Joias de Pixinguinha podem ser vistas e ouvidas em exposição e show

De hoje a domingo, o grupo Sexteto do Nunca, liderado por Henrique Cazes, apresenta show no CCBB com 26 composições inéditas de Pixinguinha

Irlam Rocha Lima
postado em 01/04/2022 06:00
Integrantes do sexteto  que toca no espetáculo  Pixinguinha como nunca    -  (crédito:  Marília Figueiredo/Divulgação)
Integrantes do sexteto que toca no espetáculo Pixinguinha como nunca - (crédito: Marília Figueiredo/Divulgação)

Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, não chegou a se apresentar em Brasília, nem mesmo nos saraus que o presidente Juscelino Kubitschek promovia no Catetinho, nos primórdios da nova capital. Mas, coube à cidade, mais especificamente o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), o privilégio de acolher uma histórica exposição com o acervo do mestre, em 2012, que ocupou nada menos que 12 salas da instituição.

De amanhã a domingo, às 19h30, o brasiliense poderá apreciar 26 composições inéditas do genial artista brasileiro, reunidas no show Pixinguinha como nunca. O espetáculo, protagonizado por um grupo instrumental formado por seis músicos, conta com a participação especial do cantor Marcelo Vianna, neto do homenageado.

Intitulado Sexteto do Nunca, o conjunto liderado pelo cavaquinista Henrique Cazes (responsável também pelos arranjos), tem em sua formação alguns dos mais importantes instrumentistas da cena musical carioca: Carlos Malta (flauta e sax), Silvério Pontes (trompete e flugelhorn), Marcelo Caldi (sanfona), Marcos Suzano (percussão) e João Camarano (violão 7 cordas). Amanhã, após a apresentação haverá um bate-papo com os músicos sobre o modo composicional de Pixinguinha e os arranjos criados para os temas."Os arranjos fogem da característica nostálgica da música da época, ao dar ênfase à perene modernidade do gênio do choro", ressalta Cazes.

De acordo com o cavaquinista, Pixinguinha como nunca nasceu da pesquisa que ele e Marcelo Vianna fizeram entre 2015 e 2017 de parte parte do material, garimpado pelos pesquisadores José Silas, Marcílio Lopes e Paulo Aragão. "Inicialmente, utilizamos na aula-espetáculo Pixinguinha Cinco Estações, sobre a vida e a obra do compositor, apresentada em algumas cidades do país", conta. "Pixinguinha é uma figura mitificada, adorada, mas sua produção musical em si é pouco estudada", acrescenta.

Para o show que estreou no CCBB do Rio de Janeiro, foram selecionadas 26 das 50 inéditas que resultaram da pesquisa. Segundo Cazes, falar em 50 inéditas parece sub-notificação. "Pixinguinha entregava partituras sem cópia para músicos amigos, por exemplo; assim como orquestrações ficaram dispersas. O baú ainda reserva surpresas", acredita.

Lembro-me do passado, Para não te esquecer, Feitiço, Modo de olhar e Um dia qualquer são algumas das músicas que estarão no repertório do show de hoje. Nas apresentações de hoje, amanhã e domingo o público ouvirá, entre outras, Poética, Pato de cabidela, As harmonias do mocinho, Paraibana, Foge de mansinho, Amor sertanejo, Saudades do cafundó e Pela última vez.

Entre essas músicas inéditas há, além de choro, samba, maxixe, polca e valsa, ritmos nordestinos como xote, coco, frevo e até tango argentino. "No encerramento de cada show, para estabelecer uma comunhão maior entre palco e plateia, tocaremos o clássico Carinhoso, tido como o hino não oficial brasileiro", complementa Cazes.

Em maio, os músicos levarão o projeto para o estúdio, onde gravarão quatro discos, com os seguintes títulos: Pixinguinha na roda, Pixinguinha virtuoso, Pixinguinha canção e Pixinguinha internacional. Na avaliação do cavaquinista, alguns fatores foram determinantes para que muitas músicas do compositor tenham ficado escondidas do público. Como boa parte foi composta no final da década de 1930, o preconceito racial pode ter sido um desses fatores.

