EXPEDIÇÃO

Pesquisadores brasileiros retornam após 70 dias e 29 mil km na Antártida

Coleta e análise de amostras do continente gelado ajudarão a compreender os impactos das mudanças climáticas no planeta

Venisse Schossler (de azul) e equipe do Centro Polar e Climático da UFRGS realizam coletas de gelo no Glaciar Mertz -  (crédito: Divulgação/Marcelo Curia)
Venisse Schossler (de azul) e equipe do Centro Polar e Climático da UFRGS realizam coletas de gelo no Glaciar Mertz - (crédito: Divulgação/Marcelo Curia)

Após 70 dias de pesquisas científicas na Antártida, pesquisadores retornaram ao Brasil na sexta-feira (31/1). Durante a expedição, os 57 integrantes da equipe percorreram mais de 29.316 km da costa antártica, coletaram amostras e fizeram estudos que ajudarão a compreender os impactos das mudanças climáticas no planeta.

A Expedição Internacional de Circum-navegação Costeira Antártica foi coordenada pelo professor Jefferson Cardia Simões, do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e contou com 57 pesquisadores de sete países: Argentina, Brasil, Chile, China, Índia, Peru e Rússia. Entre eles, 27 brasileiros vinculados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT) e a projetos do Programa Antártico Brasileiro (Proantar/CNPq).

“O Brasil nunca havia participado de pesquisas na Antártica Oriental. Isso demonstra que a comunidade científica brasileira tem capacidade não apenas de conduzir pesquisas de ponta, mas também de organizar logisticamente suas próprias missões”, destacou Jefferson Cardia Simões

  • Brasileiros na Antártica
    Brasileiros na Antártica Divulgação/UFRGS
  • Antártica
    Antártica Divulgação/Marcelo Curia
  • Brasileiros na Antártica
    Brasileiros na Antártica Divulgação/Anderson Astor
  • Pesquisador Fabio Leal Viana Bones coletando amostras de musgo no oásis de Bunger Hills, continente Antártico
    Pesquisador Fabio Leal Viana Bones coletando amostras de musgo no oásis de Bunger Hills, continente Antártico Divulgação/Anderson Astor
  • Pesquisador Márcio Francelino Rocha cava o solo de Bunger Hills, segundo maior oásis da Antártida
    Pesquisador Márcio Francelino Rocha cava o solo de Bunger Hills, segundo maior oásis da Antártida Divulgação/Anderson Astor
  • Equipe drealiza perfurações no gelo
    Equipe drealiza perfurações no gelo Divulgação/Anderson Astor

Segundo o professor Jefferson Cardia Simões, foi possível observar algumas ocorrências que sinalizam efeitos da mudança climática na Antártica:

  • Formação de córregos de derretimento sobre geleiras e plataformas de gelo;
  • Redução da salinidade do oceano Austral (principalmente perto da costa);
  • Presença de microplásticos em amostras da neve Antártica;
  • Observações da intensificação do derretimento das geleiras na ilha Rei George e expansão dos campos de musgo.

“Até 2100 temos uma projeção de aumento médio do nível do mar entre 28 e 110 centímetros, sendo que 50% derivam do derretimento das geleiras e 50% da expansão térmica do mar. Atualmente, a Antártica contribui com 15 milímetros desse aumento em cada década”, explica Simões.

A pesquisadora Venisse Schossler relatou um aumento do nível do mar dinâmico (oceano e atmosfera) em 12 centímetros nos últimos 10 anos, em uma taxa de 4 milímetros por ano. Segundo ele, essa elevação impacta diretamente o nível do mar dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. “A questão costeira sofrerá e é preciso lembrar que Porto Alegre está, geograficamente, na planície costeira”, diz.

A longo prazo essas regiões não serão afetadas apenas pelo nível do mar, mas também pelos ventos que estão mais fortes e atuam no represamento das águas dos rios, como ocorreu com o Guaíba na enchente de maio de 2024. “Esses são fatores associados”, frisa Venisse.

Os cientistas também observaram que a fuligem das queimadas e o microplástico chegaram ao gelo antártico. O pesquisador Filipe Lindau aponta que o alto consumo de plástico no mundo associado com o descarte nos oceanos faz com que a água e o vento o levem para longas distâncias.

  • Pesquisadores chegam ao Porto de Rio Grande
    Pesquisadores chegam ao Porto de Rio Grande Divulgação/Anderson Astor
  • Pesquisadores chegam ao Porto de Rio Grande
    Pesquisadores chegam ao Porto de Rio Grande Divulgação/Anderson Astor

“Grande parte do que chega na Antártica se dá pelas correntes e o vento sobre o oceano. Nessa expedição buscamos coletar amostras em locais mais remotos e, agora, vamos analisar o material para entender como o microplástico tem evoluído nos últimos anos”, frisa Filipe.

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Os materiais coletados serão analisados por laboratórios ao redor do mundo, contribuindo para uma visão mais ampla das transformações ambientais na região.

Aline Gouveia
postado em 04/02/2025 10:59
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