
Um estudo conduzido pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos, aponta que a ocitocina, conhecida como hormônio do amor, é fundamental, também, para a formação de amizades.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
O hormônio, centro da pesquisa publicada em 8 de agosto pela revista Current Biology, é liberado em diversos momentos que envolvem o toque físico. Exemplos são relações sexuais, trabalhos de parto, amamentação e até mesmo durante abraços. Ou seja, se faz presente em situações de apego e confiança.
No entanto, as pesquisas foram feitas para, principalmente, questionar a associação amorosa. Estudos com ratos-do-campo — roedor murídeo nativo da Europa e do noroeste da África — mostraram que o hormônio, responsável por atuar como um neuromodulador no cérebro, não é, como se imaginava, amplamente essencial para a criação de vínculos afetivos de longo prazo. Ou, até, para a "monogamia social" e o comportamento parental. Ainda assim, sem ela, os ratos demoraram mais para formas os vínculos mencionados.
Apesar de tudo, os cientistas optaram por se concentrar com mais ímpeto nos arganazes-das-pradarias. A outra espécie de roedor, assim como os seres humanos, é conhecida pela formação de relacionamentos monogâmicos, estáveis, complexos e seletivos.
Ainda que a maior parte dos estudos sobre o assunto se concentre em laços de companheirismo, a universidade americana optou por relacionamento seletivo entre pares, análogos às amizades humanas. As análises podem, além disso, iluminar questões psquiátricas humanas, como o autismo e a esquizofrenia, capazes de interferir na formação ou manutenção de laços sociais.
"Os ratos-do-campo são especiais, pois nos permitem entender a neurobiologia da amizade e como ela é semelhante e, ao mesmo tempo, diferente de outros tipos de relacionamento", afirmou a professora associada de biologia integrativa e neurociência da universidade Annaliese Beery. Ela também é autora sênior do estudo.
Junto da pós-graduanda em biologia integrativa e uma das duas autoras principais da pesquisa Alexis Black, Beery descobriu que os indivíduos da segunda espécie de roedores que não têm receptores do hormônio precisam de mais tempo do que os outros para formar relacionamentos em pares. Os animaizinhos donos de uma relação íntima de amizade, normalmente, se amontoam lado a lado, se limpam, e até sentam-se uns nos outros.
"A ocitocina parece ser particularmente importante na fase inicial de formação dos relacionamentos e, especialmente, na seletividade desses relacionamentos: 'Prefiro você a este estranho', por exemplo", afirmou Beery. "Os animais que não tinham a sinalização de ocitocina intacta levaram mais tempo para formar relacionamentos. E, então, quando desafiamos esses relacionamentos criando grupos, eles perderam o contato com seus parceiros originais imediatamente", acrescentou.
Já nas dependências do laboratório situado em outra unidade da Universidade da Califórnia, em São Francisco, os ratos, geneticamente modificados por um colaborador e coautor da pesquisa, Devanand Manoli, também não apresentavam recompensas sociais oriundas, normalmente, de apegos seletivos. Além de não se esforçarem muito para estar ao lado de amigos, eram menos agressivos com estranhos.
"Em outras palavras, a ocitocina desempenha um papel crucial, não somente em quão sociais eles são, mas, mais ainda, em com quem eles são sociais, sua seletividade", disse Beery. A falta de receptores de ocitocina, além disso, alterou a regulação da disponibilidade e liberação do hormônio no cérebro.
Essa etapa foi documentada pelo grupo através do uso de um novo nanossensor. "Isso nos ajudou a entender as consequências do feedback da falta desse receptor e como a sinalização da ocitocina foi alterada no cérebro”, complementou Annaliese.
Ciência e Saúde
Ciência e Saúde
Ciência e Saúde
Ciência e Saúde
Ciência e Saúde
Ciência e Saúde