Pixinguinha como nunca

Show com um sexteto instrumental e participação especial do cantor Marcelo Vianna, de hoje a domingo, às 19h30,no teatro do Centro Cultural Banco do Brasil (Setor de Clubes Norte). Bate papo com os músicos após a apresentação de amanhã. Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia entrada). Classificação indicativa livre. Informações: 3108-7600.

  • 2022. Crédito: Marília Figueiredo/Divulgação. Cultura. Espetáculo Pixinguinha Como Nunca, no CCBB Brasília. Na foto, Sexteto do Nunca.
    Integrantes do sexteto que toca no espetáculo Pixinguinha como nunca Marília Figueiredo/Divulgação
  • Pixinguinha tocando Saxofone: o acervo do compositor tem preciosidades Divulgação/JCom/D.A Press
 

Entrevista /Marcelo Vianna

Você esteve ao lado de Lu Araújo na montagem da exposição com o acervo de Pixinguinha no CCBB aqui em Brasília, em 2012. Que lembrança guarda daquela mostra?

Sim, a exposição realizada no CCBB em 2012 foi marcante porque trazia muitas informações importantes, atualizando e iluminando um acervo fundamental em nossa história. Idealizei, assinei a direção artística e realizei essa exposição com a Lu Araujo (curadora) e o Caio Cezar (direção musical). Ficou tão linda e moderna que deu vontade de dispor de um espaço físico Pixinguinha para tê-la em exposição permanente. Essa exposição foi a mais bem feita até hoje, pois trazia uma atmosfera muito interessante e artística dele. Conseguimos ali um resultado promissor.

Após a exposição realizou outros projetos?

Ao longo da minha vida artística, sempre realizei projetos sobre a obra do meu avô, idealizando e atuando, trazendo um olhar de dentro e de fora. É uma alegria danada fazer isso.Quando se fala sobre Pixinguinha, mergulhando no seu universo, temos de estar concentrados porque cada nota nos leva a muitos lugares. São muitos caminhos que se abrem. Ele propunha muito, o tempo inteiro. Então, a leitura é ampla, rica. Ele nos permite esse voo.

Foi decisão da família deixar o acervo de Pixinguinha sob a guarda do Instituto Moreira Salles?

A obra é gigantesca, com composições e arranjos para as mais variadas frentes musicais. Pixinguinha atuou em orquestras, conjuntos em que era bandleader, rádios e propôs vários formatos, adequando-se ao tempo, espaço, de acordo com o que era preciso para a sua arte acontecer. Então, depois disso tudo, por incrível que pareça, ainda existem músicas que não foram tocadas, nem executadas no rádio, além de partituras. Foi revelado um repertório totalmente inédito. Essas músicas estavam dentro do baú mágico do meu avô, que, papai, Alfredo Vianna, guardava. O acervo foi levado ao IMS (Instituto Moreira Salles) do Rio de Janeiro para ser tratado e digitalizado. O trabalho realizado por eles, nas músicas inéditas, terminou recentemente. Agora foram reunidas numa série de shows que depois de apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro e de São Paulo vai ser apresentada no CCBB de Brasília.

Como foi a participação de Henrique Cazes?

Henrique é da família. Considero-o um filho musical do meu avô. Não só pelos trabalhos realizados em sua obra, como também, por dar sequência a uma linhagem musical que é a nossa história. Ele trata e realiza isso com propriedade ancestral. Ele é meu amigo e sempre me observou nos projetos que fazia. Eu também o observava. Nos juntamos em 2015 para uma série de aulas-espetáculos intitulada As Cinco Estações, em que aprofundamos os conhecimentos e nossa amizade, além da admiração mútua.

Em seu trabalho de cantor há predominância de composições de Pixinguinha?

O meu disco de estreia em 2002 foi Teu nome, Pixinguinha, em que trazia algumas músicas inéditas que receberam letras de Paulo César Pinheiro, especialmente para o projeto. Mas a presença do repertório do meu avô na minha carreira não configura como predominante. O meu segundo disco, Cai dentro, foi para revisitar e trazer à luz o repertório de Baden Powell, um cara que foi parceiro do meu pai, Alfredo Vianna, em início de carreira. Esse músico, violonista extraordinário, foi quem me provocou a cantar.

 

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