Televisão

O universo da contravenção e corrupção policial explorado em série

'Lei da selva — A história do jogo do bicho', do Cineasta Pedro Asbeg, é exibido no Canal Brasil. Obra apresenta, didaticamente, como o jogo do bicho é assimilado na cultura do Rio de Janeiro

Ricardo Daehn
postado em 03/05/2022 06:00
 (crédito:  Canal Brasil/Divulgação)
(crédito: Canal Brasil/Divulgação)

Na extensa convivência com o jogo do bicho despontam dados incontestáveis, na análise do cineasta Pedro Asbeg: da corrupção da polícia à lavagem de dinheiro, uma gama de contravenções se empilha, pelo que ele destaca — desde a contratação de matadores de aluguel até o uso "da capa de inocência que se carregou, por anos, para espalhar violência pela cidade". A possibilidade de sonhos, a partir do preenchimento de um bilhete, descortinou a atenção de Asbeg para incontáveis variáveis de temas que compõem a série Lei da selva — A história do jogo do bicho, no circuito com exibição no Canal Brasil. O painel apresentado revela disputas de território, poder e dinheiro. Distante de empreender julgamento moral, o diretor conta que pretendeu "mostrar que as fronteiras entre legal e ilegal, visível e invisível, no bicho, são tênues e que, por isso, é tão fácil conviver com o jogo".

Em defesa da atualidade do assunto, que teve estrutura originada há 130 anos, Asbeg indica o fato do jogo do bicho fazer parte do imaginário popular do Rio de Janeiro e a sempre renovada curiosidade por temas como violência, corrupção e crime, além fato de o bicho se moldar à modernidade, a fim de sobreviver. "O jogo, hoje, é super atual e atuante, porque já não é mais o jogo em si. Ele está nas máquinas de caça-níquel e ele é sócio da milícia", destaca. Num "processo tranquilo", Marcelo Adnet emprestou o sotaque carioca e os conhecimentos do tema, tido como a pessoa ideal para narrar a série.

Didaticamente, o enredo descreve a feitura do jogo, avança por relatos de urbanistas, sociólogos, historiadores e demarca as estratégias para a centralização dos negócios advindos com o bicho. Na narrativa, são examinados periódicos que tinham direito à coluna com pais e mães de santo indicando palpites de bicho. O combate à paixão pelo jogo que desfiava a "ludicidade do pobre", em oposição à cópia carioca de estruturas antigas que acatavam a vanguarda europeia, entregue ao remo, ao turfe e à tourada. Tudo isso é narrado. "Na verdade, houve tentativa de branqueamento no início do século 20, que não era apenas associada ao bicho mas a todas as formas de manifestação cultural dissociada ao que fosse europeu ou que embasasse popularidade: o samba, o carnaval, as religiões de matriz africana e o bicho", avalia o diretor da série, lembrado pelo trabalho em obras como O negro no futebol brasileiro e Meu amigo Bussunda.

Até culminar em temas que tocam o assassinato da vereadora Marielle Franco, a série (com episódios lançados, às sextas), presente na Globoplay, com quatro horários alternativos, destrinça o teor circense para o marco zero do bicho, lançado para financiar jardim zoológico de Vila Isabel.

 

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