DEMÊNCIA

Demência por Corpos de Lewy: entenda a doença de Milton Nascimento

Neurodegenerativa e mais agressiva que o Alzheimer, a DCL provoca perda progressiva de neurônios, alucinações visuais e comprometimento motor

Com expectativa de vida entre 5 e 8 anos após o diagnóstico, a doença não tem cura e exige acompanhamento contínuo, apoio familiar e controle de sintomas para preservar a qualidade de vida do paciente -  (crédito: Reprodução/Instagram/@miltonbitucanascimento)
Com expectativa de vida entre 5 e 8 anos após o diagnóstico, a doença não tem cura e exige acompanhamento contínuo, apoio familiar e controle de sintomas para preservar a qualidade de vida do paciente - (crédito: Reprodução/Instagram/@miltonbitucanascimento)

Aos 82 anos, Milton Nascimento foi diagnosticado com Demência por Corpos de Lewy (DCL). O filho e empresário do cantor, Augusto Nascimento revelou a condição de saúde do artista em entrevista à revista Piauí. Especialistas ouvidos pelo Correio explicam a condição de Bituca.

Segundo Daniel Yankelevich, neurologista especialista em demências da UNIFESP, a DCL integra a categoria de doenças neurodegenerativas — ao lado de Alzheimer e Parkinson, diagnóstico que Milton já havia obtido anteriormente. Ou seja, existe uma perda de neurônios progressivamente ao longo do tempo. “Nesse tipo de doença, o que costuma acontecer é um acúmulo de algumas proteínas no cérebro, que causa um efeito em cascata que termina na morte do neurônio”, explica o especialista. 

A DCL e o Parkinson são causados pelo acúmulo da mesma proteína: a alfa-sinucleína. Conforme Yankelevich, ela vai acumulando lentamente no cérebro ao longo dos anos, antes dos sintomas começarem. Enquanto no Parkinson a proteína se acumula no tronco encefálico, a DCL manifesta-se nas áreas superiores, comprometendo a visão e culminando em alucinações. Em comparação com o Alzheimer, a DCL é mais agressiva. Segundo Yankelevich, na primeira, a expectativa de vida é de 10 anos; já na segunda, é de 5 a 8 anos. 

Sintomas iniciais da condição de Milton envolvem dificuldade de atenção e executar tarefas, de acordo com o neurologista. Posteriormente, além das alucinações, pode-se desenvolver lapsos de memória, problemas em diferenciar sonhos de realidade e rigidez motora. 

Embora as alucinações possam parecer assustadoras, elas nem sempre precisam ser tratadas. “Às vezes a pessoa relata ver uma criança brincando na sala, por exemplo, mas isso não gera ansiedade, medo ou estresse”, justifica o especialista. 

Caso o paciente ainda não apresente sintomas visíveis, Yankelevich afirma que o diagnóstico pode ser comprometido, sendo necessário exames avançados. “Nem todo profissional está acostumado a identificar esses sintomas. Números da Associação das Demências por Corpo de Levi indicam que pode chegar até um ano e meio de demora para fazer o diagnóstico”, argumenta. 

Soma-se a dificuldade do diagnóstico a grande semelhança da DCL com as outras doenças neurodegenerativas. “Não temos visto na demência os mesmos avanços que vemos na doença de Alzheimer”, lamenta o neurologista. “Outra característica difícil é que ela muitas vezes vem acompanhada de outras doenças.”

Sobretudo, Yankelevich destaca a importância do apoio familiar na gerência da demência: “Sempre falo para os familiares que devemos respeitar o que traz bem-estar e não sobrecarrega o paciente.” O neurologista indica observar em quais ambientes e contexto a pessoa aparenta estar mais calma, e o que engatilha crises de irritação e agitação, sendo o sensorial um fator determinante. 

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A doença não costuma ser hereditária, condição que o médico justifica acontecer de forma espontânea, sem uma causa genética. “Alguns genes raros que dão maior risco para a doença de Parkinson e de Alzheimer parecem também causar alguns casos de DCL, mas é a minoria”, acrescenta. “O principal agente é a idade, além de fatores de risco: pressão alta, diabetes, colesterol, obesidade, tabagismo, etc.”

Yankelevich declara não existir um tratamento específico para a doença atualmente, sendo o controle de sintomas a principal abordagem médica. Medicações usadas também para Alzheimer são recomendadas para os pacientes dementes — que, conforme o especialista, respondem melhor ao tratamento do que os portadores de Alzheimer.



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postado em 03/10/2025 12:54
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