Visão do Direito

NR01: resolver conflitos no trabalho evitará problemas com a lei em 2026

"A nova regra exige que as empresas criem programas para identificar e combater problemas como estresse excessivo, assédio moral, sobrecarga de trabalho e conflitos no ambiente profissional"

Camila Linhares e Jessica Gonçalves advogadas especialistas em gestão de conflitos e sócias da Unniversa Soluções de Conflitos -  (crédito: Divulgação)
Camila Linhares e Jessica Gonçalves advogadas especialistas em gestão de conflitos e sócias da Unniversa Soluções de Conflitos - (crédito: Divulgação)

Por Camila Linhares e Jessica Gonçalves* — A prorrogação da obrigatoriedade da NR-1 para maio de 2026 deu mais tempo para as empresas se prepararem. Mas o que isso significa na prática? Agora a segurança do trabalho precisa incluir também a saúde mental dos funcionários.

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A nova regra exige que as empresas criem programas para identificar e combater problemas como estresse excessivo, assédio moral, sobrecarga de trabalho e conflitos no ambiente profissional. O prazo legal foi estendido, mas os números mostram urgência: transtornos mentais e comportamentais já foram a terceira causa de afastamento do trabalho no Brasil. Em 2025, dados apontam que os afastamentos por problemas de saúde mental mais que dobraram.

Problemas mal geridos agravam esse cenário, comprometendo a saúde dos trabalhadores e gerando passivos que vão além do cumprimento da norma. Conflitos no ambiente de trabalho não são apenas desentendimentos pontuais. São situações que, quando mal conduzidas, atingem a saúde mental de quem passa boa parte do dia em espaços que deveriam ser seguros e harmônicos.

Divergências com lideranças sobre sobrecarga de tarefas, desentendimentos que ajudam a promover um clima hostil entre colegas, assédio moral disfarçado de 'cobrança por resultados', falta de clareza sobre funções que gera tensão constante são apenas algumas das recorrências. Uma hora corpo e a mente cobram o preço. O trabalhador leva isso para casa, perde o sono, afasta-se de quem ama, adoece.

A questão não é se conflitos vão acontecer, pois eles são naturalmente parte das relações humanas. A questão é: o que fazemos quando eles surgem? Ignorar ou usar mecanismos que permitam que diálogo, escuta e resolução de problemas sejam pautados antes que vire adoecimento?

Esse cenário não afeta apenas quem sofre diretamente. A rotatividade aumenta, os afastamentos crescem, processos trabalhistas começam a surgir e equipes inteiras ficam desmotivadas. O custo humano vem primeiro, e, em alguns casos, será irreparável. Já o custo empresarial vem como consequência inevitável. Mas há caminhos para onde ir.

Práticas adequadas de resolução de conflitos, como mediação, conciliação, e a existência de canais de escuta que funcionem não são 'benefícios corporativos' ou diferenciais competitivos, mas uma premissa pautada fundamentalmente também pela comunicação não violenta. No contexto da saúde, são ferramentas intrínsecas à dignidade no trabalho. Quando uma empresa investe nesses mecanismos, está dizendo que problemas relacionais existem, merecem tratamento sério e que divergências podem ser resolvidas sem destruir pessoas no processo.

O impacto vai além dos muros da organização. Trabalhadores que têm conflitos resolvidos de forma justa e respeitosa voltam para casa mais inteiros, mantêm vínculos afetivos preservados, conseguem, de fato, viver. Empresas que priorizam essas práticas contribuem para uma sociedade menos adoecida e judicializada, mais capaz de lidar com o trabalho. A NR-1 tornará isso obrigatório no próximo ano. Mas a urgência já existe. E não precisa dela para começar.

Advogadas especialistas em gestão de conflitos e sócias da Unniversa Soluções de Conflitos*

 

 

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Por Opinião
postado em 18/12/2025 03:30
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