Treze caixas do medicamento Mounjaro foram apreendidas, e uma pessoa foi presa e autuada em flagrante por crime contra a saúde pública durante uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), realizada na Feira dos Importados nesta terça-feira (23/12).
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De acordo com a delegada do Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor), Agatha Braga, a ação foi deflagrada pela Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), no âmbito da operação Kwikpen. "O objetivo foi localizar e apreender medicamentos de uso controlado, especialmente o Mounjaro. Foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão nas regiões do SIA, Ceilândia e Vicente Pires. Na Feira dos Importados, algumas bancas específicas foram alvo das diligências", afirmou.
As investigações tiveram início a partir de uma denúncia da Diretoria de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (Divisa/SES-DF), que apontou a comercialização irregular do produto na Feira dos Importados de Brasília. Segundo o órgão, o Mounjaro tem circulação regulada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sendo proibida a venda sem prescrição médica e retenção da receita.
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A apuração identificou armazenamento inadequado, importação sem comprovação de procedência e orientação indevida sobre a aplicação e o uso do medicamento — práticas que potencializam riscos à saúde dos consumidores.
A operação mobilizou cerca de 50 policiais da Decor, da Draco e da Divisão de Operações Especiais (DOE), além do apoio técnico de 12 auditores da Divisa, responsáveis pela fiscalização sanitária, transporte do material apreendido e adoção das medidas administrativas cabíveis.
Perigos
A endocrinologista do Hospital Anchieta, Ana Paula Rocha, explica que o Mounjaro é um medicamento injetável indicado para o tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade, sensível à temperatura e pode sofrer alterações quando armazenada ou transportada fora das condições recomendadas. "O principal risco é a perda de eficácia, além da possibilidade de degradação da substância ativa, o que compromete a segurança do uso. Essas mudanças não são visíveis a olho nu: a caneta pode parecer normal, mas o conteúdo já não oferece as mesmas garantias de efeito e segurança", afirma.
O uso irregular do medicamento representa sérios riscos à saúde, corrobora a endocrinologista Jamilly Drago. Ela destaca que as complicações envolvem desidratação, insuficiência renal aguda, queda de pressão e broncoaspiração. "O acompanhamento médico é indispensável, sobretudo porque o ajuste de dose deve ser feito com cautela. A exigência de receita controlada veio justamente para evitar esse tipo de uso indiscriminado e proteger a saúde da população", conclui.
Memória
Em 14 de outubro, uma clínica de emagrecimento no Plano Piloto foi interditada pela PCDF em ação conjunta com a Vigilância Sanitária do DF (Visa/DF), após denúncia de que o estabelecimento mantinha e aplicava medicamentos adulterados em clientes.
Durante a inspeção, os agentes constataram que a clínica não possuía as licenças sanitárias obrigatórias para funcionamento. No local, foram encontradas substâncias como tirzepatida, semaglutida e testosterona — utilizadas em tratamentos de emagrecimento e reposição hormonal — sem comprovação de origem e armazenadas de forma inadequada.
O médico integrativo pós-graduado em endocrinologia Wandyk Allison reforça que o Mounjaro é um medicamento biológico sensível e que o armazenamento inadequado pode comprometer totalmente seu efeito. "A exposição ao calor, o congelamento ou o transporte sem controle térmico podem degradar a molécula, alterar sua estrutura e causar perda de eficácia, sem que o paciente perceba", explica.
Segundo ele, a importação sem procedência comprovada amplia ainda mais os riscos. "Há possibilidade de falsificação, dosagem incorreta, contaminação e ausência de rastreabilidade. Sem procedência, o paciente não sabe o que está aplicando." O médico também ressalta que o uso sem orientação profissional pode gerar complicações importantes. "Tratá-lo como um 'produto de internet' ou 'atalho para emagrecimento' é um erro com potencial de dano real à saúde. Nesses casos, os riscos superam os benefícios", destaca.
