo, começam a bater, espancar ou matar. É fundamental que a gente tenha um pensamento de como podemos mudar essa valorização machista que faz da mulher um quase nada", destacou Zanotta sobre questões que têm impulsionado o aumento do número de casos de feminicídio.

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Quando vítimas de violência, as mulheres costumam ser julgadas. "A memória social vem de geração em geração ensinando os homens a serem machistas e a não perceber a mulher como humana. Por muito tempo, a defesa da honra ou a violenta emoção após uma descoberta se tornaram uma jurisprudência em defesa de homens que agrediram suas mulheres", declarou. 

A antropóloga contou que, nas últimas décadas, a autonomia das mulheres aumentou e isso gera o incômodo masculino. "Temos um Congresso e um Poder Executivo muito mais masculino do que feminino, mas o mercado de trabalho possui uma quantidade enorme de mulheres que podem ser chefes. Temos ainda um teto de vidro para as mulheres. Algumas são chefes, e isso parece incomodar os homens. Como no caso da última sexta (5), porque não importa o motivo, foi pelo fato de ela ser mulher que aquele rapaz pode dizer que tinha que matar aquela mulher", afirmou.

Assista à íntegra da entrevista:

 

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