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Morcegos desafiam a morte: o segredo genético por trás da longevidade e resistência ao câncer

Estudo da Universidade de Rochester revela o equilíbrio genético sofisticado que permite aos morcegos viver décadas sem desenvolver câncer. As descobertas apontam caminhos promissores para terapias humanas contra o envelhecimento e tumores

Morcego -  (crédito: Freepik)
Morcego - (crédito: Freepik)

Eles são pequenos, voadores noturnos e, por muito tempo, vistos apenas como vilões de filmes de terror. Mas agora, os morcegos estão no centro de uma das mais promissoras descobertas da biomedicina moderna. Um estudo da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, publicado na Nature Communications, revelou os mecanismos genéticos que explicam por que algumas espécies de morcegos vivem até 40 anos — uma façanha rara entre mamíferos de pequeno porte — e praticamente não desenvolvem câncer.

A pesquisa focou em uma espécie comum na região de Rochester, o little brown bat (Myotis lucifugus), e identificou um equilíbrio biológico altamente sofisticado envolvendo dois componentes-chave: o gene p53, conhecido como o “guardião do genoma”, e a enzima telomerase, responsável pela renovação celular.

O p53 é um supressor natural de tumores que atua eliminando células defeituosas por meio da apoptose, a morte celular programada. Em humanos, há apenas uma cópia funcional desse gene. Já o morcego estudado tem duas cópias ativas, o que amplia sua capacidade de vigiar e eliminar células potencialmente malignas.

Esse “freio de emergência”, como chamam os cientistas, funciona com tanta eficácia nos morcegos que mesmo as células que sofrem mutações iniciais são rapidamente desativadas, impedindo o desenvolvimento de tumores.

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A enzima da juventude

Por outro lado, os morcegos também apresentam alta atividade da telomerase, enzima que protege os telômeros, estruturas localizadas nas extremidades dos cromossomos, que se desgastam com o tempo. Com telômeros mais protegidos, as células dos morcegos conseguem continuar se replicando sem sinais de envelhecimento precoce.

O problema, para os humanos, é que a telomerase em excesso está ligada ao desenvolvimento de câncer. Mas nos morcegos, esse risco é neutralizado pelas múltiplas cópias de p53, criando um sistema de compensação natural e eficaz.

A descoberta mais fascinante do estudo é o equilíbrio preciso entre regeneração celular e supressão de tumores. A telomerase atua como um acelerador de juventude, enquanto o p53 funciona como um freio rigoroso. Juntos, formam um sistema de renovação constante, mas altamente controlado.

Embora os morcegos não sejam imunes ao câncer, bastam duas mutações para que suas células se tornem malignas, sua resposta é rápida e eficiente. Antes que um tumor possa se desenvolver, o organismo já ativou os mecanismos de defesa.

Implicações para a medicina humana

Os cientistas acreditam que entender e replicar esse equilíbrio em humanos pode representar um salto na luta contra o câncer e o envelhecimento. “Estudar como os morcegos regulam a atividade do p53 e da telomerase nos dá uma base poderosa para o desenvolvimento de novas terapias”, afirmam os autores.

A pesquisa sugere que terapias que aumentem a eficiência do p53, ou que permitam o uso controlado da telomerase, podem ser desenvolvidas no futuro. Outra frente promissora é a investigação do sistema imunológico dos morcegos, que também se mostrou altamente eficaz em reconhecer e eliminar células tumorais.

postado em 24/06/2025 21:50
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