
Por Por José Deocleciano* — O Mês da Consciência Negra é um momento propício para refletir sobre a representatividade nos espaços de poder e decisão. Embora negros e pardos formem a maioria da população brasileira, a presença desses grupos na política ainda é reduzida.
Os parlamentos continuam distantes da diversidade que caracteriza o país, revelando barreiras históricas que permanecem no caminho da equidade.
A política é o campo em que se definem as diretrizes do Estado e os rumos da sociedade. Quando a composição desses espaços não espelha a realidade social, a própria democracia se fragiliza. No caso brasileiro, a sub-representação dessa população é um retrato da exclusão estrutural que persiste nas instituições públicas.
A presença de pessoas negras em cargos de liderança é transformadora em múltiplos sentidos. Ela rompe com o imaginário excludente, amplia a visibilidade e insere na agenda política temas que historicamente foram negligenciados, como o combate ao racismo e a promoção da igualdade racial. A representatividade, portanto, não é apenas simbólica — é prática, é política, é necessária.
Mas os obstáculos são persistentes. A ausência de equidade na política resulta de um longo processo de negação de oportunidades, reforçado por mecanismos de discriminação, explícitos e sutis, que limitam o acesso de pessoas negras a espaços de poder. As mulheres negras, em especial, enfrentam desafios ainda mais profundos, o que torna indispensável a implementação e o fortalecimento de políticas de ação afirmativa. No entanto, é preciso reconhecer: sozinhas, essas ações não bastam. Elas reduzem desigualdades, mas não transformam realidades sem um compromisso coletivo com a mudança.
Nos últimos anos, tem-se observado um movimento crescente de engajamento político entre jovens da população negra. O debate sobre racismo e representatividade ganhou visibilidade e passou a integrar as discussões públicas, evidenciando um avanço importante. Cada vez mais pessoas têm reafirmado suas origens e assumido com orgulho uma identidade historicamente negada. Essa consciência é o primeiro passo para reivindicar o lugar que sempre lhes pertenceu.
Fortalecer essa presença é mais do que garantir diversidade: é reafirmar a própria ideia de democracia. A ocupação de espaços de poder por pessoas negras não deve ser vista apenas como conquista simbólica, mas como exercício legítimo de um direito e instrumento real de transformação social.
Coordenador do curso de Ciências Políticas do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF)*
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