A instabilidade climática que atingiu o estado de São Paulo na tarde e na noite de quarta-feira, com rajadas de vento superiores a 90 km/h, provocou um efeito dominó na malha aérea do país e paralisou as operações dos dois principais aeroportos paulistas, Congonhas e Guarulhos. Os impactos atingiram o Distrito Federal e, segundo a Inframerica, concessionária responsável pelo Aeroporto Internacional de Brasília, 50 voos foram cancelados desde a tarde de quarta-feira, 29 deles na manhã de ontem. Para hoje, a previsão é de que o terminal volte a funcionar normalmente.
Ao todo, 37 voos foram cancelados nesta quinta-feira, tanto na chegada quanto na partida. Até as 18h, 12 voos registraram atraso na partida do terminal brasiliense, reflexo direto do fechamento temporário dos aeroportos paulistas após a formação de um ciclone extratropical sobre o Atlântico Sul.
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Na quarta-feira, pelo menos 87 decolagens e 80 pousos foram cancelados em Congonhas, que voltou a operar de forma parcial apenas no fim da noite. No Aeroporto de Guarulhos, 31 aeronaves tiveram de ser alternadas para outros terminais devido ao mau tempo, enquanto 15 voos previstos para ontem foram cancelados.
Taís Rocha, 42 anos, paciente oncológica que viajava de Salvador para o Rio de Janeiro, teve que descer em Brasília. Sem informações ou assistência adequada, ela relatou ter passado mais de cinco horas sem receber água ou alimentação, situação que considerou "desumana".
"Sou paciente oncológica com metástase nos ossos, na bacia e no pulmão, e estou pedindo 'por favor, água' e nada. Tem cinco horas que estou viajando e, até agora, não tive nada", desabafou. Revoltada, Taís reclamou que não recebeu orientações da companhia aérea. "Criaram uma fila de prioridade e me colocaram lá. Quando cheguei, criaram outra. Continuamos sem respostas, sem orientação alguma. Se não tem voo, coloca o pessoal em um hotel, ou pelo menos dê alimentação", cobrou.
Ela também criticou o fato de ter sido direcionada para Brasília sem suporte. "Isso não se faz! Se sabiam que o clima em São Paulo estava ruim, por que enviaram uma paciente oncológica para Brasília, sem nenhum auxílio, sem ter como voltar para casa ou como seguir viagem? Isso não existe."
Congestionamento
A quarta-feira foi marcada por uma sucessão de eventos meteorológicos extremos na capital paulista. As rajadas de vento, que chegaram a 93 km/h, forçaram o fechamento completo dos aeroportos de Congonhas e de Guarulhos, por questões de segurança. O impacto foi imediato: aeronaves em rota para São Paulo tiveram de alternar seus destinos.
Um voo da Latam, que havia decolado de Brasília com destino a Congonhas, retornou à capital federal momentos antes do pouso. Outro voo, que também havia saído da capital, foi desviado para Curitiba. Uma aeronave que vinha de Goiânia foi remanejada para Belo Horizonte, mas teve de pousar na capital federal horas depois, devido à lotação de terminais no Sudeste.
No fim da noite de quarta-feira, diante do caos operacional, o Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) anunciaram medidas emergenciais para reduzir os atrasos. Entre elas, a ampliação excepcional do horário de funcionamento de Congonhas, que ontem operou até a meia-noite — duas horas além do limite tradicional.
O objetivo foi tentar reorganizar os voos represados desde o fechamento temporário. Segundo o ministério, a interrupção das operações na véspera foi inevitável, para garantir a segurança de passageiros e profissionais da aviação civil. Tanto o MPor quanto a Anac afirmaram estar monitorando de perto o atendimento oferecido pelas companhias aéreas aos clientes afetados.
O Aeroporto de Brasília informou que as operações seguem normalmente hoje. As empresas aéreas que operam no terminal também se posicionaram. A Latam destacou que clientes com voos de, para ou via São Paulo, entre quarta-feira e hoje — mesmo os não cancelados —, podem alterar a data da viagem sem custo, desde que a mudança seja feita antes da partida original, como forma de aliviar a demanda nos aeroportos.
A Gol informou que passageiros impactados podem remarcar seus voos sem custo adicional, dentro da validade do bilhete, sem necessidade de ir ao aeroporto, bastando acionar a central da companhia. A Azul flexibilizou sua política de remarcação: clientes com passagens para ontem e hoje podem alterar suas viagens até 18 de dezembro, sem custo, ou manter o valor integral como crédito para uso em até um ano.
*Estagiária sob a supervisão de Eduardo Pinho
